sábado, 5 de setembro de 2009

Editorial: Cidade Maravilhosa na sucessão de Lula

Presidentes lá,

e cá só os azarões nos salvam









Terceira Via Virou Terceiro Nome Para Quinto Mandato

Pessimismo da Cidade Maravilhosa

Serra, Dilma, Marina e Heloísa Helena são quase nomes anti-Rio de Janeiro. Ciro, Aécio e Cabral dariam caldo. Governador carioca vai para o 2º mandato, quase não se fala nele para o Horizonte Planaltino.


Honduras cortou o Mal de Chávez pela fechadura interina, com um ditador interino ou provisório, diversamente de democracias perenes como a do PRI por três quartos de um século de salão dos bigodudos mexicanos. Álvaro Uribe, diversamente de Zelaya pouco zeloso, fez a mesma coisa que queria fazer o deposto tegucigalpano: reformou a Carta na undécima hora para continuar embaralhando o engodo. Mas Uribe enfrentou um parlamento dócil, e os mais salgados foram uns salgadinhos, lembrando a cartada de FHC para reformar a Cidadã e ficar mais quatro aninhos empoleirado.


Todos esses presidentes são figuras ímpares. Muito falamos de um Brasil que elegeu pela primeira vez para o topo da República um humilde operário. Mas, antes, também pela primeira vez, o mesmo Brasil Varonil elegeu pela primeira vez um sociólogo, um acadêmico. Fernando Henrique Cardoso, embora de elite, social, econômica e militar, foi um fato inédito na história republicana. Pela primeira vez foi ao Supremo Poder um não-político. Tudo bem que FH era senador, mas até a entrada do sociólogo na política foi tardia. FHC já tinha um denso currículo universitário antes. Ou seja, o Correio da Lapa compreende que FH e Lulalá são dois fenômenos casados num estranho ineditismo.

E a lua-de-mel é tanta entre Lula e Fernando Henrique que querem continuar brincando de
Tom e Jerry. José Serra versus Dilma Rousseff na disputa pelo quinto mandato consecutivo de um melting pot metido, um mexidinho pouco eficiente. Dois governos conservadores, quatro mandatos, buscando um terceiro nome, ou quinto mandato, também conservador.

Pensemos: Rousseff é nome búlgaro, mas viveu sempre na elite, ela sempre fez política, teve nomes e codinomes, militar na luta armada, fez plástica. Viveu, sofreu, mas nunca foi candidata nem a síndico, nem disputou jamais uma vereança em qualquer cidade, ela, logo ela, tão mineira, com formação cultural gaúcha em matéria de fortaleza de objetivos.

José Serra, o que quer ser o primeiro Presidente Calvo Completo ou Quase (PCC Qua), foi militante estudantil, um exílio light, um acadêmico, um fiel discípulo de FHC. Que diferença há?

Qualquer um que vença, o Rio de Janeiro vai se lascar de novo. Assim tem sido.

Fernando Collor é carioca de nascimento e, enquanto homem, é para o Rio de Janeiro um tormento. Nada tem do nosso espírito crítico na tradição revoltosa do soldado Sebastião do Império Romano, o homem que, em vez de perseguir, aderiu aos perseguidos. E pagou com a própria vida o preço do novo amor cristão.

Fernando Henrique é carioca de nascimento, mas tão paulistano que faz parecer que o escritor caipira Pau Brasil e outros paus Mario de Andrade era de Copacabana ou da Vila da Penha, tamanha a distância que o Príncipe Sociólogo sempre manteve do Rio de Janeiro, apesar de filhos e D. Ruth sempre próximos e amantes do carioquismo.

Na última eleição, essa turma de Sampa mandou para o páreo contra o sócio Lula o Geraldo Alckmin, que pela primeira em que pisou na areia da orla carioca o fez de meias, tamanho o mal jeito, o despreparo, ou o desconhecimento do médico, cavalo paraguaio na barbada de Lula, era uma corrida de fundo em que só agora despontam os favoritos Serra e Dilma...

Agora temos novas candidaturas que de novo botarão o Rio em segundo ou terceiro plano. Tudo bem que em campanha é guerra, mentira como terra, muita promessa, e a Cidade Maravilhosa será palco de Mundial da Fifa em 2014, tem boas chances de ser Olimpíada de 2016, e vai ganhar trem-bala e deve reativar vida na Zona Portuária etc.

Tudo isso ainda é pouco para um Rio de Janeiro que foi capital de três, 3, TRÊS ESTADOS, a saber: Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, Império e República do Brasil. Pois esta nossa Cidade Maravilhosa, que, nesta semana, foi eleita pela grã-finagem mundana do mundo como a que tem reputação de ser a mais feliz, na verdade não passa de um inferno no fundo do poço da política nacional.

Clarice Lispector escreveu num conto por extenso: "cidade de seiscentos mil mendigos". Hoje diríamos em bom jornalismo sem muita conferência nem diploma: Cidade Maravilhosa de 601 favelas, vulgo 601 comunidades. E tome balas perdidas.

Tudo bem que Lula tem no Vasco da Gama o seu time do coração: ele torce primeiro para o Corinthians, depois Vasco e depois Garanhuns ou Clube de Regatas do Goró Pé de Serra. pouco importa que depois Lula distorce para qualquer um. Lula teve no Rio suas mais expressivas votações por vias transversas, ou pelas transversais do tempo que o levaram a se associar com o melhor e o pior de qualquer partido, aproximando-se de Sérgio Cabral, do PMDB. Nisso, o Rio saiu ganhando. E agora, com um prefeito também afinado com a dupla, o Eduardo Paes, nunca a Cidade da Rede Globo esteve tão blindada no plano político.

O problema é que Lula dá mostras erráticas do que quer de fato. Será que quer perder com Dilma para voltar em 2014 nos braços do povo? Parece, no afã de elegê-la na marra, como se ela fosse o seu destape pessoal, estilo do PRI mexicano, que na verdade no plano psicanalítico B o presidente Lula está cristianizando a guerreira Rousseff.

Hoje pela macroeconomia, o PT tinha de estar aliado ao PSDB, os tucanos, tamanha a semelhança em quase tudo. Apenas os quadros tucanos são mais experientes por tradição histórica. Os petistas são marujos de primeira, agora segunda viagem de mandato, mas ocuparam, em muitos casos, funções para as quais não estavam preparados. Mensalão foi só a cereja da ilustração. Mas isso é titica em galinheiro, tem muita em qualquer política ou administração.


Na verdade, o que o Rio de Janeiro está vendo é bem simples, e o Correio da Lapa reflete isso: os principais candidatos, pré ou sequer cogitados em voz alta, com potencial para fazer um bem especial à antiga capital, são os que virtualmente quase não têm chance de empalmar o poder em 2010. São eles Ciro Gomes, Aécio Neves e Sérgio Cabral.

O resto é igual ao de sempre: Dilma, Marina, Heloísa Helena e Serra estão aí apenas para pegar o grosso dos nossos cerca de 10 milhões de votos válidos.

Por que diferenciar aqueles três? Pelo método confuso ou errado de Mendes Fradique, o capixaba Fradique Mendes, ou o luso Eça de Queiroz, os três têm nossas razões sentimentais: Ciro porque tem uma carioca a tiracolo do seu coração com um Leblon Apaixonado, a maravilhosa Patrícia Pillar. Ciro gosta do Rio, e a metade nordestina que aqui vive o adora.

Aécio tem a mineirice que o carioca também adora, e o tempo todo está em Mangueira. O governador quando folga meio dia, meio-dia e meia já aterrissou na mais verde-e-rosa das cidades.

Sérgio Cabral dispensa comentários pelo método errado de sua política de obras metendo o Pezão.

São políticos, fazem conta, costuram parcerias esses três. Mas todos eles dão bom caldo do ponto de vista do Rio, o tambor.

Os outros, podem escrever aí: mesmo com Fifa 2014, trem-bala e possível Jogos Olímpicos em 2016, são todos pessoas que desprezam o Rio de Janeiro.

Outro dia, uma enquetezinha na TV mostrou que boa parte dos paulistas nem sabe quem é o governador do Rio. Respondiam alguns numa santa alienação: Marcelo Crivella. Ou seja, Sérgio Cabral está para a visibilidade do sistema Abril-Uol/Folha de S. Paulo plus Estadão, como Buenos Aires esteve para o Brasil, ao tempo que que la tierra porteña, tierra de los hermanos, del tango e Evita Perón, figurava na mente nórdica como a capital do País Tropical de Carmen Miranda, cantora aliás que fazia temporadas em Buenos Aires, nos anos 30, mas jamais se apresentou em Cachoeiro de Itapemirim, Quixeramobim e Conceição do Mato Dentro.

Se o futuro a Deus pertence, o presente não é de ninguém. E assim não sendo, é apenas mais uma coluna sincera deste terrível e irresponsável Correio da Lapa, blogue-estapafúrdia, sempre com esse compromisso de publicar qualquer coisa, da extrema esquerda à extrema direita. Se alguma frase, alguma reflexão (absurdo ou ovo de Colombo) for capaz de ser imaginada no Brasil, na política ou nas artes, certamente acabará pousando por aqui. Pense, se você estiver só, estará conosco.