terça-feira, 14 de abril de 2009

Glossário de Jornalismo

Glossário de Jornalismo e Dicionário de Apoio

Introdução

Este compêndio tem duas partes numa só estrutura. A primeira, Glossário de Jornalismo, reúne jargões da profissão, mas foge um pouco da tradição de representar apenas uma ferramenta de consulta técnica por acrescentar descrições críticas pertinentes à produção de jornal impresso. Contém pequenas interpretações sobre circunstâncias mais ou menos complexas, envolvendo o ato de produzir e divulgar notícias. Fruto de uma compilação individual, o glossário formula, com pretensão didática, uma visão do dia-a-dia da imprensa carioca, vivenciada de 1976 a inícios do século 21.

Além do óbvio ululante, que fato é notícia, e notícia é fato, o glossário mostra alguns jargões extintos em decorrência do avanço tecnológico. Cada verbete ganha lugar num ranking invisível, sentimental. Quanto mais comum, menos raro, menos valioso para o autor. E vice-versa, quanto mais inesperado, mais importante. Mas a classificação que conta é a do leitor, que tem sempre razão, segundo pequena máxima do cotidiano das redações.

A segunda parte deste livro, Dicionário de Apoio, reúne reflexões em torno de palavras e expressões que transitam não apenas no jornalismo impresso, mas até longe dos meios de comunicação. Alguns termos são jargões de setores que interagem com a mídia. Mas pouco importa uma classificação mais rigorosa, entre jargões emprestados e não-jargões, os verbetes foram escolhidos para propiciar descrição de situações típicas do ambiente das redações.

O Dicionário de Apoio radicaliza o Glossário de Jornalismo. O conjunto mistura descrições frias, paradigmáticas, com reflexões e emoções evocadas até por palavras e expressões sem nada a ver, diretamente, com a produção de notícias. Tais palavras e expressões foram abordadas no campo de preocupações imediatas da atividade jornalística.

A distinção do que é jargão, e do que não o é, demanda conhecimento sobre a profissão e sobre a incorporação de seus termos ao vernáculo. A palavra matéria, por exemplo, está vinculada ao sentido de substância há séculos. Origina-se, segundo o Dicionário Houaiss, de variação erudita da palavra madeira. Passou a ser usada como jargão para designar reportagem. Subsequentemente, a palavra foi abonada e voltou ao vernáculo, abrangendo, entre as suas novas designações, também o sentido de uma simples notícia, ou reportagem. Nesse processo, muitos jargões nem são percebidos como tal, mas como palavras de uso frequente, de conhecimento geral da população.

Já a palavra fenômeno, que entre outros sentidos, designa um simples acontecimento, nunca foi apropriada pelos jornalistas para designar uma simples notícia. Fenômeno, num jargão talvez originário da publicidade, servindo para designar não qualquer simples acontecimento, mas um sensacional, maravilhoso. (...)

Marreta: Matéria publicada para agradar a alguém de fora da redação, às vezes envolvendo interesses escusos.

Matéria: Jargão já assimilado pela sociedade para reportagem, notícia, fato. O Brasil já considera matéria como sinônimo, vernacular, de reportagem. E um caso clássico de uma gíria abonada por toda a sociedade.

Matéria paga: Marreta quando sai sob disfarce de notícia. A matéria paga, oficialmente, leva o nome de informe publicitário ou coisa parecida e vai com caracterização gráfica denotando seu status de propaganda. Entre leigos, ouve-se falar em matéria paga. Na profissão, porém, ouve-se pouco falar nisso. Ouve-se falar e se faz matéria reco (matéria recomendada por um chefe ou um feliz proprietário). Fala-se, também de forma quase invisível, no que se pagaria para uma matéria não sair, qual seja, o que certas empresas não pagariam para simplesmente não aparecer, o que constitui sinal de perigo, de imprensa marrom.

Matutino: Jornal que vai para as bancas ao amanhecer. (...)

Por Alfredo Herkenhoff