terça-feira, 19 de abril de 2011

Negritude, mulheres de talento e desigualdades (1 de 6)

Brasil tem poucas cantoras negras de grande voz na TV
Por Alfredo Herkenhoff
(Dedico essas reflexões à saudosa psicanalista Neusa Santos Souza)

Parte 1 de 6


Pela grandeza da nossa negritude, nossa miscigenação mulata, o Brasil devia ter, nas paradas de sucesso, maior número de grandes cantoras negras, e aqui me ocorre a imagem de negra assim: negona de vozeirão! Mas não! O que temos é um número relativamente pequeno de cantoras do biotipo nariz batata fazendo  sucesso e com dó de peito e ginga, técnica e fascínio.

Tirante uma Sandra de Sá, uma Margareth Menezes, uma Alcione, uma Elza Soares e outras poucas, podemos contar nos dedos da mão, ou, vendo por outro extremo, constatamos que as nossas cantoras digamos brancas, ou embranquiçadas, são a imensa maioria.

Talvez essa reflexão seja só uma ilusão, ou vacilo de interpretação antropológica em tempo real diante dos acasos. Será que apenas quis o destino que as grandes vozes negras fossem de homens, tipo Emilio Santiago, Luiz Melodia, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Agnaldo Timóteo etc. etc?.

Nos Estados Unidos não vemos este fenômeno: há uma profusão de vozes femininas de alto quilate professando o orgulho da negritude: desde Nina, Ella, Sarah, Tina Turner, Aretha, Anita Baker,  uma imensa profusão, e vemos hoje gerações renovadas, Whitney Houston, Beyoncé, Rihanna,  enfim, dezenas delas com  altos recursos gargantuais, e estilo de cantar, prêmios, presença na grande mídia, a TV, bombadas na internet, milhões de visualizações no Youtube. (continua)

Por Alfredo Herkenhoff  – Correio da Lapa, Rio de Janeiro, 19 de abril de 2011.