quinta-feira, 28 de maio de 2009

Europa Urgente. Estupro da ultima terrorista irlandesa - Literatura? Conto?

Totalmente nua, sorridente, revirando olhos grandes e azuis, balançando o cabelo com um natural mix blond pleno de mechas, algumas já brancas pela idade balzaquiana, outras ruivas, numa sensualidade tórrida, pele alva exalando desejos de prazeres tropicais, e era ela apenas um conjunto de política de virilhas, um esplendor de formas e pelame com a marca irlandesa, a mais radical comunista católica pedindo penetração anal ao grupo de homens que a torturava, num delírio depois de derrotada a sua última célula de guerrilha das ruas pós-modernas de uma Belfast em paz no século 21.


Feita prisioneira temporã por sonhar, por lutar no afã de ressuscitar o Ira, o grupo armado, sozinha numa solitária, sessão que nem o Marquês de Sade ousara imaginar para a mais beata das freiras, ela estava também capturada por uma convicção própria: iludir as dores pedindo aos algozes gozo e que também gozassem, que fizessem de seu corpo de mulher um teatro de operações na última guerra suja da província britânica, e que a magnificência exuberante de suas carnes femininas e generosas fosse fruída como economia farta, socialismo partilhado de fato na vitória do mercado em crise financeira neoliberal global, e que a sua condição de fêmea fosse mera geografia animal para o instinto macho, achando-se ela pronta para receber todos os obuses do tráfico e drillers da exploração off shore já inútil no Mar do Norte. E que embutissem nela os erros eróticos dos vencedores em suas ambições desmedidas de não apenas derrotar ou vencer, mas subjugar física e mentalmente a ousadia de sonhar com uma velha liberdade cristã, sonhar com aqueles preceitos de amor e caridade para unir toda a humanidade independente dos ritos das religiões rivais.



Nesta sua última luta para se salvar não como mulher, não salvação individual, mas como salvação da própria fé, na undécima hora da execução iminente, a mix blond ruiva mais bonita e terrorista acima do Canal da Mancha tentou um inédito recrudescimento de instintos de fornicação procriativa, qual macaca traindo o chefe do grupo, buscando o sêmen de todos da ninhada policial quase ao mesmo tempo.



Nesta busca da última tacada na caçapa da memória do desdém, a última prisioneira-membro do Exército Republicano Irlandês sonhou, ao primeiro penetrar dos cinco homens na fila, que ao primeiro orgasmo os outros quatro aguardando morreriam, e o prédio em que estavam todos desabaria, porque ela, abençoada na doação final, explodiria como uma supergranada, uma bomba em que fora recém-transformado o seu ventre por desígnios de Cristo.



O desprezo de si própria assumido por ela pela oferta de estupro anal em série se transformaria numa redenção do suicídio, longe dela qualquer sentimento de eutanásia ou defesa de sacrifício político como o velho martírio religioso. Era apenas uma tática de guerra, porque apesar da extrema solidão, a última guerrilheira da Irlanda não se achava só e sonhava que a vitória estava mais próxima dos corações do que as notícias mentirosas estavam da razão ou dos olhos dos leitores de Belfast.


Nada saiu no jornal.


Fim

Esta crônica pornotática foi perpetrada como um conto vertiginoso, um instantâneo, 15 minutos no amanhecer de uma quinta-feira no Rio de Janeiro, por Alfredo Herkenhoff