Por Juarez Becoza *
Caro leitor:
Tive sim, um dia, uma única vez, muito tempo atrás, a sensação indescritível de pedir: parem as máquinas.
Sim, porque "parem as máquinas" não se gritava, como mostram equivocadamente os filmes antigos. "Parem as máquinas" se sussurrava. Gravemente, com cuidado, de ouvido em ouvido. Primeiro na redação, depois na sala das rotativas, quando então se negociava em que momento iriam parar a "rodada", e quantos exemplares ainda poderiam ser impressos já com a nova infomação, o furo, a correção, devidamente incluída na matriz da página em questão.
Na única vez em que pedi para pararem as máquinas, eram três da manhã. Aparentemente, quase não havia a quem pedir. Mas havia sim. Havia apenas ele, apenas ele, aliás, o único capaz de realizar tal tarefa. Alfredo.
Alfredo era o secretário da redação. Era o chefe da madrugada. Comandava ao mesmo tempo uma redação deserta e uma gráfica pulsante. Entre esses dois mundos, tão diferentes, só Alfredo tinha trânsito livre. E era dele, no fim das contas, a decisão de paralisar a produção do jornal para acrescentar uma informação de última hora.
Alfredo era, e ainda é, um grande boêmio, e um grande jornalista. Mas, como cabe aos homens de sensibilidade, hoje é também um grande escritor. E poeta. São dele os versos abaixo, recém-lavrados, que reproduzo em primeira mão, com orgulho e autorização.
E você, distraído leitor que achar que a poesia a seguir nada tem a ver com a temática deste blogue, envergonhe-se.
* (- Nota do Correio da Lapa: Heterônimo de Paulo Mussoi, jornalista com diploma, bem formado desde a infância mais tenra, passando pelos beneditinos do São Bento e pela ralação do Jornal do Brasil dos tempos risonhos que não voltam mais até chegar ao blogue Pé-Sujo, do jornal O Globo Online....)
TIPOS DE MULHER
Por Alfredo Herkenhoff
Só gosto de dois tipos de mulher
brasileira e estrangeira
verde ou amarela
gorda ou magricela
A que ninguém ama
A que todo mundo quer
A nobre e a plebéia
A crente e a atéia
A estagiária e a gerente
a mulher fria, a envolvente
Só gosto de dois tipos
Mulher que se arruma depressa
Mulher que perde a hora
A que ri à toa e a que chora
A que não me tem, mas me namora
Mulher que leva na brincadeira
Ou leva tudo a sério, pistoleira
Verdadeira ou mentirosa
Horrorosa, porém gostosa
Mulher que rala muito
Mulher que vive à toa
Só gosto de dois tipos
A boa e a muito boa
Gosto da bem amada
E da mal falada
Daquela que ninguém viu
Da prostituta mais vil
Carinho tipo guerra civil
Gosto da mulher casada
Da mais fogosa tarada
Da que respeita o marido
Da que faz o dono ficar moído
Só gosto de dois tipos de mulher
Da que aparenta ser honesta
e da que me dá o benefício da dúvida
Gosto da mulher de rabo de cavalo
E da que ostenta o rabo largo
Da mulher do beijo doce
Mulher do beijo mais amargo
Da que cai dentro porque é bamba
E daquela que nem gosta do samba
Gosto da mulher que dança bolero
Da mariposa que voa, quero-quero
Mulher que nada fala
mas não se cala
Da aflita que não grita
Ou da calma que se esgoela
Da que tem ciúme dele
Da que tem ciúme dela
Da que me ama antes de me ter
Da que só me ama depois de meter
Gosto da ex e da futura
Da mocréia e da formosura
Mulher do tipo leveza
Beleza do tipo grossura
Só gosto mesmo de dois tipos:
meu bem e amém
Gosto da mulher mais pobre
Gosto da mulher mais rica
Daquela que nunca vem
Da que o tempo todo fica
Seja a mais esbelta
seja a mais atarracada
Qual bola de bilhar
cada uma, uma tacada
É um eterno rala e rola que embola
dias frios e quentes, infernais
A regra é clara: respeitar os rivais
Mas nunca temer a concorrência
Entre a viadagem e a abstinência
Se o prazer é uma loucura
Pego fogo com a ternura
Se o gozo, uma vertigem
Tomo banho de fuligem
Posso dizer que curto uma vida amena
Rimando loura com morena
italiana azeda com pretinha
pela felicidade da vizinha
Qual a mais carnívora flor
que encontra um dia quem a devore
o desejo guarda traços de fragilidade
mesmo se a paixão furiosa não for maldade
Nesta busca para saciar a fome de prazer
Existe um tempo de irritabilidade
Pois antes que este tempo me derrube
digo claro e profundo o que penso da dor:
Só gosto de dois tipos de mulher
A que tem prisão de ventre e a que faz cocô
Sou fã de toda zoeira
Bate-papo, bobagem ou besteira
Só gosto de dois tipos de mulher
A que só como você se declara
E a que jamais se declara
Gosto sim da mulher que jura gostar
Nada tenho contra quem
não me faz mal no meu harém
As diversas formas do bem-querer
são mais misteriosas que o Além
E quanto mais eu me enchafurdo
mais eu morro de saudade
É sim, só gosto de dois tipos
buscando amor nesta cidade
Mulher inteligente que empacou
Mulher que deu mais do que Pelé fez gol
Gosto daquela que dá duro
E que faz sexo seguro no escuro
E daquela que dá sempre mole
E apesar de tanto bole-bole
Não sou de galinhagem
É uma de cada vez
O taxímetro tem milhagem
A verdade não tem talvez
Gosto que me enrosco
no céu, na terra, avião no ar
Peixe na praia, sereia no mar
Mas é uma de cada vez
pra batata não assar
Admiro quem se admira
Joana, Maria, Clara e Mira
Depois de tanta mentira
só me resta dizer uma verdade
Eu só gosto de você
porque só você me deixa à vontade