Uma resenha 25 anos depois do Cinema 1 no Rio de Janeiro
Em recente sessão de cineclube da UFRJ, ao lado do Canecão, Jurandir
Freire Costa fez considerações sobre a dúvida de ser ou não ser depois
da exibição do filme Blade Runner, de 1982. O pensador psicanalítico
parece ter certeza de que a dúvida é ainda mais atroz para o caçador
de andróide no filme do diretor inglês Ridley Scott. Na trama, o caçador é Deckard, vivido por Harrison Ford. Na última caçada, o herói solitário desenvolve a dor de ter dúvida de si como caçador e de outrem, como caça.
Scott fez a filmagem. A produção que o financiou a refez. Na década de 90, o diretor fez de novo o que fizera: um remake do original. E, tantos anos depois, temos três ou quatro versões do filme baseado na obra do escritor de ficção científica Philip K. Dick, (imagem à direita) que ganha fama crescente como um vitorioso corredor de fundo numa maratona chamada literatura da lama, invenção do lamaçal desumano que se tornou o planeta Terra, convertido num presídio para a gentalha mais incompetente e adoentada pós-hecatombe, enquanto os poderosos de sempre abrem colônias noutras plagas siderais.
E com a ajuda da engenharia genética (clonagem?), e o livro de Dick é dos anos 60, bem anterior à ovelha Dolly, o ser humano no filme inventou os robôs chamados replicantes. Esses andróides são escravos, ou capatazes, e Harrison Ford é um capitão do mato da era espacial.
Os replicantes foram programados para viver poucos anos, detentores de inteligência, ciências exatas e força física, sempre superiores à inteligência e a força de seus criadores. E os replicantes são ainda mais cruéis que os humanos. São perfeitamente desumanos.
Os replicantes são tão idênticos que fica difícil para o humano desumano descobrir quem são os falsos, quem são os mais desumanos, quem são os robôs de carne e osso. E entre estes, e aí começa a trama, há um grupo de seis rebelados. Esses andróides amotinam-se contra seus
criadores e se tornam monstros disfarçados em simples humanos apenas desumanos. Como identificá-los? A prioridade na trama é capturar e executar o grupo de fujões. Eles mataram autoridades e contribuintes na privilegiada colônia de Marte e voltam à Terra matando mais gente “sadia” no caminho.
Eles se assemelham a humanos de tal forma que, invejando seus criadores, vêm procurar o pioneiro na arte de produzir replicantes em Los Angeles. Querem um plus de vida, uma prorrogação do prazo de validade. Mas só encontram morte. Matam e morrem.
Entre mil aventuras de um planeta Terra já sem luz solar, mas com ventiladores, fumaças, fogueirinhas e explosões misteriosas, praticamente presentes em todas as cenas, o filme cult de 27 anos atrás ganha adeptos e intérpretes a todo momento.
De forma picotada, o filme pode ser visto praticamente na íntegra no Youtube, apenas há de se ter não diria paciência, mas desejo de buscar tantas seqüências picotadas. Mas está tudo lá no portal de todos os vídeos e “replicações” de cinema.
A história do filme é até prosaica: Um velho policial aposentado, o caçador da arca perdida, é o protagonista. Chamado a caçar a turma de rebeldes, o caçador se envolve com uma linda replicante que não pertence ao bando vindo de Marte e nem sabia que era replicante. Mas ele se envolve com frieza e é desse jeito assim, gelado, que ele gosta dela. O termo clonado não se coaduna bem com a ideia pioneira de replicar porque, na ficção, embora sejam robôs de carne e osso, força e inteligência, os andróides não parecem herdar DNA de matriz humana alguma, apenas são invenções de perfeição desumana pela engenharia da ficção.
Sim, os replicantes são escravos livres e têm os traços da frieza das ciências e da beleza dos corpos mais perfeitos dos atletas humanos. Num clima de loucura, o caçador começa a desenvolver nele mesmo uma neura, uma dúvida quanto a ser ele próprio também um replicante.
Nesse tipo de clonagem tão perfeita, o humano inventor do mais desumano andróide o programou para tudo, até para não saber que é replicante. Como um seguro contra a invenção do mal perfeito, o inventor de andróide o programa para “viver” pouco, ou seja, são corpos e cabeças perfeitas, mas com pouco prazo de validade, poucos anos de ação. E por isso eles se rebelam como antigos humanos que venderam a alma em troca de mais tempo, ou sonho de eternidade. Os
andróides fazem uns estragos. Sofrem com a falta de esperança de não ter direito a nada, não se reproduzem, apenas produzem os efeitos da força mental e física.
Por Alfredo Herkenhoff
Freire Costa fez considerações sobre a dúvida de ser ou não ser depois
da exibição do filme Blade Runner, de 1982. O pensador psicanalítico
parece ter certeza de que a dúvida é ainda mais atroz para o caçador
de andróide no filme do diretor inglês Ridley Scott. Na trama, o caçador é Deckard, vivido por Harrison Ford. Na última caçada, o herói solitário desenvolve a dor de ter dúvida de si como caçador e de outrem, como caça.
Scott fez a filmagem. A produção que o financiou a refez. Na década de 90, o diretor fez de novo o que fizera: um remake do original. E, tantos anos depois, temos três ou quatro versões do filme baseado na obra do escritor de ficção científica Philip K. Dick, (imagem à direita) que ganha fama crescente como um vitorioso corredor de fundo numa maratona chamada literatura da lama, invenção do lamaçal desumano que se tornou o planeta Terra, convertido num presídio para a gentalha mais incompetente e adoentada pós-hecatombe, enquanto os poderosos de sempre abrem colônias noutras plagas siderais.
E com a ajuda da engenharia genética (clonagem?), e o livro de Dick é dos anos 60, bem anterior à ovelha Dolly, o ser humano no filme inventou os robôs chamados replicantes. Esses andróides são escravos, ou capatazes, e Harrison Ford é um capitão do mato da era espacial.
Os replicantes foram programados para viver poucos anos, detentores de inteligência, ciências exatas e força física, sempre superiores à inteligência e a força de seus criadores. E os replicantes são ainda mais cruéis que os humanos. São perfeitamente desumanos.
Os replicantes são tão idênticos que fica difícil para o humano desumano descobrir quem são os falsos, quem são os mais desumanos, quem são os robôs de carne e osso. E entre estes, e aí começa a trama, há um grupo de seis rebelados. Esses andróides amotinam-se contra seus
criadores e se tornam monstros disfarçados em simples humanos apenas desumanos. Como identificá-los? A prioridade na trama é capturar e executar o grupo de fujões. Eles mataram autoridades e contribuintes na privilegiada colônia de Marte e voltam à Terra matando mais gente “sadia” no caminho.
Eles se assemelham a humanos de tal forma que, invejando seus criadores, vêm procurar o pioneiro na arte de produzir replicantes em Los Angeles. Querem um plus de vida, uma prorrogação do prazo de validade. Mas só encontram morte. Matam e morrem.
Entre mil aventuras de um planeta Terra já sem luz solar, mas com ventiladores, fumaças, fogueirinhas e explosões misteriosas, praticamente presentes em todas as cenas, o filme cult de 27 anos atrás ganha adeptos e intérpretes a todo momento.
De forma picotada, o filme pode ser visto praticamente na íntegra no Youtube, apenas há de se ter não diria paciência, mas desejo de buscar tantas seqüências picotadas. Mas está tudo lá no portal de todos os vídeos e “replicações” de cinema.
A história do filme é até prosaica: Um velho policial aposentado, o caçador da arca perdida, é o protagonista. Chamado a caçar a turma de rebeldes, o caçador se envolve com uma linda replicante que não pertence ao bando vindo de Marte e nem sabia que era replicante. Mas ele se envolve com frieza e é desse jeito assim, gelado, que ele gosta dela. O termo clonado não se coaduna bem com a ideia pioneira de replicar porque, na ficção, embora sejam robôs de carne e osso, força e inteligência, os andróides não parecem herdar DNA de matriz humana alguma, apenas são invenções de perfeição desumana pela engenharia da ficção.
Sim, os replicantes são escravos livres e têm os traços da frieza das ciências e da beleza dos corpos mais perfeitos dos atletas humanos. Num clima de loucura, o caçador começa a desenvolver nele mesmo uma neura, uma dúvida quanto a ser ele próprio também um replicante.
Nesse tipo de clonagem tão perfeita, o humano inventor do mais desumano andróide o programou para tudo, até para não saber que é replicante. Como um seguro contra a invenção do mal perfeito, o inventor de andróide o programa para “viver” pouco, ou seja, são corpos e cabeças perfeitas, mas com pouco prazo de validade, poucos anos de ação. E por isso eles se rebelam como antigos humanos que venderam a alma em troca de mais tempo, ou sonho de eternidade. Os
andróides fazem uns estragos. Sofrem com a falta de esperança de não ter direito a nada, não se reproduzem, apenas produzem os efeitos da força mental e física.
Por Alfredo Herkenhoff