quinta-feira, 1 de abril de 2010

Uma reflexão sobre câncer


Câncer, além de ameaçar a vida de uma pessoa, também deprime, mas os diagnósticos são cada vez mais precisos. Vive-se um bom tempo. O adjetivo bom é terrivel. Os percentuais de cura são crescentes, mas os números incomodam. Quando começa a doer é que o sinal de perigo está dado. Qual o ânimo? Protagonista ora está mal... Teve recaída? Vem a intensificação espiritual. Paciente tem a dor ontológica do tempo, da passagem, o outro lado, a morte. Surgem ou retornam as religiões, os medos, o fim, a eternidade, as culpas. Há pacientes de câncer, entretanto, que encaram a morte anunciada com humor, debocham dela e revelam as coisas mais picantes do passado. Há períodos do tratamento em que pacientes abraçam a euforia, uma opção mais luxuosa, fazem revelações mais picantes do passado. A vida terminando numa memória turbilhonada como cinema. Um minuto, e fui. Surpresas em inventários e testamentos. Como contextualizar os momentos finais de cada paciente? Câncer, praticamente todo mundo vai ter um dia. Somos em tempos diversos pré-paciente, paciente, pós-paciente, impaciente e cadáveres.
Por Alfredo Herkenhoff