domingo, 23 de agosto de 2009

Jean Harlow, bonita, pop & blonde

Harlow & Clark Gable



Pop Madonna Marilyn Monroe Marlene Dietrich Noel Rosa Chico Buarque Raul Seixas Michael Jackson Bette Davis Kim Carnes Mick Jagger Gwyneth Paltrow Ginger Rogers Jorge Ben Jor Bette Davis - Tudo Pop
Correio da Lapa: Surpresinha
Jean Harlow

Rica por amor, competência e destino, famosa no cinema e na canção



Her hairs are Harlowe blonde


Por Alfredo Herkenhoff


O compositor Noel Rosa nasceu dezembro de 1910... Puxa, já está chegando o centenário! E morreu em maio de 1937. Gênio ao longo de esfuziantes 26 anos de vida! A atriz de cinema Jean Harlow nasceu três meses depois do Poeta da Vila, em março de 1911, e morreu em junho de 1937, também 26 anos esfuziantes como a primeira loura de fama mundial.
Os dois artistas - Noel sabia dela, viu a atriz de Hollywood desde a época do cinema mudo na Cinelândia - têm em comum o mesmo tempo de vida e sucesso. Embora tivessem uma origem comum, filhos de classe média, a americana teve melhor sorte: se casou com um jovem milionário e bombou em dez anos de carreira, protagonizando papeis em mais de 30 filmes, vimos três ou quatro, talvez valesse a pena ter visto mais.
Jean Harlow é considerada o primeiro símbolo sexual do cinema como a loura de beleza cosmética e magnética, adjetivo este bem apreciado por Jorge Ben Jor em sua sagacidade de fazer apenas samba rock sempre alegre e de bem com a vida no País Tropical. Tivera Noel a chance de se casar com uma loura milionária, ou tivesse nascido sem a ajuda do fórceps, que lhe deformou o queixo, ou tivera a sorte de não contrair tuberculose, sua vida seria... Paremos por aqui, que naquele tempo não havia também a hemodiálise, e sem maiores prolongamentos, a gata do cinema americano adoeceu e com falência renal dançou rapidamente antes da hora, dias depois da explosão do dirigivel Hindenburg, em Nova Jersey, ali ao lado de Manhattan..

Monroe e Madonna, as sucessoras, uma a cada 20 anos


Só 20 anos depois surgiria para o Mundo a Marilyn Monroe ganhando o trono invejável de Rainha Loura Burra Número 1. Thank your Mr. President. E depois da morte aguçada por ela própria, ela morte e ela mulher, a bombshell da Casa Branca deixaria o mundo pop - imagem, movimento e som - num vazio.

O Mundo esperaria mais 20 anos para coroar Madonna como a nova Campeoníssima do Planeta Harlowe Blonde, mas, de burra e de loura, Madonna pouco tem, se bem que, se de medico e louco todo mundo tem um pouco, de loura e burra só umas poucas que interessam têm, e Madonna tem pouco e interessa muito. Madonna, a morena oxigenada, a Maria de Lourdes italiana, é uma espécie de outro lado da moeda de Michael Jackson, o branco negro.

Madonna gosta de tudo que é novo e tem como Deus particular uma entidade chamada Efeito Especial Imediato (EEI). Sua filmografia é frívola, como sua música, que é boa de dançar e às vezes até de ouvir, nada além. Madonna vive o drama de não-morrer, de ser saudável, magricela em corpo malhado, só água de coco e modelito brasileiro erecto, tipo Jesus Luz, dois nomes, Luz e Cristo, que se congraçam na fé, para uns religiosa, e para Madonna, apenas temporal, only material.

Para Madonna, devota do EEI, a cabala até que talvez ajude: não-morrer é uma vergonha que ela carrega, nem Mick Jagger parece sofrer tanto com isso, for ever young, santa fantasia pelancuda com velhas tatuagens a fazer o mesmo de antes: marcar tempo e saudades.



Chico Buarque e Raul Seixas, mímica, pantomima, encenações


O fato de ter devoção ao EEI não significa falta de talento, muito ao contrário. Madonna é peso pesado, é cracaça. Do mesmo modo, no nosso mundo menor de celebridades brasileiras, temos exemplos de devoção ao EEI. Chico Buarque e Raul Seixas, exemplos que aqui eclodem de memória. Já vi Raul num show ao vivo, eu na beira do palco naqueles tempos sem chiqueirinho vip, vulgo camarotes globais. E Raulzito tocava a guitarra... Tocava nada. Fazia mímica, anos 70, gestuália em cena. Guitarra sem cristal, sem amplificador.


Na mesma década, num pequeno especial para a TV Bandeirantes, então sem a parafernália digital, Chico Buarque (que não ocasião não aceitava, por motivos políticos, era ditadura, que sua imagem aparecesse na TV Globo) pediu para que botassem algodão em lugar de palitos dentro de uma caixinha de fósforos em que fingia batucar um samba seu. Chico Buarque confessou que não tinha muita habilidade para o batuque com os dedos. Chico, com simplicidade genial, ajudou a equipe da Band a evitar um problema numa gravação ao vivo: o de atravessar o samba que não se aprende na escola. E Chico, além do EEI, aprendeu muito com Noel.


Já Noel, cara de menino travesso, sabia que viver é atravessar, e nascido com o nascimento do samba, soube cantar a universidade, cantar que samba não se aprende na escola. E quem nasce lá na Vila não vacila. Noel cantou o samba carioca passeando com poesia pop, urbana, pelo fascínio das novidades do cinema falado. Noel indiretamente cantou Jean Harlow, que infelizmente não teve tempo de viajar ao Rio de Janeiro como tiveram tantas louras menos unânimes de Hollywood, daquelas que ficavam no Copacabana Palace e nada mais.


Concorrência de poucas blondie girls dos anos 20/30

Do seu tempo, Jean Harlow enfrentou a concorrência de umas outras poucas blondie girls como Marlene Dietrich, que era mais velha, e uma Ginger Rogers, e aliás ambas conheceram o Rio de Janeiro. Mas a alemã, por jogar nas 11, bi-tri-sexual, não foi aquela unanimidade que levasse os adolescentes daqueles tempos de falsa castidade a lhe dedicar igual número quântico de 11 mil bronhas, vulgo mass marturbation. E Ginger Rogers, talvez porque dançasse tão bem, fosse energética demais, também não. Só Jean Harlowe foi, delicadamente, frágil e sexy total na visão da plateia mais ampla, foi drama total: sua mãe queria ser atriz. Ela queria viver e, aos 16, originária de um Kansas caipira, já estava rica por amor e no caminho inevitável da fama sem ter se curvado ao Efeito Especial Imediato. Viveu tragédias pessoais, divórcios sucessivos etc, tudo em dez anos. E assim se passaram dez anos sem ouvir seu nome.


Harlean, Harlow e Harlowe, variações numa mística volátil


O nome da atriz tinha variações, numa antecipação desse universo de mística volátil com quiromancia e numerologia. Jean foi também Harlean no batismo. Ou seja, tinha três nomes: Harlean, Harlow e Harlowe. Her hairs are Harlowe blonde. Seus cabelos são de um louro Harlowe, sem tanto EEI, sem tanta água exigenada.
Harlow, esquecida na travessia do cinema velho para o falado, só reapareceu no pop deste descartável mundo midiático dos nossos dias graças ao primeiro verso da bela canção Bette Davis Eyes, canção de meados dos anos 70 e que estourou na década de 80, imortalizada na interpretação de Kim Carnes.

A internet é o pop que vive de invenções e exumações


A atriz Bette Davis adorava a música que lhe tirou do anonimato nos últimos anos de vida.

Toda essa digressão aqui no Correio da Lapa nasceu do acaso a partir da curtição de um youtube com uma versão de Bette Davis Eyes na voz da atriz Gwyneth Paltrow para o filme Duets.

Uma surpresa puxa outra e, como numa novela, vou voando, indo pra outra.

O insepulto Michael Jackson em vida estava sepultado. E o sucesso do Rei do Pop que estava sepultado agora está insepulto e fatura mais do que Elvis Presley no Ranking das Celebridades do Além. Ao sair de cena de surpresa aos 50 anos, Michael Jackson dividiu um século ao meio, metade é dele; a outra, é de todos nós, memorialistas de menor ou maior intensidade pop. Do mesmo modo, Raul Seixas, no nosso mundo menor de celebridades brasileiras, estava sepultado e, ao morrer, "descepultou-se", renasceu numa exumação para a mídia.

Moral da história: primeiro morra, e só depois me procure se achar que vale a pena recomeçar, voar para outra surpresinha.


Youtube com Thalma de Freitas cantando o cinema falado de Noel

Não tem tradução

(Noel Rosa, Francisco Alves e Ismael Silva)

A Orquestra Imperial no Especial Som Brasil da Rede Globo.




O cinema falado é o grande culpado da transformação
Dessa gente que sente que um barracão prende mais que o xadrez
Lá no morro, seu eu fizer uma falseta
A Risoleta desiste logo do francês e do Inglês
A gíria que o nosso morro criou
Bem cedo a cidade aceitou e usou
Mais tarde o malandro deixou de sambar, dando pinote
Na gafieira dançar o Fox-Trote
Essa gente hoje em dia que tem a mania da exibição
Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
Com voz macia é brasileiro, já passou de português
Amor lá no morro é amor pra chuchu
As rimas do samba não são I love you
E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny
Só pode ser conversa de tel


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