segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Lula e o discurso do pré-sal (2/2) - Parte final

O jornal The New York Times informa seus leitores sobre a guinada nacionalista de Lula e diz que as reservas do pré-sal podem vir a ser importantes a partir da década de 2020.

6 de setembro não é 7 de setembro:
propaganda e mentiras de véspera...


O presidente Lula está ameaçando quebrar a confiança dos investidores apenas como arma eleitoral ao tentar mudar as regras de exploração de petróleo no Atlântico. Não faltam advertências apartidárias ao presidente Lula de que brincar de mudar legislação da exploração off shore, tendo como pano de fundo uma eleição majoritária, é ruim para o Brasil no longo prazo: denota instabilidade política. Gente como o senador Francisco Dornelles e o ex-presidente da Petrobras Philippe Reichstul, entre outros, têm dado uns toques no governo, acima das questiúnculas de palanque de Dilma e Serra, mas de que adianta?

A grande mídia ainda não acordou para o engodo de vender uma reserva só viável talvez no longo prazo como algo urgente. Já este Correio da Lapa há meses vem batendo na mesma tecla...

Num tempo logo posterior ao escândalo do Mensalão, na eleição de 2006, o PT suprimiu da propaganda as duas letras da agremiação. Deixou no marketing das campanhas apenas a estrela, o número 13 e a força de alguns belos nomes emblemáticos. Com tanto esquecimento, o PT agora de novo tenta, via marketing, impor um novo plano B: arvorar-se a dono da descoberta da verdade, dono da verdade da viabilidade do pré-sal, dono da certeza de que a tecnologia está aí para chegar aos 7 mil, dono do sistema de parcerias para tal aventura e finalmente dono da minha nossa paciência ao dizer que não tem risco e que a riqueza potencial a 7 mil metros é matéria urgente para os gazeteiros do Parlamento.

Perigosa essa jogada de querer se manter no poder mediante recursos como demagogia e mentiras.

Mas ninguém precisa esperar nada de muito interessante no lado da oposição. Basta ver que nunca a Petrobras havia produzido tanto e crescido tanto como nos últimos dez anos. Mas agora o PT no Governo resolve mexer no que estava dando certo. Estranhíssimo. Mesmo assim, dependendo das imbrincações, talvez muita gente, mesmo ciente da cascata do pré-sal, vai dar o votinho secreto para a ministra Dilma Rousseff. Mesmo que Lula consiga carregar seu carisma fascinante, seu prestígio pessoal, a favor da ministra candidata, mesmo que Dilma tenha uma vitória de humilhar José Serra, ainda assim o pré-sal vai figurar como lembrança de uma cascata mídiática.

O humor fino do mineiro Nani em torno do pré-sal grosso...

Em 2006, todo mundo no Brasil sabia do Mensalão, e Lula ainda levou o segundo mandato. A verdade das urnas não depende do nível da mentira nem das promessas e das fantasias, mas do desempenho carismático de uma candidatura ou da força que a conduz. O fenômeno das votações é algo que tangencia o místico, o religioso, algo como torcer para um time ou não gostar de outro clube de futebol.

Vença ou não a Dilma, a mentira do pré-sal aflorou no curto prazo:

Uma antiga carta sobre o pré-sal


Mas vejamos agora uma carta, um espanto sobre o pré-sal, escrito bem antes de Lula deitar falação todo dia e assinada por um ex-ministro de Minas e Energia do Brasil, de um governo anterior ao de Fernando Henrique Cardoso:

"Tenho que tirar o chapéu para a capacidade do Presidente Lula em criar novidades sobre as coisas antigas.

Quando eu era o Ministro de Minas e Energia em seu Governo, a Petrobras já sabia da existência destas reservas que iam de Santos a Santa Catarina. O problema é que estão a mais de 2500m de profundidade e, agora, foi comprovado que se encontram a mais de 3200m.

Em 1993, não havia (nem hoje há), tecnologia para se chegar a essa profundidade. Apenas no ano passado conseguimos chegar a 2000m, a uma pressão d´água bárbara.

Comentei contigo que tínhamos reservas, mas não tecnologia para chegar lá e que o CENPES estava trabalhando para conseguir perfurar a essa profundidade.

Segundo os geólogos da Petrobras, nas priscas eras, os continentes da América do Sul e da África se separaram. Nesta separação a costa ocidental da África (Nigéria, Angola, Guiné etc.) ficou com o petróleo mais perto da superfície e nós em águas profundas. Contudo, um dia chegaríamos a retirar petróleo destas nossas águas e o País seria independente. Pois bem, ontem a Dilma anunciou essa 'grande descoberta', prevista para produzir petróleo daqui a 8 anos!

Essa profundidade, que nunca foi alcançada por ninguém, apresenta enormes desafios de engenharia para resolver a pressão dágua, a resistência de materiais, sondas adequadas etc. A engenharia da Petrobras tem trabalhado nestes problemas, mas não encontrou ainda todas as soluções. Contudo acho que estão prevendo que em 2015 terão desenvolvido e dominado a tecnologia para essa profundidade. Hoje, a Petrobras não tem.

Estima-se que este petróleo deve ter um API de menos de 30°, talvez 25°. O que é isso? Petróleo muito pesado, parecido com o da Venezuela, mais custoso de refinar, pois rende 20% de combustíveis de cada barril extraído. O custo médio atual no Brasil, desse petróleo, para a Petrobras deve estar por volta de US$ 12,00 a US$ 13,00. O petróleo leve, como o encontrado no Oriente Médio, rende 50% de combustíveis e custa talvez US$ 1,00 a US$ 2,00 o barril. Onde se vê como é um negócio de grandes lucros movido por uma especulação desenfreada na economia globalizada.

Claro que ao preço do barril de petróleo de US$ 93,00 a US$ 96,00 vale a pena extrair óleo até das areias de xisto como fazem agora os canadenses. A mídia e o povo com essa 'descoberta' estão euforicamente enganados - sendo enganado - e nem se fala mais no problema do gás. O Sauer, que era o Diretor de Gás da Petrobras, nunca gostou de gás por ser um especialista em hidroelétricas...

Em nossa época, tivemos o pudor de não anunciar algo que era impossível de extrair, da mesma forma que nunca falamos dos 2.000 pontos de ouro na superfície que poderiam ser encontrados na Amazônia etc. e tal. Questão de pudor e de seguir a sua orientação de não chutar a torto e a direita para não criar falsas esperanças e especulações nas bolsas de valores. Não creio que os técnicos da Petrobras quisessem divulgar a 'descoberta'.

Devem ter sido pressionados para dar uma noticia que acabasse com a 'crise do gás'. E assim vamos, no vai da valsa...


Abraços,
Alexis Stepanenko
Carta de Alexis Stepanenko (foto de 1994), ministro das Minas e Energia do governo Itamar Franco, a este ex-presidente, escrita em setembro de 2008. E não era num dia 6 nem dia 7.

Por Alfredo Herkenhoff