sábado, 21 de março de 2009

Coluna (6) do Alfredo - Correio da Lapa é poesia


Hoje é dia de poesia


Além do capeta e do Inferno, só tenho medo de mulher casada e jornalista. Assim falou FH Vieira.. E esse embalo é só poesia... Porque hoje é sábado. Ouçamos e alçamos a mira da sensibilidade. Acertamos o alvo, o impacto poético, o animus com amor, prazer, descobrimentos, vida, morte, invenção, tempo. Porque hoje é sábado. Por Alfredo Herkenhoff (foto)

Flor do Lácio bombando

Uma pétala é uma pétala é uma pétala é um petardo
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Poema da casa vigiada para o Big Brother Pedro Bial

Estou endoidando. É a angústia do vazio. Parece o fim da vida. Matar um leão por dia entre a loucura e a tranquilidade. Me estresso nessa corda bamba entre a expectativa e a frustração. Querer sair e ter de ficar. É muito sentimento pro meu coração. Saudade, muita saudade. Estou correndo risco atrás dessas grades. Não sei se salvo a relação. Se livro a minha nossa pele. Sinto um calafrio. Eu gostaria de ouvir uma tentação. Ouvir e beijar. Já estou quase fora dessa prisão. Ah! Bial... Não.
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De Boa-Fé

Sonhamos no Catimbó
Nossa fé não tem limite
Sonhamos bem na Curimba
Nossa fé é forte e boa
Sonhamos no Candomblé
Nossa fé é o que é
Sonhamos na sinagoga
Nossa fé está sempre em voga
Sonhamos nas catedrais
Vamos sonhar muito mais
Alegria, comunhão
Embalando a louvação
Festejamos quem é bamba
E quem tem bom coração
Os santos padres orixás
A Mãe Preta Babalaô
Temos Cristo Nossa Senhora
Respeito ao Nosso Senhor
Nossa fé é uma loucura
Loucura de fé e amor
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A vida dá cada porrada na gente
(Papo de velório, esses versos nasceram durante o sepultamento de uma criança adolescente que poderia ter sido João Hélio, o quase-bebê que morreu ao ser arrastado por quilômetros na loucura de ladrões débeis mentais fugindo num automóvel)

Tudo nessa vida é emprestado
E o tempo, como um banqueiro sem pudor, é o nosso pior credor
Mesmo assim a gente pode ser ainda mais feliz
Mas de repente a vida dá cada porrada na gente...
A vida dá cada porrada, não é?

A gente segue em frente porque é impossível não seguir
A gente tem esperança de possuir mais esperança
Que tal tempo e dinheiro no Rio de Janeiro?
E, numa ilusão, embalando fantasias ideais,
a gente espera ter mais saúde,
mas amiúde o que mais se vê é que tudo se esvai

Os que vão primeiro deixam saudades
Quem fica por último ri até que o tempo lhe tire os dentes
Os últimos nem sempre são os melhores
Talvez levem olhares alongados pelo tempo
Talvez levem memórias mais recentes
Talvez levem um passado para um futuro presente

O bom é que aqui todo dia é dia dos jovens,
Somos filhos aprendizes de velhas manhãs.
Viverão muito, até quando, esses jovens? Até quando?
Quando deixarão de ser o que são?
E igualmente estarão, ex-crianças, exclamando:
A vida dá cada porrada na gente, não é?
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Paixão adverbial

Uma apresentação. Um corpo disponível. Inteiramente entregue. Hoje, 30 anos atrás, amanhã. Quando você me lê, sinto a sua pele muito perto da minha, tão perto quanto possível. Por isso o tecido das palavras é absurdamente nosso, pornograficamente só nosso, escandalosamente íntimo.
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Mar de amor

Nunca desmerecer cortesia
nheque nheque, vum-vum-vum, nhan-nhan-nhã
Acreditou no véu de noiva
Na certa quer constelar
Toda estrela foi um beijo
Toda vez que alguém goza
nasce uma onda no mar
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Beijos de língua inglesa

No matter how unhappy my situation appears
I wanna whisper in your ears: I love you
No matter how can I discover
different ways to bring back your love
I can’t accept to stay away from you
No matter how many days I still have in Rio
I can’t accept wasting time
You can save the rest of my life
You must protect your pleasure
because our love is a treasure
When I cry “come on baby: lets go together”
it doesn’t matter whether
the weather is cold or warm
Come on baby to my arms
My chest is hotly yours
I love you always
And that means right now

Tradução do poema anterior Beijos de Língua Inglesa

Não importa quão infeliz minha situação pareça
Quero sussurrar nos seus ouvidos: amo você
Não importa como eu possa descobrir
Meios diferentes para trazer você de volta
Não posso aceitar ficar longe de você
Não importa quantos dias eu ainda tenha no Rio
Não posso aceitar desperdiçar tempo
Você pode salvar o resto da minha vida
Você precisa proteger o seu prazer
porque o nosso amor é um tesouro
Quando eu grito “vem baby, vamos nessa”
não importa se o tempo está frio ou quente
Venha baby para os meus braços
O meu peito é ardentemente seu
Amo você sempre
E isso significa exatamente agora
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Poemeto da Fidelidade

Não me queiras nunca mal
Que te quero sempre bem
Não há calor que sempre dure
Nem chuva que nunca desabe
Mas se o tempo ficar assim
O amor em que me tens
É o eterno que me cabe
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Tristeza real

Eu não era nada e você não existia. Tudo o que hoje somos devemos apenas ao amor. Nasci pra vida no dia em que a vi pela primeira vez na minha frente. Foi tão brilhante, tão fascinante descobrir o que a gente sente.
Mas aquela demora... Era para ir e não fomos. Ficamos com nossas galeras no embalo de outros amores. Você agora é a minha rainha na minha solidão. Sou o mais triste dos reis.
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Rosas nas infinitas linhas do amor


(Dedicado ao vizinho Luís e ao cirurgião
José de Ribamar Sabóia de Azevedo)

Amélia, Ana, Helena, Lúcia e Maria
são Rosas, filhas de Dona Rosinha
Nasceram Helena Rosa, Rosa Amélia,
Rosa Lúcia, Ana Rosa, Rosa Maria
Por nascerem com os sonhos da mãezinha
São todas também Rosinhas
na variação infinita do amor

Bahia, Rio Grande do Sul, Maranhão
Rosas de todo o país no meu coração
Seja Luís, José, Ribamar ou Alfredo
Filho, neto ou pai, tarde ou cedo
caminhar sobre espinhos é natural
quando se canta a vida num Roseiral

Canto pra você
Trabalho por você
Descanso por você
Vivo pra você
Vejo as Rosas do mundo inteiro em você
Não sei o que seria o mundo sem você
Nem um minuto sequer sei o que seria
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Vaidade, Vaidade

A Central do Brasil está repleta de Fernandas Montenegros. Não existe mais essa história de escrever cartinhas profissionalmente como no filme de Walter Salles. Os filhos dos nordestinos estão nas lan houses. O trabalhador que chacoalha no trem como no samba de Chico Buarque pode ser até desplugado, mas sua família gosta da net. O jovem quer ser DJ e artilheiro de futebol. A menina sonha em ser modelo. Silicone é uma realidade diária nas telas da TV. Só se esqueceram, as mulheres, de perguntar se o homem de bem gosta desses peitões siliconados... Daí, Alfredo, caneta em punho no alvoroço da estação, vai ao balcão do Ponto de Encontro e rabisca o que é dado a seguir:

Esboço de Silicone

Mesmo aquelas que ouvem os nossos gritos
para pararem de achar que tem que encher
ainda assim se enchem de mililitros
Pares de geléia ou gelol
Vaidade para inveja de outras vaidades
Seios duros, borrachudos no lençol
Os amantes estranham, mas se resignam
e tateiam mamilos prenhes do que não é vida nem leite, só deleite
Cruz Credo, debochamos enquanto chupamos
Assim mama a masculinidade
na vaidade que a medicina inventou
Seios borrachudos, borracha nelas
O couro come, a cuíca geme
Sorriem as pratinelas
São quase bolas de futebol
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Aviso à praça

Queridos rubro-negros e torcedores de outros clubes
Vamos ou não vamos participar de uma pequena pagelança sobre lusofonia, línguas, falares e escreveres...?
Olha a reforma ortográfica aí, gente!
Forte abraço
Alfredo


Contato com a coluna
Alfredo Herkenhoff
alfredoherkenhoff@gmail.com