terça-feira, 23 de junho de 2009

Sarney perde o controle do Senado em crise?

Será que este Senado ainda é

necessário à República?

Correia da Lapa - Notícia comentada (*)

Senadores ganham altos "salários" e sempre tiveram mil benefícios, ajuda de custo disso e daquilo. Só não se imaginava que escondessem da sociedade as mordomias mais deliciosas como dinheiro e viagens a passeio...

Por centenas de atos secretos, a Casa com menos de oito dúzias de senadores tem cerca de 300 pessoas ganhando de fato mais de 30 mil reais por mês, o que é ilegal e imoral. Segundo o Estado de S. Paulo, edição desta terça-feira 23 de junho de 2009, atos secretos envolvem 35 senadores.

Ato secreto é autorização de gasto escondida de todos, despesa efetuada, mas não publicada apenas para, numa sem-vergonhice, evitar o escândalo que só agora não mais evitou.

Motoristas, barbeiros, cabineiros, todo mundo é importante no Senado. A Constituição Cidadã só se esqueceu dos médicos, professores e milhões de pacientes dos hospitais públicos. Vinte e um anos depois, Cidadã... O estatuto do idoso, do menor, do consumidor e muito mais... Tudo bonito para Ong aparecer no jornal, para MP aparecer no jornal, para o jornal aparecer no jornal, mas, de fato, é toda hora velhinho levando solavanco em ônibus ou ficando a pé no ponto sem motorista que pare; toda hora fila e tragédia nos hospitais; o que rola é um paí com hábitos cada vez mais grosseiros, num desrespeito à vida, ou respeito apenas para os que têm, além da própria vida, proteção armada, seja do do Estado, seja de seguranças particulares, ou respeito à vida apenas de gente que tenha a ousadia de achar que dá para continuar neste rodamoinho cotidiano de falsas promessas e excelente impunidade.

Ascensorista ganha doze mil? Médico no Rio de Janeiro em hospital público ganha quanto? Você quer ser operado por um mordomo ou motorista de senador? Talvez seja melhor... No Senado ninguém precisa de diploma para ganhar bem. Basta ser amigo dos senadores. E quando os políticos ficam doentes - eles e seus parentes -, nós pagamos tudo com impostos, pagamos viagens para aliviar o stress ou para que operem com médicos dos melhores hospitais particulares de São Paulo.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse que tomou as providências para acabar com as irregularidades na Casa. O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) questiona Sarney pela administração em meio ao escândalo de quase 700 atos secretos, a maioria relativa a gastos dos próprios senadores. Os da Oposição também são gastadores. A mordomia não é exceção.

Sarney disse que não foi eleito para limpar o lixo. Então não vai limpar? A cozinha é o plenário,
ali é bem perto da lixeira, é ali que o caldeirão está fervendo, como aliás nunca ferveu tanto numa modesta segunda-feira, véspera do Dia de São João.

- Julguei que eu fosse eleito presidente para usar e presidir, politicamente, essa Casa, e não para ficar submetido a procurar a despensa ou a limpar o lixo das cozinhas da Casa - disse o representante do povo do Amapá, coirmão de agruras do povo do Maranhão. Nunca a Serra do Navio esteve tão agitada. O navio subiu no telhado leve como o manganês, feliz como o milionário Eike Batista, que por ali também faturou.

O diretor-geral do senado, Agaciel Maia, foi afastado do cargo como também o diretor de Recursos Humanos, João Carlos Zoghbi. Mas não foram demitidos. Demitir é processo lento e burocrático. Corrupção no Brasil tem muitos direitos. Seriam os dois os principais responsáveis pelos hediondos atos secretos? Oh! parlamentares, fazem-nos rir ou chorar de raiva. Arthur Virgílio acusou Agaciel Maia de chantagear senadores para abafar investigações. Virgílio disse que ambos são "ladrões". As acusações de chantagem envolveriam como vítimas Eduardo Suplicy e Cristóvao Buarque.

Sarney, que chegou ao cargo agora, recentemente, em fevereiro passado, lembrou que já mandou fazer uma auditoria geral nos contratos de compras e prestação de serviços.

“Ninguém teve surpresa maior do que eu quando se disse que tínhamos atos que não eram publicados. Eu não sabia disso, nunca pensei que existisse isso aqui nesta Casa. Quero dizer à Casa que fique tranquila porque ninguém vai acobertar ninguém, nem evitar que qualquer pessoa seja punida como deve ser, disse Sarney no plenário. Mas quando Sarney se ausentou por um instante, o senador Cristóvão Buarque sugeriu que o representante do Amapá se afastasse do cargo de presidente por alguns meses.

Ainda não pesa nenhuma acusação direta a Sarney. Mas ele faria sim um bem pedindo para sair da presidência porque pesam dúvidas no seu clã político, especialmente sobre a sua filha Roseana Sarney, que é governadora do Maranhão não por eleição popular, mas por votação do Supremo, que cassou o médico pedetista Jackson Lago mês e meio atrás. Sarney negou que Roseana mantivesse em sua casa um mordomo pago pelo Senado. Doze mil por mês. Só essa defesa já surge eivada de suspeição.

O funcionário Amauri, apontado como mordomo pelo Estadão, é apenas motorista noturno do Senado. Doze mil por mês. Sarney reconheceu que "a parte relativa à administração" do Senado "realmente tem defeitos, vulnerabilidades imensas".

O falecido Tancredo Neves dizia que toda vez que o poder público não quer examinar alguma coisa, cria uma comissão. Estará faltando uma CPI do Ato Secreto? Ou estará faltando uma discussão pública sobre reforma política? Será que vale a pena discutir como extinguir constitucionalmente esta casa? Como fazer uma faxina em regra se quem faz as regras são eles, senadores? Os parlamentares parecem acreditar que a crise não é com eles, mas com o escalão bem remunerado que os serve. Doze mil por mês. Não, isso é escalão inferior. Os que servem mais ganham acima do teto constitucional. Estes têm diploma.

Os jornalistas com diploma estão protestando contra o Supremo e, ao mesmo tempo, diante da crise no Senado, estão morrendo de rir, riso esgarçado de uma classe moribunda, a nossa. Proíbam-se as faculdades de comunicação e revoguem-se as disposições em contrário.

(*) - Por Alfredo Herkenhoff