O preceptor de Fidel Castro, a Orquestra Tabajara tocando diante do ditador Fulgencio Batista abraçado com Assis Chateaubriand no Rio de Janeiro, o queixume do saxofonista contra o mau humor dos cassetas tabajaras da Rede Globo, o Baile das Artes, a festa de largo, a celebração infinita do Carrossel da Lapa, homenagens à classe em geral e ao Maestro Severino Araújo em particular
Trechos de um esboço do livro Carrossel do Lapa, aquele que nunca termina nem nasce.
By Alfredo Herkenhoff
A Orquestra Tabajara comemora as 15 mil e tantas apresentações, mas as horas ininterruptas do dancing no Largo dos Arcos põem a perder a chance do recorde mundial. O baile é mais do que um filme de 24 horas avançando. 24 horas também retrocedendo. Fulgencio Batista, o presidente ditador, sorri como se não fosse saber do fim. Sonha que é 1944 e passa a ser a caminho da vitória em 45. A guerra está acabando na Europa. Fulgencio já pode comemorar com a política de boa vizinhança na Praça Mauá e comemora abraçado a Chatô, o Rei do Brasil, ouvindo a estreia da Tabajara na Rádio Tupi. Havana rivalizando com o Rio em matéria de paraíso pré-Muro de Berlim. As dores da história, sabida e não sabida, escapam dos dramas e apenas respingam na alegria geral. Os foliões e as descrições que teimam em se referir a atividades normais do cotidiano ainda não se deram conta de que estão no Baile da Arte. Iludem-se com os compromisso e os valores urdidos na véspera. O Baile do Carrossel não tem fim, mas só vai chegar ao próximo quem compreender o primeiro. Numa roda de baixinhos, Xuxa, Gegê, Dustin Hoffman e Napoleão.
continua