Maria Antonieta (ao centro), Lincon (de joelhos), a irmã-gêmea Maria de Lurdes (à esquerda), a cantora Elza Soares (ao fundo) e a instrutora-auxiliar Marilene (à direita). Foto de 1998, extraída do site de Marco Antonio Perna da Agenda da Dança de Salão Brasileira. O endereço do site em homenagem à professora Maria Antonieta é:
www.dancadesalao.com/
Morreu a grande dama das noites cariocas, Maria Antonieta Guaycurus de Souza, a Rainha e a Mestra da Dança de Salão. Ela ensinava com sorriso e firmeza. O Correio da Lapa está de luto. A Lapa está de luto. Os amantes da Cidade Maravilhosa estão de luto. O Brasil está de luto. O mundo mágico da dança está de luto.
Maria Antonieta reinava no assoalho parafinado da pista da Gafieira Estudantina no coração da Praça Tiradentes. Durante décadas, encantou cariocas e visitantes do Rio de Janeiro. Um tanto baixinha, jamais perdeu a elegância e simplicidade gloriosas. Aos 83 anos de idade, foi levada por um infarto, essas explosões que confundem coração com emoção silenciando orquestras.
Maria Antonieta dizia: "A dança é vida, ela te estrutura de todas as maneiras"
Antonieta começou a dançar na infância, nos saraus de seus avós em Manaus, Amazonas, no exato pós-Guerra quando, no Brasil, o samba já se consolidava, e sucesso de rádio era o samba-canção, ritmo que evoluiu dos primeiros sambas e que talvez tenha nascido como um contraponto ao fox trot que animava o mundo inteiro antes e depois da vitória contra o nazismo. O fox trot teria começado nos Estados Unidos nas noites de Nova York desde os anos 20. O fox trot era o trotinho da raposa, o primeiro ritmo que permitia, primeiro no Harlem, aquela dança agarradinha, ao contrário de valsas e minuetos anteriores em que os corpos ficam afastados elegantemente. No Brasil, tivemos a umbigada antes do samba, permitindo o agarradinho no bas fond das noites cariocas do século 19 até que... Mas isso já é conversa de velório animado... Antonieta morreu na terça-feira. O sepultamento foi na manhã desta quarta, no Catumbi.
Antonieta foi a grande inspiradora dessa alegria brasileira de dançar do samba ao tango, do bolero rebuscado ao mais simples dois pra lá dois pra cá na calma de casais apaixonados ou se apaixonando.
Antonieta teve a trajetória documentada pelo craque Sílvio Tendler e pela BBC. Antonieta ajudou a Rede Globo e seus incontáveis dançarinos em alguns momentos pioneiros. Teve participação frequente em novelas e cinema como, entre outros títulos, Pagu e Explode Coração.
Chorem! Choremos!
Chorem todos que gostam da dança. Faustão e suas bailarinas do Domingão, professores em profusão, chorem todos, chorem os menos e os mais votados. Chorem o Grupo Corpo, Débora Colker e a família Milhazes. Chorem cabrochas e pastoras, passistas de todas as escolas. Chorem pierrôs e colombinas. Chorem Pinah e Adele Fátima. Chorem famosas como Fátima Bernardes, Claudia Raia e Marília Pêra. Chorem sambistas anônimas e anônimos.
Chore Alex de Carvalho, professor, coreógrafo e dançarino no filme "Bossa Nova" de Bruno Barreto. Chore Alex Gomes, na Academia Estilo e Dança. Chore Bruno Barros, professor, coreógrafo e dançarino na Casa de Artes das Palmeiras. Chore Cláudio Gomes, professor, coreógrafo e dançarino do pagode ao axé. Chorem Elaine Pereira, Érico Rodrigo. Chorem Kilve Costa, Luís Florião, Marcelo Ferreira, Gustavo Navera, Jorge Firpo, Marcelo Martins. Chorem Patricia Rezende, Paulo Mazzoni, Rachel Mesquita, Rafael Oliveira, Regina Miranda, Tiago de Azevedo, Tony Machado. Chore Carlinhos de Jesus, o mais popular dos professores e que transformou o próprio nome num estilo inconfundível de animar ainda mais o jeito alegre de ser da alma carioca. Chore Jaime Aroxa, este tendo sido aluno da Brasileiríssima Rainha Antonieta. Jaime Aroxa: chore mais do que todos nós simples e mortais jornalistas.
E chore Da Veiga, meu velho colega e antigo chefe da Rotativa do Jornal do Brasil e que, quase semanalmente, conciliava o trabalho noturno com escapadelas para aprender a dançar na Estudantina com a grande dama que ora se vai... Chorem amigos e amigas, cantores e cantoras, compositores e compositoras. Chorem porque a dança chora, mas não vai embora jamais.