Brasil, amor e inveja, ódio na flor - 14/15

Brasil que não abre mão de quase nada, e por tanto não abrir, fica à mão, terra jovem encarquilhada, brincando de 500 contos de réis. Brasil de audiência, de convites a valor de mercado, de boca livre total, de segmentos vips a caminho de esquecimentos. Brasil do culto à fama, do quanto melhor mais procurado, de preferência vivo ou morto. Brasil que se disser que não vai eu vou. Perco grana, jamais a amizade. Brasil que não gosta do que é, mas tem orgulho do que sou. Mesmo sabendo que existe um rabo em cada esquina, noturno que se ignora, Brasil, trem doido que se inveja e se despreza, como as uvas do corrupto que me ameaçou. Brasil da raiva porque ganha muito, da raiva porque não ganhou. Brasil de quase ninguém que é feliz por não ter culpas maiores do que aquelas intoleráveis. Brasil de pequenos pecados, de milhões de palhaços num circo sem toldo, afora o preto da noite e o azul da manhã. Brasil dos patrões ávidos e dos patrões incompetentes, os primeiros mais sábios porque mantêm a dor, os empregos, a vida dos empregados, enquanto patrões idiotas nem dor distribuem além da falência. Brasil dos mil e um entretenimentos degradados. Brasil dos 500 mil homicídios por contundência perfurante no espaço dos dez dedos das mãos. Brasil de nenhum inocente na zona do louvor de falsos profetas. Brasil de tantas crenças e crendices. Do não posso criticar gente do meu grupo de jornal, rádio e TV. Aqui só se critica o governo que aqui anunciou, mas é mais fraco do que eu. Nada de falar de quem me empregou. Brasil de críticos de araque, de pessoas com medo das ruas, como se o perigo que há nas calçadas não estivesse em suas próprias almas. Brasil de gente covarde que não me acovardou. Brasil que não fala da Noruega. Critica carro na calçada, jamais os dois empregos e outros benefícios que acumulou. Brasil que não obedece às comezinhas normas da lei. Brasil que canta a regra é clara para quem não tem nem o que enxergar. Tenho a minha vida. E quem não tem a sua que procure outro endereço.