domingo, 30 de junho de 2013

MANIFESTAÇÕES NAS RUAS E UM CONSELHO DE CANOSSA








CONSELHO DE CANOSSA

(Brasil, domingo, 30 de junho de 2012: Você vai ler a seguir um longo esboço de sugestões para a democracia, que está capenga neste momento, encaminhar de forma pragmática as vozes das ruas. Se você achar que essa proposta abaixo é absurda, inviável, tente então explicar por que e também pense outras possibilidades práticas e democráticas)




AS RUAS E UM CONSELHO DE CANOSSA

Cinco integrantes para um Retiro Político e Espiritual:
Joaquim Barbosa
Cármen Lúcia
Renan Calheiros
Henrique Alves
Dilma Rousseff

Dilma quer participar da voz das ruas? Ou quer domá-la?

(Se você, internauta, considerar as sugestões abaixo uma contribuição positiva, ajude a levá-las diretamente à chefe do governo e aos demais quatro integrantes de um conselho sugerido para ser criado emergencialmente com o objetivo de encaminhar a nossa voz nas ruas sem nada de influência de partidos políticos)

Estima-se, com toda a fragilidade de uma reflexão/especulação pessoal, que a voz difusa das ruas até aceitaria a participação da presidente Dilma Rousseff numa negociação por uma democracia que contemple mais justiça, mais eficiência e mais oportunidades.

Dilma está como a chefe do Planalto hoje negociando com a tal governabilidade que está no foco do furacão. Nossa democracia depende de um troca-troca com o Poder Legislativo que garanta o dia a dia do Poder Executivo. É mais ou menos assim nas democracias do mundo inteiro.

Mas a multidão, multidões, jovens inexperientes na maioria, não quer nem ouvir falar desses terríveis deputados da governabilidade, agora bonzinhos votando tudo a favor.

Dilma não dá sinais de que possa captar esses sinais, essas vozes. Ela parece não acreditar que ficaria mais forte, agora que está tão fraca, se baixasse a taxa de governabilidade, com um apoio das vozes difusas das multidões. Seria dar um sinal às multidões. Cortar o gabinete de 40 pela metade.

E dentro da fragilidade inicial de uma reflexão que começa aqui tão individualmente, dá para descortinar cenários para uma agenda que contribua ao diálogo que vai desembocar provavelmente num plebiscito.

São aqui especulações de uma pré-agenda para definição de pontos polêmicos de uma agenda verdadeira, agenda concreta a merecer em breve decisões das multidões que somos nós, os eleitores. O que não dá para pensar como factível é um plebiscito engendrado sob influência acachapante de partidos políticos rechaçados nas ruas e sob influência da grande mídia, idem.

Como separar o joio do trigo nesse ambiente de rua sem lideranças visíveis?

A ideia aqui é um plano, a criação desse conselho para discutir possibilidades emergenciais nesse momento histórico fazendo não uma tábula rasa do passado antigo e do passado recente, mas deixando respeitosa e momentaneamente de lado a imensa e burocrática estrutura do Estado.

Parece complicado e é. Mas não é hora de punição atabalhoada de corruptos no poder, que isso é coisa de revolução. Você quer revolução? Aí rola muito sangue, literalmente. Então é não, hoje é o Brasil cantando o Hino Nacional e exigindo melhorar a democracia, que era bacaninha, deu comida e algum consumo, mas estragou muita coisa no dia a dia, exibiu e exibe muito ladrão.

Você quer mais bem-estar e dignidade naqueles pontos já consagrados: quer na educação, saúde, no trânsito e na segurança, ou escolas boas para as crianças, hospitais idem, tráfego seguro nas estradas e transporte inteligente nas metrópoles e, claro, uma nova polícia, um que não se confunda com assaltantes armados nas ruas.

Tudo isso depende da política, que é a arte de produzir e dividir a riqueza, e o que é gerado em comum deve ser gerido em comum. Claro, os mais competentes ganhando pelos próprios méritos a nossa admiração e fazendo jus ao máximo conforto que é um estímulo para quem valoriza a eficiência.

Somos 100 mil enterros anuais, metade com a violência, metade com o trânsito, esses dois itens que são consequência da carência do nosso sistema educacional para as crianças da imensa maioria das famílias brasileiras.

Então esqueça por enquanto quem, hoje, ocupa cargo no poder público como um corrupto, ou quem, atuando no mercado na condição de milionário ladrão, não vai preso. Esqueça isso momentaneamente. Corruptos e assaltantes irão para a cadeia amanhã. Este amanhã é mais à frente. Querer punir na marra e depressa é revolução. Aí é muito sangue, é outra história.

O Brasil está num processo de quase convulsão, que é quase revolucionário.

O cenário de julho neste último dia de junho é este nesta sugestão:

Eu, manifestante, esqueço quem é PT, quem é tucano, esqueço quem se diz de esquerda, quem crê ainda em esquerda e direita, quem não crê e tal.

A hora agora é da nossa democracia travar um diálogo com todos os segmentos. Esquecer por exemplo que Renan Calheiros, que teve ou tem votos nas Alagoas, é foco do meu protesto. Mas agora ele não será mais só um reles senador de sexo, bois, notas fiscais, renúncia e retorno. Não, você pode esquecer essa biografia por enquanto. Renan até está votando bacaninha nas últimas horas do Senado. Mas, por sua condição de presidente desta casa, ele é aqui neste cenário dessa sugestão um integrante não das vozes das multidões nas ruas, mas será de uma das vozes diversas desse imenso Brasil, uma das cinco a participar de um núcleo no Caminho de Canossa.

Os cinco vão se ajoelhar simbolicamente diante de um novo rei, o povo brasileiro e sua vontade de democracia forte, que é democracia com educação e justiça de fato, não só de direito, só no papel.

Esquecidos, com dificuldades, esses problemas recentes que estão na raiz das manifestações de rua, esquecidos, não, mantidos à parte momentaneamente, vamos à agenda pragmática para o Conselho, que na verdade, por sua vez, vai produzir uma pré-agenda para mudar o Brasil.

Renan, na condição de presidente do Senado, é voz deste Poder, mas também será voz dele, voz pessoal de um alagoano. Renan deve integrar o Conselho de Canossa com um igual aos outros quatro integrantes. Ele não falará em nome do seu partido.

O mesmo vale para Henrique Alves, voz de presidente da Câmara, voz dele mesmo, pessoal. No conselho, ele não falará em nome do seu partido.Será voz pessoal de um representante do Poder Legislativo.

Joaquim Barbosa é voz dele mesmo e voz do Poder Judiciário. Não falará em nome dos outros dez integrantes do Supremo.

O mesmo para Cármen Lúcia, será voz dela mesma e voz também como Barbosa, do Judiciário, mas não falará em nome dos demais juízes do TSE por ela presidido.

Há que se descorporativar essas vozes no conselho. Eles saberão disso quando se retirarem para pensar e produzir respostas que provavelmente vão ao encontro das ruas.

Dilma será voz dela mesma e voz da Presidência, isto é, voz dos 200 milhões de brasileiros, mas não será voz nem do conjunto de integrantes da base aliada no Congresso, não será voz dos seus 40 ministros, nem voz será ela do Partido dos Trabalhadores.

Isso está parecendo um grupo hardcore do Poder para substituir a voz das ruas? Não. Isso é o menor denominador comum do Poder Público. As questões estaduais e municipais ainda não entram em campo neste momento. Vamos esquecer essas questões apenas momentaneamente.

O que deveriam fazer esses cinco nomes essenciais da nossa representação da democracia? Eles são o Poder Público em sua máxima grandeza!

Mas vão se reunir com a máxima humildade.

Eles vão fazer um caminho de Canossa, se reunir não num imponente palácio ou dentro de um quartel, mas num bom e simples hotel numa cidade pequena, que tal Ouro Preto? A pequena cidade simboliza o ouro colonial que seduziu Portugal, enfim, o dinheiro da História, dinheiro que sempre seduz tanta gente, dinheiro que ergue e destrói coisas belas, e a cidade simboliza a República, a esperança nasceu ali, esperança na revolta contra o mal-estar decorrente dos impostos pesados que incidiam sobre a atividade aurífera.

Esses cinco vão conversar como seres humanos. E descendo do Poder Máximo que lhes foi concedido por nós, eleitores no espaço da Constituição Cidadã, eles humildemente saberão vislumbrar respostas para as nossas vozes nas ruas.

Joaquim Barbosa, negro, você quer mais representatividade da nossa realidade social do que ser isso? Ser negro num país que foi o último ou penúltimo a acabar com a escravidão de africanos e filhos de africanos? Um país que ainda hoje mantém negros na base da pirâmide social, no sopé da pobreza.


Você tem Cármen Lúcia, que nasceu nas Gerais, ela é mineira da banda do Norte, quase Bahia, é das veredas, aqueles descampados numa das regiões mais pobres do Brasil. Era criança de família humilde numa cidadezinha chamada Espinosa, 30 mil humildes brasileiros. A reunião de Canossa poderia ser realizada também ali. Cármen Lúcia é hiper constitucionalista. Ela é um talismã dessa República de uma bela Constituição Cidadã, de um Brasil que quer ver a Carta respeitada, que quer mudar os hábitos da República que nos envergonham.

Renan Calheiros representa bem um Brasil de gente que sabe que a vida é luta renhida, tem que ser esperto, matar um leão todo dia. Não, ele não é exemplo de bondade. Mas é um retrato de boa parte do Brasil. Ele é o chefe do Senado Federal e é um ser humano esculachado pela grande mídia diariamente, esculachado por nós, por mim, por todos na internet, mas é um legítimo representante que está lá no Poder sempre mediante votos, primeiro os de Alagoas e depois da maioria dos demais 80 senadores.

O mesmo para Henrique Alves, também um legítimo representante do Poder Legislativo.

E temos a Dilma, a búlgara mais brasileira do planeta, a terrorista mais amada, não importam os elogios, os deboches, os que a amam e os que a odeiam. Ela está ali, eu a botei ali. Eu a quero ali. Revolução quem fez foi ela na própria juventude, indo à luta, sofrendo e lutando, sem parar. Não importa se é tecnocrata, se é arrogante, se é isso ou aquilo. Se foi do PDT e ainda está no PT.

Partido é tudo o que não se quer nesse momento de transição de uma democracia para uma democracia melhor.

Seria muita pretensão continuar aqui sugerindo o que devem fazer esses cinco nomes tão importantes numa discussão que se pretende ver produzir uma resposta histórica para as reivindicações que já confluem como itens convergentes, ou itens básicos nos pleitos das manifestações de rua.

Estima-se que os cinco mais poderosos da República saberão ser brava gente, vão conversar em dois planos amplos: o político de médio prazo e o imediato, que é emergencial, uma nova governabilidade para Dilma poder caminhar de volta com o povo nas ruas e impedir qualquer tentativa louca de ruptura institucional.

Como fazer uma reforma política para o país atacar frontalmente questões difíceis, problemas que veem de décadas, séculos, injustiças encravadas em tantos maus hábitos, nossas piores tradições?

As pautas convergentes que terão a reforma política como pano de fundo são aquelas já mencionadas mas que não custa repetir, isso aqui, mais que um manifesto, é também uma oração, quase uma ladainha:

Melhorar a segurança nas ruas, menos violência.

Investir em escolas de qualidade para a massa de crianças e adolescentes do Ensino Fundamental.

Investir em hospitais, capacitá-los a produzir cura e saúde.

Buscar uma nova engenharia no transporte dentro das cidades. Por que privilegiar um carro de 700 quilos que leva um único passageiro e engarrafa?

Nesse Retiro Político Espiritual, os cinco nomes de Canossa poderiam se reunir durante uns cinco dias, levariam três ou quatro assessores cada um para que conversassem numa sala ao lado e dando apoio eventual quando chamados.

Jornalistas mantidos à distância.

E o povo nas ruas cantando o Hino Nacional, ou indo atrás de um pastor, ou saudando a chegada iminente do papa.

Poderiam se reunir já nesta semana que está só começando.

Se você acha que essa proposta é absurda, que isso tudo aqui é mirabolante e infactível, produza então uma sugestão menos absurda, menos mirabolante, mais factível, mais pragmática.

Por enquanto Dilma Rousseff está tentando encaminhar perspectivas em tratativas com a governabilidade e com consultas a Joaquim e Cármen Lúcia. Mas há sinais de que isso não vai acalmar as ruas.

Se você, colega internauta, endossar essa sugestão, parte dela, ou se tiver outras sugestões de caráter pragmático, na linha de um Caminho de Canossa, participe, todo mundo é bem-vindo a essa discussão.

segunda-feira, 24 de junho de 2013


A CONSTITUINTE VEM AÍ



Uma eleição para uma Câmara Constituinte vem aí e vem com pressa.

Estamos numa miríade de reivindicações. Mas quem tudo acusa, não acusa nada. Quem tudo quer, pouco consegue.

Então insisto no que vi hoje e ontem e anteontem: as prioridades:

- Prosseguir no movimento de rua vitorioso nos seus primeiros dias

- Garantir que o vandalismo não nos conduz e que, dos três vandalismos, o mais danoso é o do Estado, domá-lo é o desafio mais difícil.

Os outros dois vândalos são perigosíssimos também: o primeiro a coibir, a prender e mesmo a matar são os vândalos encapuzados que saqueiam lojas de sapato, bancas de revista e restaurante, enfim, os ladrões oportunistas num momento de comoção histórica nacional, uma hora grave.


Os segundos vândalos não devem dançar com balas de verdade, os segundos vândalos são apenas os revoltosos radicais, produziram atos violentos, mas atos sempre políticos, não produziram sangue. Atacaram prédios e símbolos do Poder Público. Nos deram a maravilhosa foto da marquise do Congresso,. deram maravilhosos sustos na Alerj, no Bandeirantes, na sede de uma prefeitura aqui e acolá. Já deram o recado.

Agora é - e se lasque o movimento digital e internacional chamado Anonymous, agora é cada manifestante mostrar a cara, Brasil, mostra a tua cara. O Brasil não é nenhuma Primavera Árabe contra ditaduras islâmicas sanguinárias. O revoltoso político radical nesse momento brasileiro, nessa fase, não pode mais esconder a sua cara com máscara nem camisa.

E com isso, o movimento pacífico de massa ganha território pra avançar na sua esperança de ver reduzidas drasticamente essas injustiças e, paralelamente, ver melhorada essa sociedade de tantas emoções maravilhosas que nos unem numa identidade, a brasilidade democrática. Com isso, caem por terra os argumentos dos que estão em pânico, políticos e governadores e grande mídia dizendo que vão pegar pesado, que a polícia vai bater dentro da lei porque vândalo não pode, embora sejam eles os piores vândalos.


O governo de Minas Gerais, por exemplo, deu sinais neste domingo que acabou que vai agir como o aliado Alckmin agiu e se lascou, que vai pegar pesado. Isso na manifestação da próxima quarta-feira, quando temos compromisso em BH com o Uruguai numa das semifinais na Copa da Confederações. Temos que respeitar os compromissos internacionais firmados. A Fifa é mafiosa, mas não importa, a entidade é composta de 200 e tantos países, povos afiliados. A manifestação de BH na quarta não deve tentar tumultuar a semifinal. Isso é um erro grave. Deve caminhar para longe da Pampulha, grandiosamente caminhar para longe do Mineirão.

A polícia de Cabral, de Anastasia, de Dilma, não importa de quem, policia militar fortemente armada tem de se afastar da multidão democrática e já com jovens sem capuzes nem camisas do anonimato. Brasil, eu mostro a minha cara.

Policiais, nesse momento não precisamos mais de vocês. A propósito, vocês, policiais, precisam mais de nós nas ruas. Seus filhos e amigos e parentes estão aderindo ao movimento Brasil nas Ruas.

E depois?


As pautas, a agenda. não cabe politizar o movimento que não tem palanque, não tem discurso, não tem pulseirinha vip nos falsos 100 mil da Passeata dos Royalties. Não tem partido pólítco, tem só Hino Nacional e indignação democrática com cartazes das nossas mil e uma reivindicações.

Sugestões pipocam. Devem desembocar numa Constituinte especifica, uma assembleia exclusiva para equacionar uma crise social. O Brasil nas Ruas não precisa derrubar nenhum parlamento, nenhum governador. vai apenas reformar. Para que tal ocorra, vai ser eleita uma Constituinte no fim do ano e seus integrantes terão seus mandatos encerrados no dia das eleições de outubro do ano que vem.

Pra esse Congresso Constituinte formular alterações simultaneamente com os deputados federais e parte do Senado em fim do mandato no ano que vem, será preciso um enorme esforço: vocês, Congresso velho, vão tocar pautas meramente do cotidiano numa relação Poder Executivo/Poder Legislativo. Não poderão dar voto ou pitaco na Constituinte. Claro, imagina-se que será possível que alguns parlamentares desse Congresso desmoralizado nas ruas e em fim de mandato sejam eleitos para integrar a Constituinte Exclusiva, Esses que conseguirem isso que tenham duplos mandatos, ambos encerrando em outubro de 2014.

E antes que Dilma costure uma aliança para propiciar esse mecanismo, urge, nos próximos dias, avançar rumo a uma costura para escolher um Conselho de Brasileiros Notáveis no Sentido Ético (Formulei horas atrás aqui nessa ferramenta digital sugestões para essa ideia de um Conselho Popular do Brasil nas Ruas).

Este conselho vai eleger um grupo pequeno pra encaminhar sugestões de plebiscitos para a Constituinte formalizar. E os integrantes da Constituinte poderiam ser eleitos num pleito simultâneo com uma grande quantidade de plebiscitos.

Talvez esse pleito, esta consulta, essa eleição de constituintes seja a ultima vez de voto obrigatório, porque certamente um dos plebiscitos perguntará; és a favor do voto obrigatório? Se a maioria disser não, os parlamentares da Constituinte formada para durar poucos meses e promover a reforma política vão escrever na nova Carta Magna o artigo estabelecendo que só vota quem quer votar.

O Congresso velho pela extinção ano que vem dos mandatos vai se ver numa situação crítica, vai apenas administrar o diálogo dos orçamentos, tudo em cima do pontual do ano de 2014 com o Poder Executivo. O Congresso Moribundo será privado de formular leis, de emendar a Constituição e de interferir em matérias constitucionais sendo discutidas pelos constituintes eleitos para mandato curtíssimo simultaneamente com o resultado de uma chuva de plebiscitos.


Os plebiscitos vão ser formulados pelo atual Congresso Moribundo e pelo Conselho Popular do Brasil nas Ruas. (Repito, formulei as sugestões para tal conselho do Brasil nas Ruas aqui no Facebook).

Estimo que a Constituinte Exclusiva a ser eleita no fim deste ano vá se desincumbir da tarefa em pouco mais de 100 dias, porque a Constituição Cidadã de 88 está aí com um belo arcabouço, muito dela não terá que ser mexido. E os constituintes de curto mandato estarão devidamente orientados pelas linhas mestras dos brasileiros nas decisões plebiscitárias.

É uma Constituinte para efetivar uma reforma política de modo a que os Três Poderes, nas três esferas, isto é, Federal, Estadual e Municipal, sejam enquadrados de modo a reduzir a insistência, a repetição com que diuturnamente envergonham e humilham a sociedade brasileira.

sábado, 22 de junho de 2013

BRASIL NA RUAS Uma agenda para nós e para Dilma


BRASIL NA RUAS
(Em 22/06/2013)

Uma agenda para nós e para Dilma


A história real não é bem aquela que emergiu da sua fala ontem à noite na TV. Mas a senhora abriu boas brechas para o Brasil nas Ruas avançar.

O fenômeno social Brasil nas Ruas saiu vitorioso na sua primeira semana de protestos. Baixou a tarifa, amansou um pouco - e não em todas as capitais - a polícia, isto é, os que a comandam, e adiou a PEC 37. Eram três dos itens que uniam os manifestantes.

Agora há uma miríade de reivindicações. Como pinçar entre estas algumas prioridades que unem os manifestantes? A principal é a mais difícil, complexa, demorada. Envolve a cultura de baixa civilidade. É a luta conta a corrupção que grassa em toda parte, em todos os poderes, dentro e fora dos governos.

Uma reivindicação de visibilidade mundial não une os manifestantes. É a coisa da Fifa, Copa do Mundo e dos estádios.

Como não há líder, o Movimento Passe Livre conseguiu os 20 centavos e até anunciou que não convocaria mais passeata. Com isto, reconheceu que não lidera. Todo mundo deve botar para fora seus anseios. E dessa quantidade que saiam as pautas de qualidade, isto é, a agenda que une de verdade os manifestantes.

Eu, por exemplo, sou contra o Fora Dilma. Sou contra a ideia de tumultuar as semifinais da Copa das Confederações. Concordo com Dilma, temos que ser educados, generosos com os nossos hóspedes. Somos anfitriões dos que estão no exterior nos vendo. Temos que ser generosos com os que estão aqui torcendo pela Espanha, a minha querida Itália e pelo Uruguai. Fico feliz com o Mundial 14 aqui no Brasil. Claro, sabemos que a Fifa é um antro de velhinhos espertos. Já "comandamos" essa máfia do futebol com Havelange e tal.

Fico feliz com os 12 estádios, espero que nenhum caia nem vire Engenhão. Temos as Olimpíadas de 2016. Sim, claro, há muito superfaturamento, roubalheira, erros nas construções. Os futuros operadores desses monumentos esportivos precisam ser vigiados, como os construtores, investigados. Mas sem tocar nos compromissos que firmamos com a Fifa e com outros povos. Esta pauta não une os milhões de manifestantes. Então eu a renego como prioridade de agenda para os próximos dias.

Dilma foi à TV e exibiu, com palavras cuidadosas, um ar de moderação. Os 15 minutos que antecederam ao seu "pronunciamiento" foram os mais loucos da loucura que acomete a grande mídia brasileira nesses dias que mudam o nosso mundo. O Jornal Nacional só deu destaque para o vandalismo. Um jornalismo que beira o estilo criminoso, ao criminalizar esse furacão de democracia que são as manifestações de milhões nas ruas.

Cabral e Paes já tinha feito seus pronunciamentos na TV durante o dia de ontem. Enfim, governantes e os mais poderosos congressistas já tinham demonstrado como estão alinhados com o jornalismo haraquiri praticado pelas grandes Redes de TV e pela grande mídia impressa/moribunda.

Basicamente, este "erro", que na verdade é uma estratégia contra o Brasil nas Ruas, consiste fundamentalmente em confundir o maior número possível de pessoas com relação ao que hoje de repete como protesto democrático. É a questão, sim, dos vândalos. Vândalo, não! Vandalismo, não!

O erro na verdade é um foco editorial, politicamente destinado a esvaziar o fenômeno social. Ou seja, políticos e donos da mídia consideram que o Brasil está ameaçado por uma minoria de vândalos.

Preciso repetir: há três tipos de vandalismo em ação neste momento. O vandalismo de saqueadores, que aproveitam a comoção, a multidão, para quebrar lojas, roubar mercadorias, é o clássico, a ocasião faz o ladrão. Este tipo de vândalo não merece bala de borracha, mas bala de chumbo.

O outro vândalo, que está sendo qualificado como se também fosse um saqueador, é um vândalo na verdade político, é um radical na revolta, ele só ataca símbolos do poder público. Palácios, assembleias, prefeituras e governos. Claro que dói ver prédios e até monumentos arquitetônicos quebrados. Mas era um preço a pagar nesses primeiros dias, nessa digamos fase heróica, os primeiros ovos de uma omelete social ainda distante. Esses vândalos revoltosos e políticos não foram capazes de demover nenhum participante do movimento pacífico da massa a continuar saindo às ruas. Milhões saem às ruas sabendo que haverá esses dois tipos de vândalo, o revoltoso político e o ladrão.

Quem confunde esses dois para justificar a violência da policia são os grandes meios de comunicação. A internet tem milhares de vídeos mostrando os excessos da polícia. A grande mídia raramente mostra um excesso do vandalismo das repressões governamentais, e quando mostra é por pouco tempo. Foi preciso que jornalistas levassem bala no olho para que as redações acordassem e assustassem os donos da grande mídia. Mesmo assim, esse movimento "A Imprensa Acordou" durou pouco e retrocede. Amansou Alckmin, mas parece insuflar a arrogância de Cabral e Eduardo Paes.

Ainda não chegamos ao terceiro vândalo, o pior do mundo, o que verdadeiramente une o povo brasileiro nesse Grande Não.

Precisamos de uma pauta antes de pensar em controlar esse vândalo maior que é o Estado, que são os nossos representantes nas três esferas da República nas três instâncias, os Três Poderes municipais, os Três estaduais e os Três federais.

Sem saber que ritmo terão as ruas nesses últimos dias de junho, se muita gente ou uma pausa para uma retomada mais grandiosa a partir de 1º de julho, não nos resta alternativa senão buscar uma agenda que nos una.

A fala de Dilma é um bom começo. Há temas genéricos que nos encantam. Avançar, como ela disse. E há sinais claros de que a sua retórica não nos satisfez. O seu pronunciamento está eivado de retórica vazia. Ontem circularam pelo Planalto, além do ministros e assessores tipo Franklin Martins, gente suspeita como José Sarney e Renan Calheiros.

Ora, a resposta de Dilma a esses primeiros dias que abalam a República não denotam e nem conotam nenhum movimento por parte da minha querida presidenta de que ela seja capaz de reduzir a taxa de corrupção reunida ao seu redor em nome da tal governabilidade. Muito ao contrário: Dilma teclou como a grande mídia, junto à grande mídia, martelou a ideia falsa de que não há três tipos de vândalos e que este vândalo demonizado não será tolerado porque estamos sob o primado da lei.

Mas a agenda, vamos a ela. Dilma disse que quer se reunir com representantes desse imenso Brasil nas Ruas. Mas como se não há lideres? Que conversa será essa? Então para encurtar: temos duas prioridades para os próximos dias.

A primeira: distinguir os dois tipos de vandalismo popular nas ruas. Os saqueadores ladrões, e os revoltosos políticos que atacam monumentos e símbolos do poder público. Eu quero mudança dentro dessa nossa democracia, sem tanto sangue, creio que a maioria também quer. É prioridade, a meu ver, que os milhões de manifestantes façam as autoridades compreenderem que há esses dois tipos. O ladrão que não merece nenhum perdão na hora de comoção nacional. E o vândalo revoltoso político radical, que tem apenas que ser enquadrado e marchar apenas como possibilidade última, a chamada linha de frente. Eu, você e mais 500 mil brasileiros vamos a uma passeata e tal, pacificamente, e sabemos que ali no meio haverá 2 ou 3 mil vândalos revoltosos políticos radicais. E estes 2 ou 3 mil irão sabendo que a ordem da maioria é não quebrar mais nada, nenhum prédio público. O recado da marquise do Congresso já foi dado, já corre o mundo. Não devemos repetir esse teatro. Os políticos já sabem que o povo pode entrar em qualquer prédio, monumento público, e que se for preciso, não será mais invasão simbólica para tirar fotos históricas, será para extirpá-los, levá-los ao cadafalso mais próximo, guilhotina ontem, quebra institucional ontem, revolução ontem, guerra civil ontem, enfim, a história no mundo está plena desses movimentos sociais.

Então a prioridade são manifestações pacíficas com os vândalos revoltosos políticos devidamente enquadrados.

E a segunda agenda dos três itens prioritários para o próximos dias... São três itens básicos, vamos chegar lá. A segunda é fazer entender à autoridade que a policia deve ficar o mais longe possível das multidões. Pouca policia, concentrada e hiper armada, excita os revoltosos vândalos políticos radicais e principalmente os vândalos ladrões. Menos policia visível, menos violência nas grandes manifestações democráticas. São Paulo já dá sinais disso. Deixar a policia escondida dentro dos prédios, e não diante de suas fachadas.

A propósito de policia, a corporação é como os cães, obedecem os donos, os comandos. Há cartazes ora insultando a policia, ora conclamando a participar do movimentos de rua porque os soldados ganham péssimos salários e aparecem como os nosso algozes, quando são apenas os paus mandados literalmente pelos verdadeiros verdugos, os governadores que mandam bater.

Há milhares de pequenos vídeos no youtube mostrando cenas de covardia ou despreparo da policia com milhares de manifestantes pacíficos. A polícia não é um tipo de vândalo, ela é uma vítima na condição de braço mais cruel do terceiro vândalo, que é o Estado.

Por ser uma instituição social, a maior de todas, o Estado se vale de um anonimato, o governante nunca é responsabilizado pelas ordens que a policia cumpre. Quando muito, o governante diz que vai mandar investigar uma denúncia qualquer de excesso de repressão.

Então, junto com o enquadramento dos dois tipos de vândalos no meio dos milhões de manifestantes pacíficos, outro item prioritário da agenda dos próximos dias é exigir do Estado que se contenha nesse momento de mandar a policia enquadrar a bombas e tiros os excessos de vândalos revoltosos políticos. Limite-se aos vândalos ladrões.

Menos policia visível nas passeatas e as passeatas serão as mais pacificas do mundo. A multidão, sem policia por perto, dobra a sua minoria revoltosa radical. E com isso, reduz o trabalho da polícia em nome da ordem, facilita a questão dos vândalos saqueadores de mercadorias e inimigos de toda ordem mínima.

Numa outra hora poderíamos discutir a questão dos infiltrados nesse dois tipos de vândalo nas manifestações, que são os agentes da própria policia, agentes de partidos políticos, agentes de sindicatos, centrais sindicais etc.

Então já desenhamos os esboço das prioridades. Conter os dois tipos de vândalos nas ruas e o braço armado do terceiro vândalo, o Estado, vândalo sim porque oferece aos que o sustentam com impostos esses péssimos hospitais e péssimas escolas para tantas crianças. Oferece policiais mal remunerados e mal treinados.

Contidos esses três vândalos apenas na esfera das ruas, das passeatas pacíficas, adentramos no discurso da Dilma exatamente aqui.

Quem serão os interlocutores da presidenta? Sugiro, e tenho certeza de que muita coisa que agora passo a sugerir talvez não seja factível, mas são ideias que funcionam como sementes para adensar ideias melhores, sugestões melhores para formar uma representação para interagir com Dilma Rousseff.

Criar um Conselho Popular do Brasil nas Ruas, com cerca de 100 integrantes. Esse conselho por sua vez vai eleger imediatamente um grupo de meia dúzia, não muito mais, nem muito menos.

Quem seriam esses 100 a nos representar? A OAB entraria com um nome em nome do presidente da OAB nacional e das 27 seccionais. Ele votam entre si. Os 81 senadores escolheriam um senador. Os 500 e poucos deputados, um deputado federal. A CNBB, um nome, bispo ou freira, pouco importa. Os evangélicos, um nome. As universidades federais, dois nomes, um estudante em nome dos alunos de todas as universidades e um professor em nome de todos os professores de todas as universidades. As estaduais do mesmo modo, dois nomes. As ongs brasileiras, um nome em nome de todas as milhares de ongs do Brasil. Também entrariam um nome em nome dos 27 governadores. O poder legislativo estadual com um nome em nome das 27 assembleias estaduais de deputados. O Judiciário Federal com um nome, talvez de um magistrado aposentado do Supremo. A Polícia Federal com um nome. As polícias militares com um nome em nome das 27 corporações estaduais. E assim por diante, formaríamos uma cadeia de representações passando ao largo dessas nocividades que são os atuais partidos políticos.

E esse conjunto de dezenas de nomes escolhidos no calor do Brasil nas Ruas teria uma única missão. Eleger um grupo de sete integrantes, ou 11 no máximo, um número ímpar, com poder decisório, para interagir com a comandante suprema Dilma Rousseff. Formular a agenda maior contra o terceiro vândalo.

Apesar de cartaz fora Dilma, fora Alckmin, fora Cabral, fora fulano e fora sicrano, estas reivindicações não unem o Brasil nas Ruas. Ao contrário, diluem. Claro, quem não gostaria de ver Renan na cadeia? A maioria gostaria de vê-lo punido por desmandos. Mas a agenda aqui sugerida surge apenas como um foco em itens prioritários para os próximos dias.

Enquadrar emergencialmente os três tipos de vândalos na ruas com o objetivo maior, que é posterior, é uma reforma radical, é enquadrar o terceiro e maior vândalo, os péssimos serviços do estado com essa democracia incapaz de enquadrar corruptos.

Riscos, sim, a gente morre de susto, bala ou vício. O susto pode ser o SUS, a bala pode ser de plástico, hall ou chumbo, e o vicio, pode ser a cracolândia exibindo nossas chagas em todas as cidades. Ou a mania de querer levar vantagem em tudo, problema cultural esse que prevalece num Congresso transformado em valhacouto de negociatas e troca-troca de toda ordem, grana e favores, cargos e comissões. Congresso que faz com que Dilma não tenha sequer uma oposição séria.

A base governista está ampla demais e mostrou as suas garras ontem à noite em cadeia de rádio e TV. Dilma ontem não parecia a minha querida presidenta. Parecia mais um quadro na grade da programação de uma mídia que vive do dinheiro dos impostos pagos pelos milhões que estão nas ruas.

Forjar esse conselho de 100 para eleger um pequeno de numero impar, sete ou 11, pode parecer complicado, mas em dez dias, se faz. A internet está aí, é um mutirão de emergência com novos representantes numa hora grave. Não é para ter folga, nem sábado nem domingo, não tem hora, é de dia, de noite, de madrugada, é uma emergência para institucionalizar o Brasil nas Ruas de modo a mostrar aos nossos representantes nas cidades, nos governos estaduais e no poder federal que ninguém está brincando de mudar o Brasil. Está-se mudando o Brasil.

O movimento é pacífico, apesar dos três tipos de vândalo. Mas se for acuado, se milhões de nós formos acuados, reprimidos a bombas e cacetadas ao leu, um triste cenário ameaça absolver um dos três tipos, e com isso reforçar a ação dos revoltosos políticos que atacam prédios públicos. Aí, sim, estaríamos à beira do caos, da revolução, talvez até de uma guerra civil.

Sinto isso na rua, a ira, a indignação crescente. Ontem à noite, conversei com os simpáticos irmãos Garcia, que são donos de uma loja de ferragem e peças domésticas na Praia de Botafogo. A loja Irmãos Garcia é apelidada no bairro de "Quebra-galho". Pois um dos Garcia me disse que ontem acabou a folha de compensado. Comerciantes da Zona Sul do Rio comprando às pressas folhas de compensado temendo balbúrdia, temendo por suas vidraças. Isso é grave.

A grande mídia está pintando uma mentira, que é fazer essa fusão de dois tipos de vândalos e ignorando o terceiro, com seu braço cruel, que é a pobre polícia batendo sem compreender por que bate. Com isso, a grande mídia excita os três tipos hoje nas ruas.

Dilma:

Nos próximos dias, enquanto se forja uma representação mínima do Brasil nas Ruas, faça um pouco por nós. Reduza o seu ministério, corte de uma penada pela metade, de 40 para 20, corte seus 20 milionários ministérios/20 centavos, reduza a governabilidade deles. Dê um sinal às multidões que só querem botar ordem nessa desordem. Dê um sinal melhor de amor ao Brasil e por amor a essa democracia que se quer melhor e que você ajudou a nascer e vai ajudar a fazê-la renascer, ou quase isso, porque a democracia está quase morta na vozes pacíficas das ruas.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

sábado, 15 de junho de 2013

Primavera do Ônibus: uma encruzilhada

PRIMAVERA DO ÔNIBUS - Rio de Janeiro, 15 de junho de 2013

Encruzilhada do Brasil
entre Sujeitos Sociais e punk-vândalos
 


Vejo três Sujeitos Sociais no fenômeno  que desde ontem cedo, 14 de junho de 2013, caricaturei com o nome de Primavera do Ônibus. Sujeitos Sociais são forças políticas de tamanho desigual, mas cujos enfrentamentos entre si produzem resultados imprevisíveis. Claro, em cada uma desses três Sujeitos Sociais, tão desiguais, há uma miríade de nuances. A polícia, por exemplo: não importa a variação de sua capacidade, em termos de treinamento ou truculência, não é Sujeito Social no sentido amplo maior. Sujeitos Sociais amplos são os governadores, que controlam a polícia, e governadores são resultado de uma combinação de  ferramentas como tropas, votos, lideranças, orçamentos, organização burocrática etc.

  O governador é o representante de uma força maior, uma força social, representante de um Sujeito Social. Polícia, não, aqui não discuto tecnicalidades. Insisto: polícia obedece, é estamento menor, é tecnicamente o braço tipo varejo das Forças Armadas, braço por sua vez da Força Social Maior, do Sujeito Social Maior que no caso é Dilma Rousseff.

 A polícia, em suas diversas variações estaduais, e mesmo a Polícia Federal, são meras ferramentas de uma das três complexidades que aqui chamo de Sujeitos Sociais. Nada a ver com Marinha, Exército e Aeronáutica. Este conjunto, essa tríade clássica do Século 20, já constituiu um Sujeito Social em algumas ditaduras do Século 20, mas hoje as três armas são mera força ou ferramenta de atacado, ferramenta de um dos três segmentos que compõem o Sujeito Social Maior, o Poder Federal, ou os Três Poderes na última instância instalada em Brasília. Poder Federal e suas ferramentas não entram nessas questiúnculas internas como a Primavera dos Ônibus, questiúncul sim, mas uma baita crise.

Bem, parece complicado, é complicado, mas não muito. Resumindo: a força bruta na rua de cada cidade vivendo a Primavera do Ônibus é apenas um apêndice empírico de um dos três Sujeitos Sociais nessa crise política, ou seja, as polícias são itens à disposição dos governos estaduais. Trato aqui cada governador como um dos três Sujeitos Sociais desse fenômeno da Primavera do Ônibus apenas porque é algo interno, não envolve Relações Exteriores, não envolve diretamente anda a Dilma nem as suas ferramentas gloriosas, que são as nossas queridas Forças Armadas. Então o cenário é provinciano, apesar dessas comparações com protestos no Cairo e na Turquia.

Bem ,vejamos os três Sujeitos Sociais nessa Primavera do Ônibus. Claro, tudo parece confuso porque assim como existem várias corporações policiais em cada região do Brasil vivendo a Primavera do Ônibus, existem várias forças menores compondo o vigor, para o bem e para o mal, nos outros dois Sujeitos Sociais, que são basicamente um núcleo inicial de jovens irritados com uma série de iniquidades e mazelas das administrações públicas, e a maioria, o terceiro Sujeito Social, o grosso da sociedade que tenta compreender a complexidade da crise, porque claro é uma crise que já envolve a Federação esse fenômeno da Primavera do Ônibus.

O Sujeito Social que vai às passeatas é um animus, um Zeigeist (ou espírito de época ou fantasma do tempo em alemão mais literal). Esses grupos crescentes de jovens ainda não têm noção do que representam. Não há partidos políticos que os comandem, não há causa específica em cada cidade. Há até demandas divergentes entre os jovens manifstantes de uma mesama cidade. Jovens do Sujeito Social que sai às ruas de Porto Alegre, Natal ou Sorocaba, nada têm a ver com angústias cariocas sobre uma sensação, não comprovada judicialmente, de que o governador aqui, o Sérgio Cabral, envolveu-se nebulosamente com empresários e licitações de cartas marcadas.

O lance dos 20 centavos da passagem de ônibus é apenas um start, um estalinho, uma espoleta, uma estrela, um símbolo a avisar: há que se mudar a forma de políticos no poder se dizerem honestos e transparentes. Não basta dizer, não basta mais parecer aos olhos técnicos do Judiciário que é honesto e transparente, tem que ser clara e politicamente aceito nesta condição de ficha limpa aos olhos de número crescente dos dois outros Sujeitos Sociais.

Embora o fenômeno da Primavera do Ônibus não tenha nada a ver com a Turquia nem com o Cairo, existe sim um ponto em comum que é o start, a estrela, a espoleta, o estalar de uma explosão misteriosa nesses contatos digitais imediatos via internet, o tempo, o big bang contemporâneo. Mas temos, bem ou mal, uma democracia, uma integração da identidade nacional que nem de longe Egito e Turquia podem dizer que possuem. Parece que sonham em ter lá pelo menos uma melhor democracia. Mas lá eles ainda se matam por etnia e religião.

Nós, no Brasil, não. Nós nos amamos do rio Oiapoque ao rio Chuí. Não tem religião nem cor de pele que nos desuna em todos os campos afetivos. Baiano negro casa com carioca branca, carioca negra casa com ucraniano paranaense. E muito ao contrário do nosso costado hispânico de 13 países, aqui somos 27 unidades felizes do ponto de vista da esperança em cada olhar, em cada possível cara metade.

Mas estamos mal, a Primavera do Ônibus nos mostra isso: existem dois Sujeitos Sociais muito insatisfeitos com o outro Sujeito Social, o dono do orçamento advindo dos impostos e o administrador das ferramentas, os governantes comandando as corporações policiais e militares, estaduais e federais. Os jovens dão a cara a tapa. O terceiro Sujeito Social, a grande maioria da sociedade, analisa, com frieza e distância das ruas, sobre como proceder a cada movimento desse fenômeno crítico e com toda cara de vertiginoso.

A maioria que não vai às ruas nem precisa ir, só a ameaça de ir já muda a configuração de possibilidades de resultados desse encontro brasileiro de três Sujeitos Sociais nesse lance já histórico da Primavera do Ônibus.

Assim como o lance dos 20 centavos é o pretexto da Primavera do Ônibus, os punk-vândalos são ou foram o pretexto de uma tentativa inicial fracassada de um Sujeito Social matar os protestos no nascedouro do fenômeno. Os punk/vândalos estão sendo varridos pelo número crescente de pacifistas do Sujeito Social composto inicialmente por estudantes. Os punks-vândalos se desmoralizam com tantas câmeras digitais da polícia e da própria galera jovem nas ruas. O grito de ordem desse Sujeito Social iniciado por jovens é paz e grito. Os punk/vândalos, e entre estes estão também os agentes infiltrados dos governantes, querem não o grito, mas o agito, levam armas, até foguetes, são jovens radicais torcendo para que a grande maioria pegue em pedras, sucumbindo às provocações.

Como não há lideranças visíveis nem demanda específica nas várias manifestações de rua da Primavera do Ônibus, paira uma sensação de anarquia. Ilusória sensação.

A grande mídia, que é uma ferramenta de um dos três Sujeitos Sociais, os governantes, não é cão, não é fidelidade incondicional. A grande mídia vinha sendo isso, mas desapeia, desembarca, vira ferramenta dos outros dois Sujeitos Sociais. Nas passeatas das Diretas Já foi assim, a grande mídia desapeou com o crescimento das manifestações.

Nos dias de hoje, se dois desses três Sujeitos Sociais se unirem, aí já não importam as diversas ferramentas de cada um dos três. Aí é avalanche, é ou revolução ou continuísmo.

Sim, temos leis, democracia, o pior sistema de todos sendo o único que aceitamos, ó Winston Churchill! Sim, ordem judicial se cumpre. Leis são ordenamentos, a lei é dura, mas é lei, a lei é legal, mas por vezes pode não ser legítima. A democracia demanda aprimoramento. Por vezes, este aprimoramento demanda violência. Hoje temos o primado das leis, que são decisões legais, cumpram-se todas elas, mas que nem sempre são legítimas, pelo menos aos olhos e sentimentos de integrantes de dois dos três Sujeitos Sociais. Não sei se esse sentimento de afronta a leis por serem episódica e eticamente ilegítimas vai ocorrer, ou se já está ocorrendo. Mas, apesar de sermos cordiais na brasilidade, as injustiças estão machucando no dia a dia, e os 20 centavos valem não mais que uma vida, 20 centavos compram uma nova história.

Na Passeata dos 100 mil em 1968, o grande dramaturgo Nelson Rodrigues fez a mesma coisa que hoje faz o grande cineasta Arnaldo Jabor. Desprezar um Sujeito Social no nascedouro. Nelson disse na ocasião: não vi nenhum negro nem mulato na multidão na Cinelândia. Ambos são gênios e a um só tempo, idiotas.

Onde tudo isso vai parar? Não tenho a menor ideia de nem onde eu mesmo vou parar com essas reflexões. Em Paris e Praga não havia lideranças, havia espírito de época. O Muro de Berlim começou a cair em Praga duas décadas antes...

No dia 20 próximo, quinta-feira, haverá mais um teste no Rio de Janeiro. No último, o do Dia de Santo Antônio, a manifestação foi relativamente pacífica se comparada à semelhante paulistana, e a grande mídia televisa mostrou ao vivo, sem dizer números de manifestantes cariocas. Sites e jornais falaram em 200 jovens, depois, centenas. Vinte e quatro horas depois, o site de um pequeno grande jornal em crise chamado O Dia falava que foram três mil jovens. Mas havia mais de um quarteirão cheio na Avenida Rio Branco. Eram de 10 mil a 20 mil.... No próxima quinta-feira talvez sejam de novo 100 mil, ou talvez não vá ninguém, você que acredite no palpite que você quiser.

Condoreira, a cúpula do Judiciário segue entre vestimentas ridículas e cacoetes eruditamente linguísticos ainda mais ridículos. Trinta mil por mês e ar refrigerado. Nada de SUS. Mas talvez o SUSTO já esteja aí.

O susto pode virar sujeira, sangue, e a primeira vitima, Geraldo Alckmin, já foi pro vinagre da história. Ainda tem mídia no seu lado de Sujeito Social. Mas bem menor do que ontem, e amanhã, será ainda menor ou nada com relação a anteontem.

 O maior Sujeito Social nessa crise, o silencioso, não teme nenhum dos dois Sujeitos Sociais nas ruas. Ainda vai arbitrar. Espero que sem sustos mais desagradáveis do que esses primeiros.

As polícias e as Forças Armadas, a exemplo das mídias mais poderosas, também não guardam fidelidade incondicional aos Sujeitos Sociais aos quais servem.

Rezo e torço: se esses três Sujeitos Sociais hoje numa encruzilhada não puderem se entender, que vençam os dois que se unirem em nome do melhor para a justiça, sinônimo de rapidez contra a incompetência, rapidez contra a roubalheira e contra a própria morosidade do fazer valer a verdade. Já dizia Ruy Barbosa, sinônimo da contradição – porque ele pregou e conseguiu incinerar a história da escravidão de africanos no Brasil -: Justiça lenta não é justiça. E jovens sempre foram apressados.

Como coroa que já sou, não sonho mais com pressa nenhuma, nada de afobação, sou apenas um grão, apenas mais um no terceiro, e aparentemente, só aparentemente sossegado Sujeito Social. Talvez eu esteja lá pessoalmente no dia 20. Talvez não precise estar. Nada de partidarismo nessa reflexão. Votei no Sérgio Cabral, vou votar, salvo engano, no Pézão. Mas hoje o que aqui se discute não é o Rio de Janeiro, é o Brasil.

Dilma, o tal preço da governabilidade, os quase 40 ministérios, está desabando. Abre o olho. Se depender de nós, o terceiro Sujeito Social, você está reeleita, mas a paciência está acabando. Pode amolar a adaga, descê-la. Em caso de dúvida entre Gilmares e Joaquins, convoque as ruas, se é que elas já não foram convocadas.
(Por Alfredo Herkenhoff )

sexta-feira, 14 de junho de 2013

A Primavera do Ônibus

 A Primavera do Ônibus 1/6
 




A grande imprensa, depois de mais que uma omissão, uma covardia modorrenta, qualificando generalizadamente os manifestantes como vândalos, acordou. Ou melhor, os chefes das redações foram acordados não pelos vidros quebrando num ponto de ônibus na Paulista, mas pelos choros de dor de repórteres atingidos pelo terrorista Geraldo, foram acordados por não-manifestantes levados na pancadaria de roldão, foram acordados não pelos seus últimos velhos leitores, a maioria de gente bem sucedida e conservadora, mas foram sim acordados pelos seus repórteres e principalmente pela sociedade que está vendo o óbvio: os manifestantes apenas imploram por ética, muito mais abaixo os 30 dinheiros do que abaixo os 20 centavos.
 
A Primavera do Ônibus continua aceitando novos passageiros. Ninguém sabe do ponto final.
 
Sérgio Cabral se portou bem ao manter a sua polícia em calma ontem na hora que rolava pancada em Sampa. Lá e cá no Rio os jovens manifestantes não querem nenhuma violência, querem ter voz, é rito de passagem. Embarcaram na vida política. A importância dada pela grande mídia a meia duzia de punk-vândalos que tentaram o quebra-quebra já foi reduzida ao que sempre foi, foi nada, pequeno transtorno politizado pelos desesperados no poder e politizado e anatemizado ou demonizado pelos granfinos da grande mídia.

 

Sérgio Cabral deve se preparar não só para continuar mantendo a paz, mas apoiar as manifestações, claro, surgem sempre frases ofensivas a governantes, fiquemos apenas com as mais criativas, as mais bem humoradas, as mais inteligentes.
 
Não tendo nenhum caráter partidário, a Primavera do Ônibus pode ser aproveitada por políticos mais sensíveis.
 
Os candidatos Pezão e Lindberg sabem que não devem se meter, mas podem sim manifestar solidariedade aos jovens, devem se manifestar pelos manifestantes. Cabral deve aproveitar a frota do transporte de massa para promover mudanças no ano e meio final do seu segundo mandato, deve aproveitar também a tropa e mostrar: vamos agir como se age no mundo civilizado, vamos proteger essa rapaziada. Estamos no mundo das Confederações, estamos no esforço hercúleo de uma parada olímpica. Vamos nos comportar. E o governador poderia aproveitar a anunciar um aumento salarial para os policiais, que estão entre os mais mal pagos do Brasil,
 
Geraldo Alckmin já não tem essa chance, perdeu o bonde da Primavera do Ônibus. Este governador não tem mais chance de conhecer o ponto final. A viagem dele já terminou, Geraldo terrorista vai padecer no inferno ao lado do seu sócio oculto, o próprio capeta.
 
Em um ano e meio, Cabral, você ainda consegue melhorar o seu governo. Abre o olho. Desafie os manifestantes a botar 100 mil na Rio Branco pacificamente pedindo ética na administração pública. Muitos eleitores seus irão. Irei. Mas quero garantias de respeito mútuo.
 (Por Alfredo Herkenhoff)

Seguem mais cinco takes sobre o tema neste Correio da Lapa

A Primavera do Ônibus e os estímulos para a repressão cruel (2/6)














A Primavera do Ônibus
 e os estímulos para a repressão cruel (2/6)

 

Estimulada pela Folha, pelo Estadão, pela Abril e outros mais, com endosso de nomes consagrados de cronistas hiper conservadores na TV como José Nêumanne e Arnaldo Jabor, a polícia baixou o pau covardemente em jovens manifestantes que tinham percorrido um trecho inicial da passeata gritando "não à violência". Queriam apenas protestar. Mas aí a polícia, qual horda de vândalos obedecendo a bordões fascistas do governantes e de uma imprensa arrogante, uma polícia mal paga, mal treinada do general Geraldo Nazi-sim, a mesma que já mostrara suas garras contra gente pobre em Pinheirinhos, naquele terrenão do banqueiros e dos Nagi Nahas da vida, entrou em ação com sanha SS. Vexame.


 

 
 
E ficam tentando derrubar o governo federal com piadas de mau gosto. Mesmo com a inflação da comida nos últimos meses, não dá nem pra pensar em tucanos. A Folha sentiu a paulada e o haraquiri e mudou a manchete envergonhada que era favorável à repressão oficial. Os repórteres das Organizações Globo com depoimentos impressionantes sobre o ânimo e a premeditação da violência das tropas do governo ontem em São Paulo. A tropa tinha de estar lá protegendo os manifestantes e contendo apenas aqueles grupelhos de punk/vândalos que ontem já não tinham nem mais clima para prosseguir estragando um sentimento coletivo de não rotundo a tanta injustiça, a tantas mazelas administrativas.
 Agora tenho certeza: é hora de mais protesto. Protestar pedindo também uma polícia com melhor remuneração e um mínimo de civilidade. A violência policial no Brasil estimula a violência social a se tornar mais violenta.
Emoção no link:
 
(Por Alfredo Herkenhoff)
 

A Primavera do Ônibus - RITO DE PASSAGEM (3/6)

 A Primavera do Ônibus - RITO DE PASSAGEM (3/6)

Geraldo partiu e a UNE sumiu. Os protestos nao são partidários, não sao partidaristas, são um rito de passagem. E

stamos, nós, pobres, ricos e remediados, todos mal das pernas. A sociedade está podre. Geraldo é terrorista.

Vejam as faixas no Rio e em Sampa, nao tem vermelho PT, nao tem verde amarelo, tem sim uma diversidade... Vejam só os dizeres dessas três imagens!






(Por Alfredo Herkenhoff)

A Primavera do Ônibus – Geraldo Verdugo (4)


A Primavera do Ônibus – Geraldo Verdugo (4/6)
 
Repórteres, manifestantes e não-manifestantes levando tiros disparados pelo governador e por editoriais de uma imprensa arrogante.

(Por Alfredo Herkenhoff)

 

A Primavera do Ônibus sob supervisão da Opus Dei (5)

 
A Primavera do Ônibus sob supervisão da Opus Dei (5)

Ele se diz católico, vai com sua primeira-dama à missa e comunga. Desconfio que seja ateu ou sócio do capeta. Como São Paulo vota tão mal! E não é de hoje. Por que isso?

(Por Alfredo Herkenhoff)

 

 

 
 

 

A Primavera do Ônibus - QUO VADIS, SEU COVARDE? (6/6)


A Primavera do Ônibus - QUO VADIS, SEU COVARDE? (6/6)

 
Os tucanos tiveram duas semanas de altíssima exibição na TV em rede nacional. Mas, dias atrás, a pesquisa no auge do efeito dessa megaexposição deu a Aécio apenas um pouco mais do que os dedos das mãos. Para os tucanos, cientes que estão de que a batalha para derrotar Dilma nas urnas está mais que perdida, interessa qualquer estocástica randômica, como o caos das ruas, torcer para que o imponderável do caos em algum momento se volte contra Brasília. Promover essa repressão fascista é como embaralhar as cartas para ver se rola algo melhor. Torcer para que essa repressão desproposital produza um caos desconhecido. O conhecido são eles mesmos, os tucanos, que não se notam, não percebem o quão longe cada vez mais ficam de mim.

 

Na democracia, a polícia é para proteger manifestantes e não-manifestantes. Se eu fosse a Dilma, eu visitava as vítimas da Rota e de outras forças policiais maldosamente usadas por um governador infernalmente cruel, ignorante, não vale nenhum dos votos que teve. Vade retro, Geraldo, repressor moralmente sem nenhum amor, nenhum valor, nenhum respaldo!

(Por Alfredo Herkenhoff)