DEU NO MONITOR MERCANTIL
Notícia sobre milhares de brasileiros em apuros no Japão, perdendo emprego e preparando as malas para voltar ao Brasil, na coluna Fatos e Comentários, assinada por Marcos de Oliveira e Sérgio Souto:
A quem interessa?
Em conversa com esta coluna, um descendente de japoneses, que ocupa importante cargo na área de comunicação e marketing de uma grande empresa, revelou espanto com reportagem veiculada em 28 de fevereiro no Jornal Nacional sobre a "grave crise" que atinge os dekasseguis - nisseis e outros descendentes que voltam ao Japão para trabalhar lá, e mandar dinheiro para o Brasil.
Dois desses brasileiros que chegaram recentemente da ilha relataram à fonte dessa coluna que o desemprego atinge a 2% ou 3% dos dekasseguis, aqueles que não se adaptaram à cultura e trabalho locais e que mesmo antes da crise sempre constituíam um problema. São trabalhadores que não se fixavam numa empresa e trocavam de emprego por qualquer oferta financeiramente mais vantajosa, mesmo que por apenas um punhado de ienes a mais.
Regresso
"A economia japonesa encolheu 12,7% nos últimos três meses do ano passado. Uma ameaça para os 320 mil brasileiros que vivem lá, conhecidos como dekasseguis. Estima-se que até 30 mil deverão retornar." Assim era a chamada no principal jornal da TV Globo. Os aviões lotados de brasileiros querendo retornar também chamaram atenção. Pois ambos os descendentes que vieram recentemente do Japão - viagens programadas, diga-se - afirmaram que seus vôos realmente refletiam a crise - de falta de passageiros, já que transportaram pouco mais da metade da lotação dos aviões. Aviões lotados, só em dezembro - época de vôos cheios e aeroportos congestionados em qualquer ano.
Falta
O principal efeito da crise, não só sobre os dekasseguis, mas também sobre o trabalhador japonês, segundo a fonte desta coluna, foi a redução do número de horas extras; que, ainda assim, continuam sendo feitas, só que em menor quantidade. E a Câmara de Comércio de Nagoya, principal pólo dos brasileiros no Japão, prevê falta de mão-de-obra braçal já no segundo semestre deste ano.
O presidente Lula e o auto-engano
Mais tático que estratégico, o presidente Lula construiu sua carreira adequando seu discurso aos gostos das diferentes platéias pelas quais desfilou. O próprio Lula batizou de metamorfose ambulante uma prática mais próxima da política de conveniências e da linha da menor resistência.
A pior crise do mundo desde a Depressão de 30, no entanto, coloca esse estilo em xeque. Agora, ou Lula pratica o que prega nos fóruns internacionais, nos quais defende a importância de fortalecer o Estado na economia, inclusive no setor financeiro, ou persiste na política de estrangulamento fiscal, que manteve, durante a maior parte dos seus sete anos de governo, o Brasil marcando passo no medíocre crescimento médio de 2,2% ao ano herdado da interminável administração FH.
Com o país em recessão, Lula não tem mais como conciliar a retórica pró-desenvolvimento com a única política monetária restritiva do planeta e a ameaça de novos cortes no Orçamento, para manter-se obediente aos dogmas do ajuste fiscal. Com a crise, reduziu-se a margem para as bravatas e as ambiguidades que marcam sua carreira. Lula, enfim, vai ter de definir como pretende entrar para a História.
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