sábado, 16 de abril de 2011

Berlusconi prova que sociólogos do Século 19 tinham razão - Parte 2 de 5

Por Alfredo Herkenhoff
Correio da Lapa – Rio de Janeiro, 16/04/2011

Berlusconi prova que sociólogos do Século 19 tinham razão Parte 2 de 5


A Itália está no centro de uma crise que é muito mais séria do que um simples escândalo sexual envolvendo o presidente Silvio Berlusconi. Muitos outros países também estão mergulhando ou mergulhados nessa crise que é de cultura, com os valores essenciais engendrando uma espécie de ditadura midiática. Todo mundo fala e vê a mesma coisa: House, CSI, Sex and city, Crepúsculo, com o vampiro pedófilo, que tem apenas 100 aninhos e pega uma estudante teen.... 17 aninhos, tal qual a marroquina Ruby, ex-prostituta e quase mordida pelo vampiro político também apelidado na Itália de Il Banana.

 Hoje muito jovem na Itália também quer ser big brother. As meninas querem ser modelo ou apresentadora de TV. E para elas não vale currículo universitário, as notas, os cursos, mas o tamanho dos seios, a beleza do rosto, a roupa de grife, as medidas do corpo e a sensualidade de
gestos, caras e bocas.

 Karl Marx e seus amigos alemães erraram em muita coisa, mas acertaram quando disseram que o burguês, além de dispor da sua própria mulher, em casa, dispunha de toda mulher da classe operária. Hoje o mais rico burguês da Itália, o presidente Silvio Berlusconi, dispõe de toda jovem midiática, sinônimo quase sempre de menina pobre e bonita querendo ficar rica e mais bonita, ou, se possível, querendo ficar famosa e milionária.

 A propósito, o filme cubano Memórias del subdesarrollo, de 1967/68, ilustra bem esse tema tão ancestral e tão atual. Resumo do enredo: um jovem cubano rico e honesto - parece um contra-senso, mas existe sim, decide ficar na ilha comunista ao custo de uma imensa solidão. Sua família e amigos foram para os EUA. E, no aperto, ele se envolve com uma jovem linda e pobre, mas menor de idade. Quase dançou. Os tribunais de execução sumária respeitaram a honestidade do burguês apaixonado pela ilha. O filme não é bajulatório da revolução. Já mostra as primeiras maluquices da turma de Fidel Castro. O filmaço jamais passará em nenhuma grande rede de TV ocidental. Até porque é em preto e branco.

Berlusconi, que usou a sua máquina midiática para parecer bonzinho e empalmar o poder, prometendo baixar impostos e os aumentou, prometendo reduzir o número de deputados em todo a Itália e os aumentou. Prometendo gerar empregos e os reduziu, fez o contrário do que prometeu.

  Ainda assim, Berlusconi detém hoje mais ou menos a metade da audiência ou metade do povo italiano em suas mãos, vendo e ouvindo e acreditando apenas no que ele diz.  Noutras palavras: Berlusconi não dispõe apenas de toda pobre menina midiática. Ele põe nas novinhas e dispõe das velhinhas que não largam a telinha da TV.
(continua)