O excelente repórter Pedro Motta Gueiros, de O Globo, escreveu:
Nenhum rubro-negro com menos de 21 anos pode dizer que celebrou o último título brasileiro conquistado pelo clube, em 1992. Neste período, o Flamengo foi campeão estadual oito vezes, enquanto flertou com o rebaixamento em quatro edições do Brasileiro, no qual estreia contra o Cruzeiro, hoje, às 16h, no Mineirão. Assim como nas leis da economia, o sucesso de um produto no mercado externo está diretamente ligado ao grau de competitividade doméstica. Nos 12 anos em que foi cinco vezes campeão brasileiro, o rubro-negro venceu apenas três estaduais.
- O Flamengo não pode se contentar com o Carioca. Este grupo precisa de um título de expressão - disse o auxiliar-técnico Andrade, o maior vencedor da competição como jogador, ao lado de Zinho. - Tive a felicidade de ganhar cinco vezes. Não há nada que pague acordar na segunda-feira como campeão brasileiro.
Um terceiro, dois quintos e 16 edições sem títulos
Nas últimas 16 edições, o Flamengo teve como melhor colocação um terceiro lugar e dois quintos. Agora, além do jejum, precisa quebrar a regra de jamais ter sido campeão brasileiro e carioca no mesmo ano. Até o penta do São Paulo, em 2007, seguido pelo hexa, o rubro-negro tinha a hegemonia nacional. Hoje, resta a força doméstica.
- O glamour do Maracanã cheio é algo que ninguém tem igual, mas talvez isso crie uma certa miopia - afirmou o superintendente de futebol do São Paulo, Marco Aurélio Cunha, entre o encantamento e o ceticismo. - O problema é acreditar na fantasia, pensar que isso é poder econômico.
Embora tenha registrado a maior bilheteria do futebol brasileiro no ano passado, com R$21,1 milhões contra R$17,5 milhões do Palmeiras, hoje o Flamengo não pode dispor dessas receitas, que já foram antecipadas e se transformaram em dívidas. De acordo com os balanço dos clubes, os rubro-negros também já perderam a liderança nacional. São Paulo, com R$157,9 milhões, Palmeiras (R$129,2 milhões) e Corinthians (R$117,5 milhões) tiveram faturamento superior aos R$116 milhões do tricampeão carioca.
O império rubro-negro começou a ruir no seu apogeu. Antes de o Flamengo entrar em campo para conquistar seu quinto título, a arquibancada do Maracanã cedeu à falta de conservação e ao peso da torcida. Financeiramente, o clube também já estava comprometido. No ano seguinte, Zinho puxou a debandada que levaria para São Paulo a última grande fornada de talentos produzida na Gávea. Enquanto a torcida iniciava seu jejum, Marcelinho, Djalminha, Júnior Baiano e Paulo Nunes erguiam títulos por onde passavam.
- Após a Copa de 94, grandes patrocinadores chegaram para fortalecer as estruturas, mas no Rio a coisa ainda é meio antiga. Tem que mudar essa influência dos conselheiros, o ambiente de trabalho deve ser restrito a quem é remunerado - disse Zinho, campeão brasileiro por Flamengo, Palmeiras e Cruzeiro.
Na Gávea, a confusão entre profissionais e amadores começa pelos salários atrasados. Técnico dos dois últimos títulos brasileiros, Carlinhos deu as costas para os problemas. Da sala de jogos, onde passa as tardes, evita dar as cartas no futebol rubro-negro:
- Procuro não andar muito perto da grade para não pensarem que estou querendo aparecer - disse, ainda com a referência dos tempos em que usava a superação e o talento como coringas. - Sempre tive muito craque no time.
No dilema entre a escassez e a fartura, o Flamengo procura pelo equilíbrio. Com a manutenção do elenco e a vinda de Adriano, Zinho vê o rubro-negro como forte candidato.
- O problema central é administrativo - afirma Marco Aurélio Cunha. - Você não pode ficar refém de atleta.
Briga por título do passado revela problema no presente
Além de legítimo, o comando deve ser unificado. Na apresentação de Adriano, o Flamengo mostrou o contrário, com dirigentes de correntes antagônicas disputando espaço Confinado em sua hegemonia. doméstica, o clube tornou-se refém da política e do passado. Passados 20 anos de seu quarto título, o Flamengo só passou a brigar pelo seu reconhecimento depois que o São Paulo se tornou penta em 2007. Campeão de fato em 1987, o rubro-negro não teve o título homologado pela CBF por ter se recusado a disputar cruzamento com a Segunda Divisão.