(E amanhã é o Dia do Luto de Manhattan e Meio-Mundo, incLuindo o nosso do Correio da Lapa, lembremos que morreram no atentado às Torres Gêmea quase 3 mil pessoas de quase 100 países, incluindo Brasil)
Lucas Mendes
No dia 10 de setembro, uma segunda-feira, véspera do ataque às Torres, escrevi minha primeira coluna de volta à BBC. Era sobre Michael Bloomberg, um rico que tinha US$ 4 bilhões, politicamente desconhecido que jamais tinha disputado qualquer tipo de eleição e era famoso por desprezar políticos.
Sem chances de ser candidato pelo Partido Democrata, numa cidade em que os republicanos perdem de 6 a 1 em eleitores registrados, ele tinha mudado de partido e concorria como republicano.
A coluna , que seria publicada dia 11 de setembro, foi para o lixo.
Bloomberg fez um modelo de campanha milionária e inteligente. Michael era um Miguelinho, objetivo, limpo, direto. Nenhuma crítica aos adversários. Foi eleito também graças à benção de Rudolph Giuliani (então prefeito de Nova York), que tinha recuperado seu prestigio com uma liderança impecável depois dos ataques terroristas. Com o melhor time de marqueteiros, sem carisma e uma retórica sem política, Bloomberg herdou uma cidade em recessão.
O business man brilhou. A cidade prosperou no embalo da Wall Street. Nos negócios privados e públicos, Bloomberg tem o toque de Midas. Giuliani tinha tirado a cidade da fossa moral , Bloomberg tirou a cidade da fossa econômica. Seus inimigos dizem que foi pura sorte: Ed Koch, um dos prefeitos anteriores, tinha quebrado os ovos, Giuliani fez o omelete e Bloomberg serviu o prato.
A primeira vez que encontrei Bloomberg foi na própria empresa, cinco ou seis anos antes de ser candidato. Tinha convidado um grupo de jornalistas estrangeiros para mostrar a invenção dele. Éramos uns vinte numa sala, cada um diante de duas telas ricas e coloridas de informações sobre empresas, finanças e economia. Se tivesse dinheiro, sairia de lá com com as telas do Bloomberg, o Picasso das finanças eletrônicas na internet.
Dois meses depois, ele foi meu guia pelos estúdios de TV e rádio. Eram modestos. Hoje tem mais empregados do que o New York Times e o Washington Post juntos.
Bloomberg começou a trabalhar em 66, literalmente de cuecas, no porão da corretora Salomon and Brothers. Era educado (engenharia na Johns Hopkins University e business em Harvard), esperto, subiu, mas irritou os patrões e foi rebaixado. Como consolação, ofereceram a ele a direção da I.T. - Information Technology -, uma divisão da corretora que na época não interessava a nenhuma outro executivo.
Dois anos depois de rebaixado, em 81, foi demitido com uma indenização de US$ 10 milhões e fundou a própria empresa para fornecer informações a corretoras. O primeiro cliente foi Merryl Lynch, que instalou 22 terminais e investiu US$ 30 milhões na empresa de Bloomberg. Hoje são 250 mil terminais no mundo.
Eleito prefeito, o business man Miguel, que só andava de limusine, se tornou figura popular no transporte coletivo, lê tabloides e bate papo com os passageiros. Quem resiste a um prefeito charmoso e bilionário que conversa com a massa?
Ele vai aos outros compromissos do dia e volta para casa de carro. Nos trajetos, escreve o jornalista Ben McGrath, o prefeito às vezes conta o número de papéis na rua. Bloomberg tem pavor de sujeira e se orgulha de trafegar vários blocos sem ver nenhum lixo em bairros que eram cobertos de entulhos quando ele tomou posse.
Seu índice de aprovação era parecido com o do presidente Lula quando decidiu propor uma mudança na lei no ano passado para disputar um terceiro mandato - depois de defender, com paixão, o limite de dois mandatos para prefeitos e vereadores -, que foi aprovado pela Câmara.
Ele tinha mudado de ideia por causa da Grande Recessão que explodiu no 15 de setembro de 2008 , com o argumento de que é o melhor líder para governar a cidade durante a atual crise. Perdeu pontos, mas lidera disparado nas pesquisas e será reeleito.
Bloomberg, em público, no metrô e na frente da câmeras, é Miguel, o Manso. Nos bastidores, ele é Miguelão. O homem mais rico da cidade e o oitavo mais rico do país, agora com US$ 16 bilhões, não faz conchavos, nem jogos políticos. Desmontou as patotas, desmoralizou ou contratou os adversários e os indecisos.
O trânsito, a limpeza e as escolas melhoraram. Até o crime, contrariando a tese que sobe em períodos de pobreza, continua a cair, 20% só este ano e 85% das vítimas tem passado criminoso. “Sao homicídios entre bandidos” , diz o prefeito.
No aniversário de oito anos dos ataques às Torres, um ano depois do colapso da economia, quase tudo funciona melhor na cidade que gerou as guerras do Iraque, do Afeganistão e a Grande Recessão. Nova York está melhor com Bloomberg, mas a política da cidade está morta. Compensa?