sábado, 28 de março de 2009

Pensamento e arte - Parte 1


Immanuel Kant no Arco

Por Alfredo Herkenhoff

A Companhia Vale do Rio Doce patrocinou seminários internacionais sobre o conceito de arte na discurso da filosofia em 2006, o que gerou a edição do livro Arte no pensamento. Na apresentação do livro, dividido em blocos - antiguidade, era moderna e contemporânea, Olinda Cardoso Costa, diretora superintendente do Museu Vale do Rio Doce, na Grande Vitória, lembrou que seminário, na etimologia, remete a semear, a plantar, e comparou os participantes do evento a sementes de reflexão. Fernando Pessoa, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e organizador do livro, cita um diálogo entre Sócrates e Parrásio sobre indagações do que seria a arte. Desse ponto surgiu uma investigação no Ocidente na qual a arte deixa de aparecer através do ofício do artista, como obra de arte, para se mostrar no pensamento como obra de filosofia. Ou literalmente: “Distinta das cores da pintura, das formas da escultura, do som da música, a arte aparece na filosofia como uma modalidade de experiência ou compreensão da realidade”.

Editado sob lei de incentivos fiscais em parceria da Vale e Ufes, projeto de Suzy Muniz Produções, o livro Arte no pensamento está, nesse exato momento, sustentando uma segunda experiência, sendo aqui fatiado em lapas, no método de junta-junta, num cut up cujo resultado final configura um panorama imprevisível. Esses retalhos aqui mal se sustentam como o inesperado das horas. Ao sabor do acaso, seguem trechos dos ensaios do encontro internacional promovido em Vila Velha:

No abertura do livro, Arte no Pensamento, Françoise Dastur, professora da Université de Nice, lembra:

Platão é quem, ao mesmo tempo, dá à palavra philosophia o sentido forte de amor pela sabedoria e busca da verdade, e quem expulsa os poetas de sua cidade ideal, por enxergar neles produtores de simulacros, imitações muito distantes da verdade e, consequentemente, enganosas. O gesto de Platão consagra a separação da imaginação e da razão, da arte e do pensamento. Isso explica porque, durante muito tempo, na tradição ocidental, a arte ficou mantida em posição subordinada com relação à filosofia e às ciências.

No fim do ensaio Imagem e verdade em Platão, a professora Carla Franca Lanci, da Ufes, afirma:

Se pudermos compreender a ideia como possibilidade, como enfoque ou ótica, a partir da qual a realidade nos aparece, a cada vez, dimensionada, a noção de imagem pode vir a perder o seu caráter de “símbolo”, como representação do exterior, isto é, como algo outro e fora do âmbito da ideia, que a ela e exteriormente se remete. A participação da imagem na ideia não necessita ser pensada como a junção posterior de duas instâncias de antemão separadas, mas pode ser encarada como a unidade que desdobra o que se evidencia desde sua força de evidenciar. Ser imagem, assim, assume o caráter de ser e de se dar a ver a partir de seu movimento ou força geradora; nesse sentido, ela é o que se deixa visualizar juntamente com e a partir da luz que a faz visível. Trazer o real à fala como imagem é torná-lo em conjunto com aquilo que o faz ser, que não é nada dele distinto, mas sim a força impositiva da visão em que ele se faz presente e visível. A realidade mostrada como imagem é a consideração unitária do que se faz aparente em seu movimento de tornar-se manifesto; é, assim, a busca por apresentar o real, clarificando simultaneamente, nessa apresentação, sua gênese, seu movimento mais intrínseco de ser e acontecer.

(Seguem mais cinco trechos do livro. Veja abaixo:)