Massacre em escola no Rio de Janeiro
iguala o Brasil aos EUA
e ao seu pior jornalismo
Quase tão triste quanto a tragédia do psicopata que matou crianças numa escola em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro – dando ao Brasil o status de global player ou irmão siamês do Tio Sam em matéria de doenças sanguinárias do tipo Clube da Luta, está sendo o comportamento jornalístico de nossas principais emissoras de TV. Inconscientemente, e claro, em função da concorrência, colegas de profissão beiram a irresponsabilidade. É a necessidade de não deixar o ibope subir no canal rival. O fato é que as grandes emissoras de TV caíram na carnavalização do massacre de 11 pessoas numa escola comemorando seus 40 anos de existência.
Ora! Meu Deus! Esse tipo de acidente vascular social que leva alguém aparentemente normal a disparar tiros contra crianças indefesas devia receber o mesmo tratamento de suicídios e sequestros por parte do jornalismo. Isto é, a imprensa, num acordo de cavalheiros, deveria esquecer o ibope e se limitar a noticiar o mínimo e friamente.
Quando vejo estrelas do Mundo Cão da TV exalado indignação às pressas, quando vejo os globais de plantão com entradas no ar recheadas de papo com psicanalistas e experts nesse tipo de fenômeno, sinto vergonha de mim mesmo. Estamos sem querer excitando mentes frágeis a protagonizar novo casos.
Muitos adolescentes, adotados ou não, sem pai nem mãe, ou com famílias aparentemente bem estruturadas, muitos loucos, mais velhos e que aparentemente levam a vida na mansidão, são vulcões à espreita de uma manchete eruptiva. Muitos psicopatas ganharam terreno hoje, estão recebendo, agora, inconscientemente, o estímulo inconsciente da mídia para aprontar a próxima chacina.
Estou com vergonha de colegas de imprensa, tão americanizados estamos.
Não se trata de defender nenhuma censura, mas sim de valorizar o recato. Vasos comunícantes, notícias funcionam também como uma sugestão para mentes doentias, mentes a um passo de se notabilizarem como pessoa criminosa a um passo do inferno.
Não, não vou bater na minha mãe nem esfaquear o meu pai. Eu vou aparecer é na Globo e na Record. O resto são rostos com sofrimento pungente, choros naturais dos que perderam estudantes queridos.
A briga pelo ibope hoje me encheu de vergonha. E os políticos são obrigados a fazer parte desse teatro da pior espécie do telejornalismo, estimulador dos novos casos nas manhãs vindouras tão ou mais dolorosas do que a deste dia 7 de abril de 2011. (Por Alfredo Herkenhoff - Rio de Janeiro - Correio da Lapa)