sábado, 22 de junho de 2013

BRASIL NA RUAS Uma agenda para nós e para Dilma


BRASIL NA RUAS
(Em 22/06/2013)

Uma agenda para nós e para Dilma


A história real não é bem aquela que emergiu da sua fala ontem à noite na TV. Mas a senhora abriu boas brechas para o Brasil nas Ruas avançar.

O fenômeno social Brasil nas Ruas saiu vitorioso na sua primeira semana de protestos. Baixou a tarifa, amansou um pouco - e não em todas as capitais - a polícia, isto é, os que a comandam, e adiou a PEC 37. Eram três dos itens que uniam os manifestantes.

Agora há uma miríade de reivindicações. Como pinçar entre estas algumas prioridades que unem os manifestantes? A principal é a mais difícil, complexa, demorada. Envolve a cultura de baixa civilidade. É a luta conta a corrupção que grassa em toda parte, em todos os poderes, dentro e fora dos governos.

Uma reivindicação de visibilidade mundial não une os manifestantes. É a coisa da Fifa, Copa do Mundo e dos estádios.

Como não há líder, o Movimento Passe Livre conseguiu os 20 centavos e até anunciou que não convocaria mais passeata. Com isto, reconheceu que não lidera. Todo mundo deve botar para fora seus anseios. E dessa quantidade que saiam as pautas de qualidade, isto é, a agenda que une de verdade os manifestantes.

Eu, por exemplo, sou contra o Fora Dilma. Sou contra a ideia de tumultuar as semifinais da Copa das Confederações. Concordo com Dilma, temos que ser educados, generosos com os nossos hóspedes. Somos anfitriões dos que estão no exterior nos vendo. Temos que ser generosos com os que estão aqui torcendo pela Espanha, a minha querida Itália e pelo Uruguai. Fico feliz com o Mundial 14 aqui no Brasil. Claro, sabemos que a Fifa é um antro de velhinhos espertos. Já "comandamos" essa máfia do futebol com Havelange e tal.

Fico feliz com os 12 estádios, espero que nenhum caia nem vire Engenhão. Temos as Olimpíadas de 2016. Sim, claro, há muito superfaturamento, roubalheira, erros nas construções. Os futuros operadores desses monumentos esportivos precisam ser vigiados, como os construtores, investigados. Mas sem tocar nos compromissos que firmamos com a Fifa e com outros povos. Esta pauta não une os milhões de manifestantes. Então eu a renego como prioridade de agenda para os próximos dias.

Dilma foi à TV e exibiu, com palavras cuidadosas, um ar de moderação. Os 15 minutos que antecederam ao seu "pronunciamiento" foram os mais loucos da loucura que acomete a grande mídia brasileira nesses dias que mudam o nosso mundo. O Jornal Nacional só deu destaque para o vandalismo. Um jornalismo que beira o estilo criminoso, ao criminalizar esse furacão de democracia que são as manifestações de milhões nas ruas.

Cabral e Paes já tinha feito seus pronunciamentos na TV durante o dia de ontem. Enfim, governantes e os mais poderosos congressistas já tinham demonstrado como estão alinhados com o jornalismo haraquiri praticado pelas grandes Redes de TV e pela grande mídia impressa/moribunda.

Basicamente, este "erro", que na verdade é uma estratégia contra o Brasil nas Ruas, consiste fundamentalmente em confundir o maior número possível de pessoas com relação ao que hoje de repete como protesto democrático. É a questão, sim, dos vândalos. Vândalo, não! Vandalismo, não!

O erro na verdade é um foco editorial, politicamente destinado a esvaziar o fenômeno social. Ou seja, políticos e donos da mídia consideram que o Brasil está ameaçado por uma minoria de vândalos.

Preciso repetir: há três tipos de vandalismo em ação neste momento. O vandalismo de saqueadores, que aproveitam a comoção, a multidão, para quebrar lojas, roubar mercadorias, é o clássico, a ocasião faz o ladrão. Este tipo de vândalo não merece bala de borracha, mas bala de chumbo.

O outro vândalo, que está sendo qualificado como se também fosse um saqueador, é um vândalo na verdade político, é um radical na revolta, ele só ataca símbolos do poder público. Palácios, assembleias, prefeituras e governos. Claro que dói ver prédios e até monumentos arquitetônicos quebrados. Mas era um preço a pagar nesses primeiros dias, nessa digamos fase heróica, os primeiros ovos de uma omelete social ainda distante. Esses vândalos revoltosos e políticos não foram capazes de demover nenhum participante do movimento pacífico da massa a continuar saindo às ruas. Milhões saem às ruas sabendo que haverá esses dois tipos de vândalo, o revoltoso político e o ladrão.

Quem confunde esses dois para justificar a violência da policia são os grandes meios de comunicação. A internet tem milhares de vídeos mostrando os excessos da polícia. A grande mídia raramente mostra um excesso do vandalismo das repressões governamentais, e quando mostra é por pouco tempo. Foi preciso que jornalistas levassem bala no olho para que as redações acordassem e assustassem os donos da grande mídia. Mesmo assim, esse movimento "A Imprensa Acordou" durou pouco e retrocede. Amansou Alckmin, mas parece insuflar a arrogância de Cabral e Eduardo Paes.

Ainda não chegamos ao terceiro vândalo, o pior do mundo, o que verdadeiramente une o povo brasileiro nesse Grande Não.

Precisamos de uma pauta antes de pensar em controlar esse vândalo maior que é o Estado, que são os nossos representantes nas três esferas da República nas três instâncias, os Três Poderes municipais, os Três estaduais e os Três federais.

Sem saber que ritmo terão as ruas nesses últimos dias de junho, se muita gente ou uma pausa para uma retomada mais grandiosa a partir de 1º de julho, não nos resta alternativa senão buscar uma agenda que nos una.

A fala de Dilma é um bom começo. Há temas genéricos que nos encantam. Avançar, como ela disse. E há sinais claros de que a sua retórica não nos satisfez. O seu pronunciamento está eivado de retórica vazia. Ontem circularam pelo Planalto, além do ministros e assessores tipo Franklin Martins, gente suspeita como José Sarney e Renan Calheiros.

Ora, a resposta de Dilma a esses primeiros dias que abalam a República não denotam e nem conotam nenhum movimento por parte da minha querida presidenta de que ela seja capaz de reduzir a taxa de corrupção reunida ao seu redor em nome da tal governabilidade. Muito ao contrário: Dilma teclou como a grande mídia, junto à grande mídia, martelou a ideia falsa de que não há três tipos de vândalos e que este vândalo demonizado não será tolerado porque estamos sob o primado da lei.

Mas a agenda, vamos a ela. Dilma disse que quer se reunir com representantes desse imenso Brasil nas Ruas. Mas como se não há lideres? Que conversa será essa? Então para encurtar: temos duas prioridades para os próximos dias.

A primeira: distinguir os dois tipos de vandalismo popular nas ruas. Os saqueadores ladrões, e os revoltosos políticos que atacam monumentos e símbolos do poder público. Eu quero mudança dentro dessa nossa democracia, sem tanto sangue, creio que a maioria também quer. É prioridade, a meu ver, que os milhões de manifestantes façam as autoridades compreenderem que há esses dois tipos. O ladrão que não merece nenhum perdão na hora de comoção nacional. E o vândalo revoltoso político radical, que tem apenas que ser enquadrado e marchar apenas como possibilidade última, a chamada linha de frente. Eu, você e mais 500 mil brasileiros vamos a uma passeata e tal, pacificamente, e sabemos que ali no meio haverá 2 ou 3 mil vândalos revoltosos políticos radicais. E estes 2 ou 3 mil irão sabendo que a ordem da maioria é não quebrar mais nada, nenhum prédio público. O recado da marquise do Congresso já foi dado, já corre o mundo. Não devemos repetir esse teatro. Os políticos já sabem que o povo pode entrar em qualquer prédio, monumento público, e que se for preciso, não será mais invasão simbólica para tirar fotos históricas, será para extirpá-los, levá-los ao cadafalso mais próximo, guilhotina ontem, quebra institucional ontem, revolução ontem, guerra civil ontem, enfim, a história no mundo está plena desses movimentos sociais.

Então a prioridade são manifestações pacíficas com os vândalos revoltosos políticos devidamente enquadrados.

E a segunda agenda dos três itens prioritários para o próximos dias... São três itens básicos, vamos chegar lá. A segunda é fazer entender à autoridade que a policia deve ficar o mais longe possível das multidões. Pouca policia, concentrada e hiper armada, excita os revoltosos vândalos políticos radicais e principalmente os vândalos ladrões. Menos policia visível, menos violência nas grandes manifestações democráticas. São Paulo já dá sinais disso. Deixar a policia escondida dentro dos prédios, e não diante de suas fachadas.

A propósito de policia, a corporação é como os cães, obedecem os donos, os comandos. Há cartazes ora insultando a policia, ora conclamando a participar do movimentos de rua porque os soldados ganham péssimos salários e aparecem como os nosso algozes, quando são apenas os paus mandados literalmente pelos verdadeiros verdugos, os governadores que mandam bater.

Há milhares de pequenos vídeos no youtube mostrando cenas de covardia ou despreparo da policia com milhares de manifestantes pacíficos. A polícia não é um tipo de vândalo, ela é uma vítima na condição de braço mais cruel do terceiro vândalo, que é o Estado.

Por ser uma instituição social, a maior de todas, o Estado se vale de um anonimato, o governante nunca é responsabilizado pelas ordens que a policia cumpre. Quando muito, o governante diz que vai mandar investigar uma denúncia qualquer de excesso de repressão.

Então, junto com o enquadramento dos dois tipos de vândalos no meio dos milhões de manifestantes pacíficos, outro item prioritário da agenda dos próximos dias é exigir do Estado que se contenha nesse momento de mandar a policia enquadrar a bombas e tiros os excessos de vândalos revoltosos políticos. Limite-se aos vândalos ladrões.

Menos policia visível nas passeatas e as passeatas serão as mais pacificas do mundo. A multidão, sem policia por perto, dobra a sua minoria revoltosa radical. E com isso, reduz o trabalho da polícia em nome da ordem, facilita a questão dos vândalos saqueadores de mercadorias e inimigos de toda ordem mínima.

Numa outra hora poderíamos discutir a questão dos infiltrados nesse dois tipos de vândalo nas manifestações, que são os agentes da própria policia, agentes de partidos políticos, agentes de sindicatos, centrais sindicais etc.

Então já desenhamos os esboço das prioridades. Conter os dois tipos de vândalos nas ruas e o braço armado do terceiro vândalo, o Estado, vândalo sim porque oferece aos que o sustentam com impostos esses péssimos hospitais e péssimas escolas para tantas crianças. Oferece policiais mal remunerados e mal treinados.

Contidos esses três vândalos apenas na esfera das ruas, das passeatas pacíficas, adentramos no discurso da Dilma exatamente aqui.

Quem serão os interlocutores da presidenta? Sugiro, e tenho certeza de que muita coisa que agora passo a sugerir talvez não seja factível, mas são ideias que funcionam como sementes para adensar ideias melhores, sugestões melhores para formar uma representação para interagir com Dilma Rousseff.

Criar um Conselho Popular do Brasil nas Ruas, com cerca de 100 integrantes. Esse conselho por sua vez vai eleger imediatamente um grupo de meia dúzia, não muito mais, nem muito menos.

Quem seriam esses 100 a nos representar? A OAB entraria com um nome em nome do presidente da OAB nacional e das 27 seccionais. Ele votam entre si. Os 81 senadores escolheriam um senador. Os 500 e poucos deputados, um deputado federal. A CNBB, um nome, bispo ou freira, pouco importa. Os evangélicos, um nome. As universidades federais, dois nomes, um estudante em nome dos alunos de todas as universidades e um professor em nome de todos os professores de todas as universidades. As estaduais do mesmo modo, dois nomes. As ongs brasileiras, um nome em nome de todas as milhares de ongs do Brasil. Também entrariam um nome em nome dos 27 governadores. O poder legislativo estadual com um nome em nome das 27 assembleias estaduais de deputados. O Judiciário Federal com um nome, talvez de um magistrado aposentado do Supremo. A Polícia Federal com um nome. As polícias militares com um nome em nome das 27 corporações estaduais. E assim por diante, formaríamos uma cadeia de representações passando ao largo dessas nocividades que são os atuais partidos políticos.

E esse conjunto de dezenas de nomes escolhidos no calor do Brasil nas Ruas teria uma única missão. Eleger um grupo de sete integrantes, ou 11 no máximo, um número ímpar, com poder decisório, para interagir com a comandante suprema Dilma Rousseff. Formular a agenda maior contra o terceiro vândalo.

Apesar de cartaz fora Dilma, fora Alckmin, fora Cabral, fora fulano e fora sicrano, estas reivindicações não unem o Brasil nas Ruas. Ao contrário, diluem. Claro, quem não gostaria de ver Renan na cadeia? A maioria gostaria de vê-lo punido por desmandos. Mas a agenda aqui sugerida surge apenas como um foco em itens prioritários para os próximos dias.

Enquadrar emergencialmente os três tipos de vândalos na ruas com o objetivo maior, que é posterior, é uma reforma radical, é enquadrar o terceiro e maior vândalo, os péssimos serviços do estado com essa democracia incapaz de enquadrar corruptos.

Riscos, sim, a gente morre de susto, bala ou vício. O susto pode ser o SUS, a bala pode ser de plástico, hall ou chumbo, e o vicio, pode ser a cracolândia exibindo nossas chagas em todas as cidades. Ou a mania de querer levar vantagem em tudo, problema cultural esse que prevalece num Congresso transformado em valhacouto de negociatas e troca-troca de toda ordem, grana e favores, cargos e comissões. Congresso que faz com que Dilma não tenha sequer uma oposição séria.

A base governista está ampla demais e mostrou as suas garras ontem à noite em cadeia de rádio e TV. Dilma ontem não parecia a minha querida presidenta. Parecia mais um quadro na grade da programação de uma mídia que vive do dinheiro dos impostos pagos pelos milhões que estão nas ruas.

Forjar esse conselho de 100 para eleger um pequeno de numero impar, sete ou 11, pode parecer complicado, mas em dez dias, se faz. A internet está aí, é um mutirão de emergência com novos representantes numa hora grave. Não é para ter folga, nem sábado nem domingo, não tem hora, é de dia, de noite, de madrugada, é uma emergência para institucionalizar o Brasil nas Ruas de modo a mostrar aos nossos representantes nas cidades, nos governos estaduais e no poder federal que ninguém está brincando de mudar o Brasil. Está-se mudando o Brasil.

O movimento é pacífico, apesar dos três tipos de vândalo. Mas se for acuado, se milhões de nós formos acuados, reprimidos a bombas e cacetadas ao leu, um triste cenário ameaça absolver um dos três tipos, e com isso reforçar a ação dos revoltosos políticos que atacam prédios públicos. Aí, sim, estaríamos à beira do caos, da revolução, talvez até de uma guerra civil.

Sinto isso na rua, a ira, a indignação crescente. Ontem à noite, conversei com os simpáticos irmãos Garcia, que são donos de uma loja de ferragem e peças domésticas na Praia de Botafogo. A loja Irmãos Garcia é apelidada no bairro de "Quebra-galho". Pois um dos Garcia me disse que ontem acabou a folha de compensado. Comerciantes da Zona Sul do Rio comprando às pressas folhas de compensado temendo balbúrdia, temendo por suas vidraças. Isso é grave.

A grande mídia está pintando uma mentira, que é fazer essa fusão de dois tipos de vândalos e ignorando o terceiro, com seu braço cruel, que é a pobre polícia batendo sem compreender por que bate. Com isso, a grande mídia excita os três tipos hoje nas ruas.

Dilma:

Nos próximos dias, enquanto se forja uma representação mínima do Brasil nas Ruas, faça um pouco por nós. Reduza o seu ministério, corte de uma penada pela metade, de 40 para 20, corte seus 20 milionários ministérios/20 centavos, reduza a governabilidade deles. Dê um sinal às multidões que só querem botar ordem nessa desordem. Dê um sinal melhor de amor ao Brasil e por amor a essa democracia que se quer melhor e que você ajudou a nascer e vai ajudar a fazê-la renascer, ou quase isso, porque a democracia está quase morta na vozes pacíficas das ruas.