segunda-feira, 6 de julho de 2009

Aprende-se mais no CdL do que em curso de Comunicação. Coluna 7/ 7


Uma pessoa ligada no fenômeno da comunicação, ou um jovem desesperançado por não precisar mais de diploma - de que valeram tantas despesas para buscar o canudo? -, se se debruçar sobre determinados endereços, como este Correio da Lapa, absorverá em seis meses, e o CdL só tem quatro de vida, mais cancha e melhor conteúdo do que durane um semestre de currículo de muita faculdade caça-níquel espalhada por aí. O motivo é simples: aqui não se apregoa cristal da Boêmia, não tem culto à verdade tantas vezes disfarçada de "verdadeira opção ideológica". Aqui a verdade é um estado libertário de "crítica crítica". Aqui o editor diz: acabei de inventar uma bobagem. Invente uma melhor. Aqui é território da liberdade, informação sem controle. Mas nunca esquecer: escreveu, não releu, o pau comeu.

Gota d'água num oceano de 130 milhões de blogs espalhados pelo mundo - espalhados apenas enquanto origens de manifestação na ferramenta virtual, mas um verdadeiro Aleph enquanto "Oceano do Tudo", tudo a portata di mano de qualquer internauta em qualquer lugar -, o Correio da Lapa, como tantos espasmos de peixe na rede, busca emergir neste mar de variedades e, no meio dessa luta, bota a própria nudez de fora, a sua própria e a de Sabrina, a de Madonna, a de Angelina Jolie, a de Norminha, a das “veline” de Berlusconi.

Bota John Donne o Correio, bota a cachaça Paraty na Flip 2009 o Correio, bota as barbas de molho o Correio, ataca a Rede Globo o Correio, frisando, porém, ao mesmo tempo, que é a melhor televisão de todas, é essencial para o Brasil e, em especial, para o Rio de Janeiro.

Este CdL jamais deixa de elogiar e criticar por pressão ou recomendação. Criticar é quase sempre um exasperar terceiros e exasperar-se. Elogiar, quando não se trata de mero afago, é uma reflexão quase sempre mais difícil. Criticar ou elogiar, tanto faz, exigem sempre ato deliberado de reflexão, simplicidade complexa.

É condição sine qua non gerar a surpresa no ato de produção de cultura. Produzir informação é também uma forma de multiplicar espantos, seja com reflexões inéditas sobre passados milenares, seja especulando antiguidades em cima de suposições sobre o que vai ser amanhã. E claro, sempre estampar o insólito, o pior e o melhor do inesperado de hoje ou logo mais.

A normalidade, a previsibilidade, os horários, as programações, tudo isso tem seu valor no nosso cotidiano, ajuda a organizar os nossos passos nas próximas horas. O jornalismo é universalista. Por parecer não ser específico, nunca demandou diploma de fato, afora no Brasil num curto período de cerca de 30 anos.

Ao largo da polêmica decisão do Supremo, dispensando de vez o diploma, de fato o canudo já estava morto pela prática diuturna em blog, email, orkut, twitter, celular, site etc. A internet fez de todo mundo um repórter, menos ou mais sofisticado, menos ou mais informado ou informador, menos ou mais sensível, mas todo mundo como polo de emissão de manifestações, mensagens, relatos, apresentações, fotos, vídeos, teatro, cinema, arte.

Mas como fazer emergir uma gota e torná-la visível num oceano tão infinito quanto a internet? Não há resposta pronta para tal questão, não há receita, há reflexões sobre reflexões anteriores. O bom jornalismo sem diploma dispensa a insegurança de quem acha que o canudo é indispensável.

Sobra esperteza no mundo, sempre sobrou. O leão é feito dos cordeirinhos que digere. Sobra vulgaridade, mais hoje do que ontem. Em caso de emergência, anuncie que Barack Obama morreu. Se a calçada é um marasmo, socorra o cachorrinho perdido. Se navegar na internet estiver excitante ou excitando excessivamente, pare num poema, seja numa frase espirituosa de Millôr Fernandes, seja no Odisseia de Ulisses do enigmático Homero. Ou pare onde o começo parece não ter mais fim, aqui no nosso Correio da Lapa.

O Cdl nasceu para ser arquivo. O melhor e o pior, tudo arquivo, as surpresas quase perdidas estão logo ali, aqui, e é tão fácil clicar e encontrar. Amanhã também quase perdido estará este pequeno imenso post, este que será, já é, apenas mais um dos cerca de mil títulos exibidos em 130 dias de existência deste blogue-jornal.

Por Alfredo Herkenhoff
Fim
Rio de Janeiro, 6 de julho de 2009