terça-feira, 19 de maio de 2009

Rousseff internada. Supremo em crise. Madoff. Cacciola. Flamengo. Sonhos

Sonhos de Dilma Rouseff, da Sadia Perdigão, do futebol, de Madoff, de Cacciola, dos juízes do Supremo... Sonhos de liberdade e prosperidade...

Dilma Rouseff, mialgia, dores lancinantes decorrentes da quimioterapia. Tomou até morfina... A barra do tratamento lhe é pesada...


By Alfredo Herkenhoff

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, passou mal na noite de segunda-feira, com fortes dores nas pernas. Médicos em Brasília não tiveram dúvida: pegue um jatinho e vá para São Paulo. Foi internada às três da madrugada desta terça-feira, 19 de maio, e entrou no Sírio Libanês em cadeira de rodas, fez ressonância, pelo menos não era uma trombose.

Dilma, nomeada por Lula para tentar sucedê-lo na Presidência da República, operou câncer linfático em abril e anunciou a doença em grande estilo menos de um mês atrás. Dilma já passou por muitos perigos na vida de ex-guerrilheira contra a ditadura, e passou já agora por duas sessões de químio, a barra é pesada. Mas não fraqueje. Seus sonhos são de muitos.

Boletins do Hospital Sírio Libanês claro não nos informam muito, quase nunca boletins médicos o fazem quando referentes a estrelas da política. Boletins não vão mesmo dizer muita coisa. Nunca dizem. Vamos rezar, e quem não acreditar em divindade pelo menos não rogue praga.

A vida continua: Madoff e Caciola, os únicos encarcerados na crise da jogatina financeira mundial. Sonha o jogador de futebol Juan, sonha o Correio da Lapa, sonham os magistrados do Supremo, sonham os encarcerados com a fuga.

O Correio da Lapa tem futucado mais a crise institucional envolvendo o Judiciário na sua mais alta instância do que o futebol, e o Brasileirão começou quente, apenas Internacional e Vitória da Bahia conseguiram duas vitórias em duas rodadas. Não é bem apenas porque o Flamengo e o Corinthians estão na vice-lanterna, com um ponto cada, um empate e uma derrota, que este Correio da Lapa tem passado ao largo do seu esporte preferido. É mais por mandinga... Sim, é hora de sonhar, mas o futebol rubro-negro, nesses dias de ataque sem gol, tem sido um pesadelo. O lateral Juan, que anda dando coice a torto e direito, só faltou agredir o técnico Cuca, o que quer, o que sonha? Será que Juan vai canalizar o sufoco na partida de amanhã contra o Inter em Porto Alegre, valendo vaga na semifinal da Copa do Brasil?

Hoje sonho é valor, sonhos para Dilma Rousseff se recuperar e ganhar a eleição que Lula não quer pela terceira vez, ele poderia promover uma reforma na Carta, ainda daria tempo, mas não quer atropelar sonhos de tantos na fila da ambição mais alta. Sonhar é direito democrático dos instintos, nem aos encarcerados é negado o direito de sonhar com a fuga, e mais, sonhar com a liberdade.

Magistrados também têm seus sonhos dignos. Zangamos com alguns deles, xingamos até, porque eles já se xingam em plenário, sim, eles sonham alto. Mas não dá para negar, os ministros estão atentos aos autos, às leis, suas filigranas, à defesa do direito de defesa. Isso vale para qualquer juiz no mundo inteiro e em qualquer instância. Por isso que no Brasil a maioria encarcerada é de gente pobre e negra. Os pobres não estão atentos aos autos. Nos EUA, a mesma coisa, e lá é mais grave, porque os negros, grosso modo, são minoria bem minoria nas ruas, mas são eles a maioria atrás das grades.

E por estarem atentos às filigranas, magistrados dos Supremos do mundo quase não dão bola para o som das ruas: nessa crise mundial só há duas pessoas famosas encarceradas: o executivo enganador Madoff em NY, e Alberto Cacciola no Ponto Frio, Rio de Janeiro. Cacciola foi o primeiro preso da especulação volátil. Uma crueldade do sistema jurídico que não aceitou o deboche do nouveau riche italiano que, libertado por um habeas corpus do ministro Mello parente de Collor, saiu por aí a festejar, entre quadras de tênis nos jogos de Guga, com gatas na garupa da moto pelas paisagens da Europa e em passeios por Montecarlo. Coitado, pelo menos Cacciola sabe cozinhar bem e fez amizade com presos e guardas do Ponto Frio. Nunca a galera de um presídio no Rio de Janeiro comeu tão bem. O cardápio é cinco estrelas. Cacciola disse em seu livro, Confesso (e confesso que só li a metade, foi editado pela Record), que só acumulou 5 milhões de dólares. Nada mal para quem nasceu pobre numa Milão empobrecida pela Segunda Guerra. Mas o prejuízo do Banco Marka foi maior. O Correio da Lapa sente cheiro de injustiça no ar. Como estarão os sonhos de Cacciola? Madoff sim, este deve mofar na prisão até a morte de muitos sonhos que viraram pesadelo ao se verem empobrecidos, roubados. Prisão perpétua para Madoff, setentão, prisão domiciliar, provavelmente.

Dilma Rousseff continuava internada na tarde deste 18 de maio histórico

A ministra-chefe da Casa Civil ontem despachou no prédio do Centro Cultural do Banco do Brasil, o Palácio do Planalto está em reformas, se reuniu com o vice José Alencar, o ministro da integração, Geddel Vieira, e o presidente do BC, Henrique Meirelles. Ao sentir as dores violentas, foi ao Hospital das Forças Armadas. De lá, jato-ambulância voando para Sampa. Lula, em Pequim, recebendo telefonemas de hora em hora sobre a saúde de sua preferida.

continua