segunda-feira, 20 de julho de 2009

Correio da Lapa e Petróleo - Post de 25 de abril 1/3

Petróleo barato no mundo, Pré-Sal, Royalty (1 de 3)

Petróleo barato para sempre. Os preços vão continuar caindo. A produção do Pré-Sal só se viabiliza daqui a muitos anos. Escândalo dos royalties na ordem do dia.

Por Alfredo Herkenhoff *

O mercado do Pré-Sal no estilo atual é fantasia do querido PT, a ser verdade a reportagem de capa da revista Newsweek da semana passada, cujo título é Cheap Oil forever, why prices will keep on falling, and falling (Petróleo barato para sempre! Por que que os preços vão continuar caindo e caindo...), assinada pelo jornalista Ruchir Sharma. O autor surpreende mostrando que os preços da commodity estão em declínio há 200 anos.

A Bank Credit Analyst, empresa de pesquisa em Montreal, tem dados constatando que os preços de commmodities industriais estão 75% menores do que em 1800. O motivo dessa redução, sempre constatada depois de descontada a inflação de longo período, decorre de avanço tecnológico e maior eficiência em diversos setores de energia e produção industrial. O preço do petróleo, em 2009, é o mesmo das cotações de 1976, sempre tirando a inflação de lá para cá, e é o mesmo de bem antes, o mesmo preço da distante década de 1870, quando os Estados Unidos começaram a massificar o uso do mineral preto.

Japão e Europa cresceram firmemente na década de 1980, embora o consumo de óleo tenha permanecido estável em ambas as regiões graças à melhor eficiência no uso do combustível e graças às fontes alternativas como as usinas nucleares. De forma semelhante, diz Sharma, 90% do crescimento da nova produção e uso de petróleo, desde 2004, envolvem biocombustíveis, óleo sintético e gás natural liquefeito.

Na medida em que os países enriquecem, o consumo per capta deles de commodities declina. A reportagem diz que é um mito que o boom na China e Índia vá puxar sempre para cima o preço do petróleo. Os anos 80 e 90 foram de relativamente forte crescimento na China, média de 9%, mas os preços não acompanharam o crescimento. A cotação nunca passou de 40 dólares o barril no período.

A razão é simples, prossegue a revista americana: sempre que o preço tem uma alta escandalosa, consumidores reduzem o consumo ou fazem um esforço heróico para encontrar energia substituta.

Apesar disso, o mercado continua apostando que os preços vão subir bem nos próximos anos. O preço de futuro, para entrega do produto em três anos, está hoje em 70 dólares o barril, contra a atual cotação de 50 dólares o barril no mercado spot, à vista. Alguns analistas prevêem até 90 dólares o barril para entrega em 2012.

A China representa hoje 10% do PIB mundial, mas tem consumido de 25% a 50% de diversas commodities industriais dos países exportadores. Segundo a Newsweek, isso é insustentável. A China consome 9% da produção global de petróleo.

Curioso é que a ampla reportagem da Newskweek, com data de 20 de abril, diz que novos campos são descobertos e os melhores ainda estão tampados ou não estão sendo ainda explorados. Ou seja, há petróleo farto e alternativas por muitas e muitas décadas. Mas na mesma edição
há uma entrevista com Jim Rogers (que fundou o Fundo Quantum com o financista George Soros), concordando que os preços cairão no longo prazo, mas lembra o investidor a velha máxima keynesiana: "No longo prazo, todos estaremos mortos".

Rogers diz que não houve nenhuma grande descoberta de petróleo nos últimos 40 anos, sem nada mencionar da aparição por exemplo do Pré-Sal. Sharma também não menciona o Atlântico Sul, mas fala de constante descoberta de campos e dos vários que não estão sendo explorados.
Então a última grande descoberta segundo Rogers teria sido a do Mar do Norte praticamente já em fim de linha de produção? Não ficou claro. Sharma enfatiza o mercado ao longo da história. Ouro é a commodity de exceção nessa constatação de redução de preços descontando-se a inflação acumulada em longos períodos de tempo. E curioso também é que na mesma edição Rogers diz que o petróleo, apesar da queda atual e histórica, ainda é "ouro negro".

Sharma começa o texto dizendo que acabou a ilusão de que o crescimento da economia no mundo inteiro seguiria um curso inexorável para cima e que os preços de moradias continuariam também crescendo indefinidamente de Miami a Bombaim.

(continua nos próximos dois posts)
* Contato: alfredoherkenhoff@gmail.com
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