quinta-feira, 30 de abril de 2009

Esgoto que vai explodir sob os nossos pés

Obra do artista italiano Piero Manzoni, lata com 30 gr de suas próprias fezes. Série de 90 latas. Cada obra uma hoje valendo cerca de 100 mil dólares nesses leilões da Sotheby's... Há quem ache que não é arte, como o professor Affonso Romano de Sant'Anna...













O biólogo Mario Moscatelli, um dos ícones da defesa ambiental no Rio de Janeiro, desolado com os estragos que o esgoto não tratado causa nas lagoas da Cidade Maravilhosa, comentando o mau cheiro exalado das águas degradadas, fez o seguinte desabafo no seu endereço eletrônico boca do mangue, isso ai abaixo uns anos atrás, ao tempo do casal Anthony e Rosinha Garotinho:

“(...) Quando a empresa Y joga esgoto sem tratamento no rio é porrada nela, com multa, jornal etc., etc., pelo menos lá na teoria. Muito bem, agora quando é o Estado que joga merda para todos os lados em todas as lagoas e cobrando por esse "belo" serviço, tenho fazer de conta que a merda está vindo do céu? Achar que está tudo ótimo e continuar aceitando a história que a culpada foi a outra administração? Acabo de concluir que a culpa mesmo foi do Mem de Sá! Não preciso de administrador público, o que eu preciso é de fazer um centro de mesa e meter porrada no tal de Sá”.

Prossegue Moscatelli: “A situação é gravíssima na saúde, na educação, na segurança e no meio ambiente. Experimente dar uma voltinha de helicóptero sobre o canal da Joatinga na baixa-mar após a ressaca. É cheiro de podre que se sente até 330 metros de altura”.


De acordo com o ecologista, “A pergunta que não quer se calar aos biólogos de plantão é: Qual é a política de meio ambiente da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de nosso governo estadual a respeito dos recursos hídricos e ecossistemas associados ? Será que é de continuar jogando ou deixando jogar merda nos rios, lagoas, manguezais, baías e praias? Por que esse filme eu continuo vendo forçado nas praias de Copacabana, Ipanema e Leblon pelo canal do Jardim de Alah, São Conrado e Barra, nas lagoas e na baía de Guanabara, Sepetiba e Ilha Grande sob as mais variadas bandeiras partidárias”.

Para Moscatelli, dando sinais de impaciência, é hora de se recorrer à justiça para “obrigar o Estado a fazer o saneamento ou deixar que alguém o faça em virtude de algum tipo de impedimento do primeiro dentro do contexto de devastação ambiental que ocorre na baixada de Jacarepaguá”.


O jovem escritor Antonio Prata, que tem sido elogiado pelos colegas craques Ruy Castro e Fernando Morais, escreveu, no site Releitura-textos, um artigo espirituoso, intitulado Privada I: o homem e sua obras (extraído do livro Douglas e outras histórias, publicado pela Azougue Editora, em 2001). Eis como Antonio Prata conclui sua advertência escatológica: “(...) Após dar a descarga, nosso cocô é mandado para esgotos submersos, que desembocam em rios que vão dar lá longe no oceano. Sanamos o problema por enquanto, mas é só uma questão de tempo. Todo esse cocô está se unindo, formando o maior movimento underground do mundo. Nossas cidades, nossos países estão boiando sobre rios de merda. Fala-se muito no fim do petróleo e no fim da água, mas não será assim que nós morreremos. Numa incerta manhã um cidadão dará a descarga e, como na piada, ouvirá o estrondo: o subsolo, entupido, explodirá. A verdade, reprimida por séculos e séculos, emergirá. Só nesse dia todos perceberão o tamanho da cagada em que nos metemos desde o dia em que resolvemos sair da floresta. E não haverá sachê nem bom ar que dê jeito. Como se sabe, só as baratas sobreviverão”.