segunda-feira, 13 de julho de 2009

Comentários sobre Comentários sobre Sarney

Deu no site do Noblat

Comentário

Convite ao suicídio

Se restar provado que um parlamentar mentiu para seus pares, ele poderá ser cassado por quebra de decoro. Foi assim em 2000 com o senador Luiz Estevão de Oliveira (PMDB-DF).

Cassaram-lhe o mandato porque mentiu - não porque desviou dinheiro público destinado à construção de um prédio em São Paulo. José Sarney (PMDB-AP) corre o mesmo risco.

O jornal O Estado de S. Paulo publicou na semana passada que a Petrobras concedeu um patrocínio cultural no valor de R$ 1,3 milhão à Fundação José Sarney, responsável pela guarda de documentos e objetos do período em que Sarney foi presidente da República (1985-1989).

O dinheiro serviria para a digitalização dos documentos e a informatização de todo o sistema de acesso ao acervo. Nada foi feito. E R$ 500 mil acabaram desviados para empresas fantasmas e outras da família Sarney.

Ao detalhar como gastou o dinheiro, a Fundação informou, por exemplo, ter pagado à empresa Souza Premieri R$ 12 mil por conta de um "curso de capacitação em história da arte” ministrado a 80 funcionários e estagiários do acervo museológico.

A Souza Premieri é uma empresa do ramo do comércio varejista de artigos de vestuário e acessórios. Seu dono, Adão de Jesus Souza, não sabe distinguir entre um Picasso e um Heitor dos Prazeres. A empresa funciona na casa dele onde não há vestígios do que produz.

Mas o que disse Sarney a respeito da denúncia do jornal?

Primeiro, por meio de nota assinada por seu assessor de imprensa, assegurou: “O senador José Sarney é presidente de honra da Fundação que leva seu nome, tendo sido seu fundador. Não participa de sua administração, nem tem responsabilidade sobre ela”.

Mais tarde, sentado na cadeira de presidente do Senado, Sarney encarou seus colegas reunidos em plenário e proclamou sem hesitar: “Eu não tenho nenhuma responsabilidade administrativa naquela Fundação”.

Engana que eu gosto!

Está escrito nos estatutos da Fundação que seu presidente vitalício é José Sarney. Quando ele morrer, a presidência caberá à sua mulher. E depois da morte dela, a cada um dos três filhos.

Na falta deles, assumirá um dos netos, em seguida outro, e assim sucessivamente. É um negócio familiar, portanto. E será familiar até o final dos tempos.

Presidente de honra é quase nada se comparado a presidente vitalício. Não tem “nenhuma responsabilidade administrativa naquela Fundação” é uma mentira grosseira.

Em sete páginas dos estatutos, o nome de Sarney é citado 12 vezes, segundo outra reportagem de O Estado de S. Paulo.

É dele, por exemplo, a tarefa de “assumir responsabilidades financeiras”. Sarney tem ainda “o poder de veto” sobre qualquer decisão tomada pelo Conselho Curador – que é presidido por quem? Ora, por ele.

O Conselho Curador é quem nomeia os três membros do Conselho Fiscal. Por fim, é função de Sarney “orientar” as atividades da fundação e representá-la em juízo.

Uma lei aprovada pela Assembleia Legislativa do Maranhão em 2005 devolveu ao Estado o prédio do século XVII doado por ele para a sede da Fundação – o Convento das Mercês.

Para derrubar a lei, Sarney forçou a direção do Senado, na época presidido por Renan Calheiros (PMDB-AL), a entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF).

Foi a única vez em 21 anos de vigência da atual Constituição que o Senado recorreu ao STF contra uma lei estadual. Deu certo.

Fique à vontade o Senado, pois: caso prefira, poderá fingir que nenhuma das atribuições de Sarney na Fundação caracteriza “responsabilidade administrativa”.

Será só mais um escândalo na história de quem passou a ser conhecida como a Casa dos Escândalos.

Lembra do pastor americano Jim Jones?

Em 1978, ele protagonizou o caso mais famoso de suicídio coletivo. No meio da selva da Guiana, cerca de 900 fanáticos morreram depois de tomar uma mistura de suco de laranja com cianureto.

Os senadores não precisarão beber nada.

Assinatura do patrocínio cultural conferido pela Petrobras à Fundação José Sarney: hum milhão e trezentos mil reais, desembolsados em três parcelas.


Correio da Lapa:

Comentário sobre comentários do blog do Noblat

Suicídio coletivo e mandíbulas da mídia


O coronel tem cada vez menos daqueles dias em que parece se recuperar, dia das manifestações aliadas alertando contra demonização, ou de que não existe santo nessa confusão. O coronel negou, mas a verdade escorregou, caiu mesmo nas mandíbulas da imprensa. O coronel caiu em contradição e não se dá conta dos atropelos imorais. Como é triste certos momentos de uma verdade. Como dói quando o comentário bate à nossa porta. Deparar-se não mais com um pedido de fora coronel, saia do comando da burocracia. Dia em que se pressente o mau começo para o mais antigo morto vivo. Ele ainda respira, recém-chegado de viagem. Chegou porque o povo paga a passagem. Telefonou porque o povo com impostos paga a conta. Chegou porque em alto-mar revolto o peixe maior não quis o coronel num banquete de canibalismo político, com candidato comendo candidato. O coronel ameaçou não pilotar o esfriamento na operação de rescaldo, outros incêndios, outras crises. Ameaçou botar a culpa administrativa na falha do sensor que transformou a instituição no mais inseguro avião da Airbus. A política parece agir com prudência. Hora de serenidade. Justiça, punir quem deva ser punido. Transparência, a lei é igual para todos. Conceder o direito de defesa sempre. Mas a crise já está de peça nova, novo sensor de velocidade adequada. O peixe maior pula e pulula. E a imprensa e a internet afiam os dentes como se amolassem a guilhotina. O peixe maior não quer cair na mesma cova de quem está morto mas insiste em não aceitar a desmoralização horizontal. No twitter o papo é fora ele, mas o twitter já ficou verde contra o Irã e não deu certo. Na internet se vê o tempo todo que o bando é de ladrão, e comando é de quadrilha. Milhares de gritos por “guilhotina já” porque tem até milícia de assessores. Estancar a fonte de vergonhas nacionais, com crise institucional se avizinhando, quase uma hondurização da política, que ameaça levar a Justiça num roldão de descrédito, levar o MP num roldão de descrédito, atingir o peixe maior num roldão de descrédito, levar de roldão o roldão do processo democrático. Valhacouto ou primeira ou última possibilidade de uma reforma radical? Administrativa e política? Reforma constitucional? Emendas para salvar dedos na antevéspera dos anéis de fogo? A crise é uma onda que aumenta espasmos de indignação popular. por enquanto ainda no twitter cotidiano apenas, mas se aproximando perigosamente dos botequins de 5.567 povoados, num ritmo novo, tipo gripe A, mas de fato como uma epidemia da gripe R, de Raiva. Logo haverá todo um rancor tossindo na melancolia o desejo de um basta, botando para fora, senão ele, o coronel antigo, a necessidade de acabar com a fonte dos males, o valhacouto da ética da roubalheira. Em si ninguém é culpado o tempo todo. O valhacouto já viveu tempos dramáticos, ajudou a unificar uma nação. Foi bom para a democracia. Mas o que era remédio federativo virou veneno social, espetáculo atraindo um ódio crescente, violência dos protocolos, ritos dando início a mais uma versão da história do Rei Nu. Talvez haja quem ainda se sinta capaz de levar adiante um discurso sem se sentir envergonhado. Presumir inocência, registrar apartes nos anais da eloquência, sair bem na foto das manchetes do dia seguinte, últimas explicações antes do não me diga mais nada. Sob pressão, é natural que uma pessoa procure se manter viva enquanto imagem tentando se salvar no mundo que vê na TV a crise se avolumar. Talvez as férias de meio de ano ajudem a aliviar a pressão, talvez não, talvez nem dê tempo para cantarolar quando setembro vier. Os comentários na internet, profusão de xingamentos, mereceriam, cada um, um processo de calúnia, injúria ou difamação, mas os acusados no plural viraram um coletivo de impotência. As figuras mais honradas da noite para o dia se tornaram figuras mais malandras. Ainda guardam um fio de esperança. Talvez possam se safar nadando individualmente nos nichos de segurança no meio da raiva contra o plural. Porque em principio acusado com poder não pune outro acusado com poder. Apenas o fará se a condenação já for fato consumado nas ruas. E aí seria cada um por si num cenário de caos. O eleitor já zombando de uma nau sem norte nem mar. Gozação, verdades e mentiras, nada será mais suficiente neste dia que se aproxima. O caminho da última absolvição com a ajuda de todos os recursos da processualística forja pequenas verdades para proteger grandes mentiras de ávidos ladrões de impostos. Pequenas verdades não fazem bem o tempo todo num tempo tão dramático. Bem que a gente segue adiante... E até tenta espairecer, comentar outros assuntos. Mas é tudo espetáculo, o poder se suicidando nas mandíbulas, ferido por pequenos canivetes de homens e mulheres nas ruas, estes protagonizando o que já não sai na telinha. Estas hordas entrando de vez na internet, hoje apenas zombando entre clamores de basta, não um fora fulano ou sicrano, mas impondo o conjunto dessas indignações como epidemia da raiva, alavancando a tal gripe política, que já atingiu até comentário nascido como comentáiro de outros comentários, ou como liberdade nesta internet, este espaço liberto e aberto para gozações e invenções em torno de atos heroicos e desmandos em qualquer país ou setor. Agora, entretanto, toma-se o remédio amargo, o café do cinismo numa manhã de segunda-feira, 13, sem esperança. Que venha o caos, se é que já não veio entre suicídios e mandíbulas, política e rock in roll.