Talvez, num paradoxo, só a história dirá, este acordo Brasil-França, por envolver armas e transferência de tecnologia, pode representar um freio na facúndia babosa e infinita de Hugo Chávez, o Rei do Atroz.
Ninguém rouba nada a 7 mil metros de profundidade. Mas a sete mil metros de altura, sim, ali voam as aves de rapina. Num release de meia dúzia de linhas, o presidente Lula disse que decidiu iniciar conversações com a fabricante Dassault, para comprar caças franceses, graças a Nikolas Sarkozy, o empenho deste presidente em comprar, em troca, cerca de dez aviões KC-390, projeto de aeronave de grande porte da Embraer, para transporte de carga e tropa.
Os 36 caças franceses, caso as negociações cheguem a bom termo, vão custar uns R$ 10 bilhões. Na festa da Independência, o Brasil anunciou outro contrato de R$ 24 bilhões – a serem desembolsados em 20 anos – para a compra de quatro submarinos a diesel e um nuclear, este mediante transferência de tecnologia para a construção aqui do que será o primeiro de propulsão nuclear no continente. E o pacote inclui 50 helicópteros franceses.
Necessidade de defender a Amazônia todo mundo entende e defende. Mas quando Lula fala em defender o pré-sal, parece eleitoral. Mas se perdoa a cantilena, que envolve uma briga pessoal: Lula quer, com uma mulher, derrotar o governador José Serra mais uma vez.
Segundo Lula, pré-sal já foi motivo de conflitos, e tudo o que o Brasil não quer é guerra. Para isso se arma. Na verdade, Lula deu um passo positivo para o Brasil catapultar a sua indústria aeronáutica, já tão dinâmica via São José dos Campos, e naval, esta sim, por muito tempo de pires na mão no dique seco da Praça dos Três Poderes.
Salvo engano, até o momento de traçar esta frase, Hugo Chávez ainda não havia comentado o pacotão da Independência Lula/Sarkozy. Hugo Chávez, que retorna de sua oitava visita oficial ao Irã, tem preferido comprar fuzis automáticos, só de Moscou adquiriu 100 mil peças, e certamente não são armas para enfrentar o Pentágono. Hugo Chávez prefere investir em cinema, patrocinou também aqui no Rio de Janeiro o desfile campeão de Vila Isabel, uns quatro anos atrás. Ou seja, Chávez, agora estrela de cinema, mas sempre fora da competição oficial, está demonstrando que não quer invadir território de ninguém, nem da Guiana, nem Colômbia, nem Honduras e muito menos atacar os Estados Unidos. Brasil, nem pensar.
Chávez quer apenas falar, falar e falar. E quando possível, fazer uma escala em Veneza ou no Sambódromo da Sapucaí e receber palmas, muitas palmas midiáticas, ressentidas, confusamente ideológicas, palmas que não são de esquerda, nem de direita e nem de ouro.
Por Alfredo Herkenhoff