sexta-feira, 26 de junho de 2009

Crise na Fiat e o mercado mundial das montadoras

Adeus Fiat? Ninguém a corteja, e as negociações com a Opel estão num impasse. Obama financia também Ford e Nissan (a Chrysler já obteve o dela). Mercado dos EUA sempre mais complicado. Novidades e avanços dos competidores, da Mercedes à Nissan-Renault. Carros elétricos vêm aí. Fiat sem produtos novos corre mais perigo. Uma análise italiana...

(Nota a internautas - Correio da Lapa comentando: Este artigo a seguir é da publicação italiana Il Foglio, o texto postado nesta sexta-feira 26 de junho no site-sensação da Itália chamado Dagospia e traduzido rapidamente por Alfredo Herkenhoff. Ei-lo:)

As penúltimas notícias do front dos carros dizem que nenhuma montadora está destinada a desaparecer, e provavelmente também quase nenhuma marca. Isso significa que certamente o mercado ainda conta um pouco, mas conta muito mais o emprego. Isso não é novidade, já se sabia na Europa, onde o setor emprega 12 milhões de pessoas, e onde cada Estado procura salvar a existência das próprias fábricas.

Mas é o que agora se vê com clareza na América. À necessária drástica redução da capacidade produtiva das ex-big 3, (menos 35% entre 2008 e 2012, segundo o Wall Street Journal), corresponde como contrapartida um forte incremento de outras marcas, alemãs (500 mil unidades ao ano) e asiáticas (em média pouco mais de 1 milhão de veículos por ano: o conjunto com a utilização de capacidade de produção prevista para perto de 90% em 2012, contra 75% em 2008).

As cartas estão sendo redistribuídas, e se racionaliza o instrumento de produção. Vão desaparecer provavelmente algumas marcas, já condenadas pelo mercado, ainda que oficialmente cedidas ou em oferta a outros investidores. Já na Europa parece que todas as marcas continuarão a ser comercializadas.

Sabe-se tudo sobre Saab, compra da pequena Koenigsegg, que porém diz não ter fechado de todo as suas operações. E era aquele exemplo de uma marca quase impossível de voltar a ficar de pé. Com um pouco de ímpeto, alguns procuram partner, como é o caso da Mercedes, talvez também da Peugeot, que preanuncia um senhor prejuízo para este ano.

E é obviamente o caso da Opel, cujas negociações como Magna se arrastam enquanto se vê entrar em jogo, de vez em quando, um grupo chinês. Em resumo, continuam a embaralhar as cartas, mas ninguém parece em perigo. Será que é isso mesmo?

"Exatamente em função deste esforço em andamento", explica ao Foglio Ernest Ferrari, expert no setor, "emerge com nitidez toda a debilidade da Fiat, uma das casas correndo o maior perigo pelo simples motivo que ninguém a corteja, ninguém a quer, enquanto a estratégia de se juntar com a Opel permanece em suspenso".

Os riscos da aposta Fiat-Chrysler são conhecidos, mas há outras novidades a considerar também, como a decisão do governo Obama de ajudar com financiamentos vultosos num total de 8 bilhões de dólares para a Ford, 1 bilhão 650 milhões para a Nissan e quase meio bilhão para uma pequena firma especializada em parte elétrica de carros, a Tesla, tudo isso tendo como obrigação o compromisso de que os apoiados passem a produzir automóveis de baixo consumo de combustível.

A Chrysler já recebeu o dela. E no que toca ao desembarque de carros da Fiat nos Estados Unidos, uma outra notícia dá o que pensar, como deixou claro o Wall Street Journal: as marcas americanas (incluindo os carros da Chrysler) já se aproximam rapidamente do nível da qualidade dos veículos importados do Japão e da Alemanha.

"Estas três penúltimas notícias do front", explica Ernest Ferrari, "são sinais negativos para o Lingotto: vai bater de frente, na América, com concorrentes americanos que racionalizaram os seus próprios instrumentos de produção, e encarar ainda concorrentes exportadores que investem de olho no mercado para preencher os vazios deixados pelas ex-big 3. Destas, duas serão apoiadas ainda por empréstimos do governo. A qualidade da produção local está crescendo".
(...)

(Parênteses do Correio da Lapa; aqui um parágrafo foi quase de todo excluído por dificuldade de tradução rápida de algumas expressões, mas que diz basicamente o seguinte: em função das iniciativas
mencionadas, analistas estimam que este ano, apesar da crise, o mercado americano possa crescer 250 mil unidades).

E na Europa, come está a Fiat? Tudo vai depender se vai conseguir se inserir nas operações da Opel, ou de uma outra empresa de nível equivalente: "O Grupo Fiat, sozinho, com o seu enorme endividamento e ausência de novidades relevantes de produto, de carros, está simplesmente em perigo", afirma Ernest Ferrari.

Existe, obviamente, o asset Marchionne, existem os resultados econômicos ainda aceitáveis, até um crescimento de volume na Europa. Mas quase todas as outras montadoras não estão olhando para a Mercedes, cujo CEO Dieter Zetsche afirma sem papas na língua: "Devemos reinventar o automobile" ("Wir mussen das Automobil neu erfinden", é o que se lê na revista Spiegel).

E a Renault-Nissan investe um bilhão de euros no seu carro elétrico, modelo que também tem previsão de entrar em produção no Japão e nos Estados Unidos já a partir do ano de 2010.

fim