sexta-feira, 6 de março de 2009

BETO MONTEIRO E SUA HISTÓRIA

O velho malandro e a cultura de resistência


Beto Monteiro é aquele autêntico malandro carioca,usando naturalmente calça de linho, sapato bicolor e panamá. Beto é cantor e compositor que reina na boemia, especialmente da Lapa, por onde passaram e passam as gerações dos maiores artistas do Brasil. Beto Monteiro interpreta canções próprias e clássicos de Geraldo Pereira, Moreira da Silva, Ismael Silva, Cartola, Ciro Monteiro, Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Chico Buarque.
Por cultuar o jeito carioca de ser, Beto Monteiro está acima dos modismos e faz um trabalho cultural de resistência,inventando um samba de alta qualidade e ajudando a preservar o melhor da música popular. Em três ocasiões o samba vencedor do Bloco das Carmelitas foi feito por Beto Monteiro e o parceiro Kelson Montanha. Aliás, Beto Monteiro gravou um CD reunindo toda a sua experiência como principal compositor do Bloco das Carmelitas.
Beto Monteiro gosta de compor em parceria, tendo canções com gente como, por exemplo, Serginho Meriti (autor de Deixa vida me levar), com o fotógrafo Roberto Garcia e até com o saudoso ator Grande Otelo.O artista tem dois CDs em gestação, parcialmente gravados,incluindo arranjos de Paulão Sete Cordas e participações de Esguleba, Zé Luiz Maia e Roberto Marques.Também tem gravações esparsas em coletâneas.
Em vários momentos de sua vida agitada, criou projetos e dirigiu espetáculos, como o Chorinho da Gafieira, na Estudantina. Este projeto
contou com a participação especial do Chapéu de Palha e homenageou em vida – nos anos 80, figuras ntológicas como Jackson do Pandeiro e Rafael Rabelo.

Beto Monteiro lembra como abraçou a profissão: "A música surgiu por paixão. Ainda garoto, eu via meus irmãos ensaiando na minha casa com Taiguara. Desde adolescente freqüento a Lapa. Sou do tempo do Velho Capela, restaurante que ficava no antigo Largo da Lapa, pertinho da Cecília Meireles. No carnaval, eu saía com meu pai, que me levou ao Velho Capela. Eu admirava aquelas colunas de mármore.


Ficava maravilhado com a música e a folia, os pierrôs, as colombinas, os marinheiros. Sou do tempo da lança-perfume amarela, que jogávamos nas pernas das meninas. Nessa época era o nosso torpedo. A agente jogava o jatinho frio nas pernas para que as meninas olhassem. E a gente piscava o olho. A política só surgiria depois.


E com a cascadura militar de 64, minha formação se valeu de bambas como Edu Lobo, Geraldo Vandré e Chico Buarque". Beto Monteiro já se apresentou nos lugares mais inusitados. Já cantou em São Paulo, em Recife, em João Pessoa, em Lima, no Peru, em Roma e Paris. Só no Terreirão do Samba, foram diversos carnavais da Riotur. Mas o que mais o caracteriza é realmente a roda de samba em pequenas casas e bares, espetáculos como o que rolava no Instituto do Arquitetos na Praça Tiradentes, ou como o que rola no Hotel The Maze, do inglês Bob NadCarny, incrustrado numa viela da favela Tavares Bastos. No fins de semana, no coração da favela rola o Bossa Samba e Jazz, que atrai gente do mundo inteiro para a casa do antigo cinegrafista da BBC.
Beto Monteiro relembra um pouco de sua carreira: "Já fiz shows homenageando Noel, Vinicius, Cartola, Wilson Batista, Geraldo Pereira e tanta gente boa. Participei do show da Anistia, promovido pelo Partido Comunista Brasileiro em São Paulo. Trabalhei na Ponta do Corredor Cultural, no Caju, na antiga casa de banho de Dom João VI. Uma das coisas de que mais gostei de inventar e dirigir foi a série Chorinho da Gafieira. Levei ao Estudantina nomes como Altamiro Carrilho, Jackson do Pandeiro, Paulinho da Viola, Nelson Sargento, Hélio Delmiro, Rafael Rabelo, Monarco e Velha Guarda da Portela. Já me apresentei algumas vezes no Circo Voador. Gosto de trabalhar muito com músicos como Zé da Velha, o pianista Zezinho Moura, Roberto Marques, Paulão Sete Cordas. Gosto dos festivais de Santa Teresa, dos espetáculos no Parque das
Ruínas"


Beto Monteiro diz que foi "criado em Santa Teresa e domesticado na Lapa". Os dois bairros vizinhos têm muita coisa em comum além do casario do Rio antigo, Sobre Santa Teresa, Beto Monteiro costumam brincar: "É o único lugar do mundo onde avião anda de bonde". Sobre a Lapa, hoje revigorada pela abertura de tantas casas, Beto Monteiro lembra do período antes deste boom: "Tínhamos o Resendão, aquele bar ali na Rua do Resende. Saíamos do saudoso Saci, berço de boêmios em Vila Isabel, e íamos ao Resendão, onde o fim de noite reunia uma sopa salvadora, boa conversa e música tocada e cantada por gente como Pedro Mateus, João Nogueira, o compositor Garça. Aliás João Nogueira chegou a gravar Garça num dos seus primeiros discos. De Garça ele gravou Sétimo Dia. Mas no Resendão cantava o Pedro Mateus,que era cego e tocava um violão e cantava lindamente. Adelzon Alves produziu um trabalho especial com o Pedro Mateus, que já morreu".


Se fosse relembrar tudo o que já ouviu, ou cantou, Beto Monteiro teria de escrever um livro. O artista conhece um amplo material de alta qualidade e que se acha disperso, por dificuldades de mercado e modismos da mídia. Por isso, toda vez que surge uma oportunidade, Beto Monteiro não perde viagem.Apresenta as suas principais composições, que misturam saborosamente samba de breque,humor, balanço de gafieira, chorinho,e canta também clássicos da melhor MPB.

Com toda a sua experiência,Beto Monteiro defende a criação de um Memorial da Lapa, um espaço com homenagens e informações sobre o bairro que é o ambiente mais fascinante da cultura no Rio de Janeiro. Com a palavra, os arquitetos.


Beto Monteiro não tem dúvida de que na Lapa faltam informação e dicas para turistas, estrangeiros e brasileiros, falta informação para as escolas, para os estudantes. "A Lapa é o útero do samba carioca", garante o velho malandro. Os shows de Beto Monteiro não deixam de ser um memorial de toda essa emoção.