quarta-feira, 22 de abril de 2009

África do Sul: Zuma eleito. Aids mata negro. Branco foge

Jacob Zuma chefiando país onde a Aids ameaça matar mais negros do que total da minoria branca

O candidato Zuma é favorito para ganhar a eleição presidencial na África do Sul nesta quarta-feira. Zuma é um ex-guerrilheiro, ativista histórico do tempo do regime do apartheid. Zuma viveu no exílio, nunca frequentou escola e agora é comparado a Jesus Cristo como libertador na galeria de nomes simbólicos como o velho líder Nelson Mandela, que lhe dá apoio. O favorito Zuma foi acusado de cobrar propina no governo, de estupro etc, ou um total de 16 acusações de corrupção, todas arquivadas às vésperas da eleição.

A força de Zuma vem de sua biografia e do partido que chefia, o Congresso Nacional Africano, o grupo guerrilheiro que enfrentou com sacrifícios e martírios terríveis a sanguinária ditadura racista. O CNA venceu todas as eleições desde o fim do apartheid há cerca de15 anos. Dissidentes do CNA criaram o partido Congresso do Povo, meses atrás, mas a agremiação não vingou nos corações e mentes. O partido Aliança Democrática é que deve ficar em segundo lugar nesta eleição, mas a sua candidata é branca, atual prefeita da Cidade do Cabo e que reconhece que agora só pensa em crescer regionalmente. Sonhos mais altos só para o futuro.

"Ser oposição na África do sul é difícil", diz Renato Ribeiro, correspondente da Globo na África e que está cobrindo a eleição presidencial com empenho e dedicação.

É curioso ver na história recente da África do Sul como os mesmos heróis da luta contra o regime racista se envolvem em escândalos sexuais com facilidade.

Zuma, segundo Renato Ribeiro, poderia ganhar a eleição sem precisar ser comparado a Jesus Criso, mas com um simples libertador como Nelson Mandela. Zuma tem a chancela de herói e combatente contra a escravidão dos negros. Esta condição e a máquina do governo garantem a vitória.

Apesar de o CNA estar sempre com apoio maciço da população, seus sucessivos governos tem produzido contradições e dramas sociais. A África do Sul tem 48 milhões de habitantes, é um país orgulhoso por ter sido escolhido para sediar a Copa do Mundo da Fifa em 2010. O país também se orgulha de seus heróis que lutaram contra o apartheid.

Mas é uma nação de terríveis desequilíbrios. Há milhões de pessoas vivendo na miséria. O Instituto Sul-Africano de Relações Raciais afirma que o número de habitantes que vivem com menos de um dólar por dia duplicou nos últimos dez anos, o que supõe mais de 4 milhões de pessoas.

Segundo reportagem de Renato Ribeiro no Jornal da Globo de terça-feira, os brancos são apenas 9% da população (ou menos de 5 milhões). Mas os brancos estão diminuindo. Cerca de 800 mil brancos deixaram o país nos últimos dez anos.
O crescimento da pobreza no país mais rico do continente se deveu ao aumento do desemprego e do subemprego, que atingem cerca de 40% da população economicamente ativa, segundo estudos privados, embora a taxa oficial seja de 24%.

O vírus da Aids está em mais de 5,5 milhões de pessoas. Morrem por ano 365 mil sul-africanos por causa desta síndrome que no continente é praticamente uma epidemia. Se morrem cerca de mil pessoas por dia, em dez anos, nesta projeção, morreriam quase 4 milhões de Aids, doença atingindo na imensa maioria a maioria negra. Não é difícil imaginar que, num espaço de duas décadas, a maioria negra terá perdido mais irmãos negros do que o total da população branca que tanto os explorou, humilhou e discriminou ao longo dos séculos.