Editorial Pop
O que será do Brasil?
O que será de nós?
O que será de mim?
O que será do Correio da Lapa?
Por Alfredo Herkenhoff
O que será do Brasil?
O que será de nós?
O que será de mim?
O que será do Correio da Lapa?
Por Alfredo Herkenhoff
O Correio da Lapa dá pancada em José Sarney, dá pancada em José Serra, em José Dilma Rousseff, em José Lula, José Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Cabral, Aécio Neves e no Zé Português-dono do botequim ali na esquina. Mas vê também com bons olhos o lado bom de cada um, vê os bons olhos que até no mais sacana dos seres há. O Correio da Lapa, este intrépido CdL, dá porrada em si próprio, mas não se mortifica porque é pop, reflete até a pipoca, incluindo aquela única que causou uma fila, uns 50 ou 60 anos atrás, na praça em frente ao Palácio dos Martírios, em Maceió, porque o milho eclodido pelo calor costurou, no acaso de sua forma de amido branco e sépia, num prenúncio pré-midiático, um semblante frágil, uma minúscula escultura de pouca durabilidade, um busto à semelhança do pai ou tio ou avô de um tal Fernando Collor de Melo. Verdade ou não, me contaram, "ed è ben trovatta".
O Correio da Lapa tem ideologia, o problema é que não sabe qual, mas precisa de uma para viver. Com tanta dúvida, o CdL incensou como nicho a liberdade de criação, o experimental, as artes com mídia e política, artemídia, artepolis, pouco imprta o nome, e como não tem foco fixo, fixa o foco amplo, com uma única profissão de fé profissional: todo dia aqui uma supresa, ora grande, ora surpresinha.
Com apoio de governador Sérgio Cabral, que enviou do Rio de Janeiro para Brasília o velho Duque, como terceiro suplente, ou senador pós-biônico do PMDB, saiu vitoriosa esta nova política da pacificação com a polícia pacificadora na marra da tropa de choque sob o comando do coronel da representação amapaense José Sarney, em conluio com Luiz Inácio, tudo para que reinasse, como reina, a paz da pasmaceira no Congresso Nacional desta eterna e única sexta-feira, 21 de agosto de 2009.
Parece que, na esteira da trégua do Arquivamento Amplo, Geral e Irrestrito, está garantido o direito de se fazer propaganda política maciça pela internet nas eleições de 2010. Assim, o Correio da Lapa, que se pretende manter como nasceu, livre para mudar, sonha que tudo vai ficar melhor no ano que vem. Sonha com o rito de passagem em que o tom autoral do bloque-jornal se perderá, cedendo lugar ao coletivo, internautas que, eventualmente, queiram participar de forma direta num processo de opções de postagem no clima de uma saudável brigalhada democrática pelos cargos.
Mas, seu autor, eu, moi meme, eu, Alfredo Herkenhoff, informo à praça que o que penso, no plano pessoal, nada influencia de forma errada, ou ruim, o que posso fazer e faço para terceiros. Sou jornalista terceirizado e terceirizável. No anonimato, prestei, presto e prestarei serviços, longe deste CdL, para A ou B, mesmo sendo estes adversários entre si.
A intensidade deste blogue-jornal em tempo real é apenas um claro sinal de uma competência particular: também estou contratato por mim mesmo: sou editor, patrão, redator, repórter, funcionário, colaborador, RH, leitor e RP.
Como sabe todo dono de mídia, leitor tem sempre razão. Por tudo isso, eu bem que gostaria de, só para lembrar, oferecer, num replay, uma velha razão, que advém da leitura de um velho conto que Artur Azevedo (foto) escreveu, uns 100 anos atrás, sobre um coleguinha solto na vida: o jornalista sem diploma Romualdo, aqui no Rio de Janeiro naquela transição Império-República. Romualdo estava afastado das redações quando, de repente, foi contratado para escrever cartas, via jornais, para duas personalidades da capital, dois velhos amigos ricos ou remediados, mas que estavam brigando entre si, à beira de descambar para as vias de fato, ou um duelo. Pois Romualdo prestou o serviço em segredo de redação a ambos. Fez os dois patrões de ocasião sofrerem um pouco com o que ele escrevia para cada um contra o outro, sem que nenhum dos dois soubesse que haviam contratado o mesmo profissional ético. Romualdo ganhou dinheirinho honesto, preservou a sua imagem de bom jornalista e ainde teve a satisfação de ver que a amizade entre os dois, que lhe garantiram sustento numa hora difícil, sobreviveria aos mútuos achincalhes.
Sim, o amor até acaba, mas a amizade, jamais, então... Para quem chegou até aqui, chama-se A Polêmica o belo conto sobre a nossa profissão. Um parêntese en passant: sem medo, e de público, este CdL "absolve"o supremo ministro Gilmar Mendes por promulgar decisão do egrégio tribunal decidindo que diploma não tem de ser obrigatário para exercer o trabalho de jornalista, como também não o é para a política profissional. O presidente Lula que o diga. Romualdo que o diga. Mas claro, estudar sim: Educação é, mais do que desejável, essencial. Diploma é apenas desejável. Saudades da PUC-Rio.
Mas vamos lá: quem quiser ver, eis a nova chance: está neste blogue-jornal o conto de Artur Azevedo, começando assim:
A POLÊMICA
Artur Azevedo
O Romualdo tinha perdido, havia já dois ou três meses, o seu lugar de redator numa folha diária; estava sem ganhar vintém, vivendo sabe Deus com que dificuldades, a maldizer o instante em que, levado por uma quimera da juventude, se lembrara de abraçar uma carreira tão incerta e precária como a do jornalismo (...)
Anote o endereçamento:
http://correiodalapa.blogspot.com/search?q=ARtur+Azevedo
Artur Azevedo, o segundo à esquerda, de pé, rente a pilastra. Machado de Assis, o segundo à esquerda, sentado. Esta foto foi apelidada de "Panelinha", reunindo escritores e jornalistas num show acadêmico de saberes e sabores! (Por AH)