quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Mijões e ação litisconsorte contra Eduardo Paes


Editorial do Carnaval do Xixi
no Correio da Lapa da Indignação *


Rodrigo e Eduardo, os campeõs
de atos obscenos na folia carioca de 2010


Rio Acima, Salvador Abaixo, Recife no Meio... Cadeia para o Povo que Urina!


A política de choque de ordem da prefeitura do Rio de Janeiro resultou em cerca de 300 prisões ao longo do Carnaval do Xixi. O secretário Rodrigo Bethlem apareceu na TV dizendo, no fundo, no fundo, que o cidadão tem que se educar na marra. O pau-mandado do prefeito Eduardo Paes tenta fazer num toque de mágica o que ninguém no mundo conseguiu: transformar o conceito de necessidade visceral em ato supérfluo, adiável.

Ficou claro, com o número pífio de mijões levados a delegacias depois da urinação em logradouro público, que o ato de prender não foi repressivo ao ato de urinar, mas mera política deliberada, via constrangimento dos detidos, incluindo turistas estrangeiros, de exibição de força, arrogância, ameaça, terror.

Os exemplos da reação dos foliões são incontáveis. Na folia do Barbas, por exemplo, em Botafogo, havia cerca de 10 mil pessoas e apenas quatro ou cinco banheiros químicos. Um casal com uma filha de oito anos desistiu, com menos de uma hora de cantoria, de continuar festejando, e aquela família empreendeu uma corrida desesperada para não ser presa e fazer pipi, foram 15 minutos de tortura, no caso da mulher agravada com o fato de ter neolpasia e ter sido submetida a quimioterapia. Os dois ou três bares não davam conta da demanda. Fila impossível para se deparar com uma cloaca municipal, um problema agravado pelas autoridades que proibiram os bueiros como alternativa, é bom não esquecer.

Centenas de milhares de pipi foram feitos mesmo assoim na rua sob o risco de uma prisão em flagrante. Qualquer clínico geral, qualquer vereador de boa vontade, qualquer cidadão comum sabe que não há banheiros em número necessário. A sociedade se viu enganada ainda pelos meios de comunicação, engajados na política de boa vizinhança, puxa-saquismo ou que nome tenha esse esforço de enfeitar e preparar a cidade para a Fifa 2014 e os Jogos de 2016.


Ninguém se dispôs a mostrar o óbvio. Mesmo com foliões optando por bebida destilada em detrimento da loura diurética, não havia força no mundo, nem a arrogância da administração Eduardo Paes, capaz de mudar o significado de fazer as necessidades.

Ao transformar o folião num preso acusado de ato criminoso, quando apenas não havia opção a tempo para fazer as necessidades, Eduardo Paes e Rodrigo Bethlem provavelmente cometeram algum tipo de abuso. Pessoas que eram vítimas da necessidade premente, que é fazer a necessidade de urinação, foram transformadas em exemplos de má conduta, levadas a DPs repletas de ladrões, assassinos e estupradores. Essas pessoas ainda deverão passar por novos constrangimentos, quando convocadas para dar andamento aos processos.



A sugestão do Correio da Lapa é que essas pessoas promovam uma ação conjunta contra o poder público, tipo litisconsorte, para evitar despesas. E que assim consigam provar que são, na imensa maioria, pessoas cumpridoras de seus deveres e que urinaram não por desrespeito nem incontinência civil, mas porque não aguentaram mais as filas.

Acusadas de crime, foram humilhadas e ainda vivem a ameaça de serem condenadas, perdendo a condição de primárias perante a Justiça. Foram descritas como obscenas. Merecem indenização.

A prefeitura agora tem a obrigação de ser mais criativa. Esta repressão estapafúrdia ameaça aumentar as chances de qualquer adversário de Eduardo Paes na eleição para
presidente do Brasil e para governador no Rio de Janeiro em outubro que vem.

Ninguém que vai a um bloco de carnaval está preocupado com a privada exclusiva das autoridades nem fica moralmente abalado se vir um folião ou foliã urinando num canto da cidade. Uma mulher de biquininho no plenário do Senado. ou no gabinete do governador Sérgio Cabral, seria, sim, uma paisagem obscena. Na orla
do Rio, não. Do mesmo modo, urinar num bueiro da Av. Paulista ao meio-dia de um quinta-feira útil, sim, soará como insulto à urbanidade. Mas no meio de 20 mil foliões, não, no meio de 500 mil cantando quem não chora não mama, segura, meu bem, a chupeta, não mesmo.

Rodrigo e Eduardo foram os campeões de atos obscenos no Carnaval Carioca de 2010. A prefeitura do Rio, querendo esvaziar o carnaval popular e espontâneo dos blocos, constrange pessoas bacanas e exibe a sua intolerância criminosa.

Carnaval limpo, só o oficial, tipo desfile-ópera no sambódromo, com 60 mil pagantes, metade turista. Já a grande maioria no Rio, como em Salvador e no Recife, brinca sabendo que não há banheiro suficiente. Sorte dos milhões no Nordeste por não terem lá um prefeito tão intolerante e agressivo como o discípulo de César Maia.

Que tipo de reparação pode a Justiça exigir de política tão desrespeitosa dos direitos humanos?

Simples: Cem mil banheiros em 2011 ou então nenhuma prisão! Mobilizar botequins, criar empregos temporários, oferecer a rede de banheiros dos prédios públicos. Higienizar sim, mas primeiro a mente, e nunca aceitar a intolerância de uma política de casta e falsamente castiça que oferece ar refrigerado aos amigos e cadeia aos foliões. Xô!

* Por Alfredo Herkenhoff

Para ver outra
reflexão sobre o Carnaval do Xixi aqui neste Correio da Lapa, clicar no link abaixo:

http://correiodalapa.blogspot.com/2010/02/editorial-do-xixi-no-carnaval-de-2010.html