Trecho de obra inédita
O Livro De Arte contém, além de uma transa experimental, entrevistas realizadas ao longo de três décadas com personalidades do mundo das artes, como Hélio Oiticica, Antônio Dias, Patricia Phelps Cisneros, Lygia Pape, Wilson Coutinho, Nise da Silveira, Anna Bella Geiger, Alberto Ribas, Ronaldo Brito, Caetano Veloso e outros craques. É transa abrigando poética e crítica numa trajetória jornalística. Boa parte do Livro De Arte serve de subsídio para pensar a realidade, o Brasil e especificamente o Rio de Janeiro com relação às artes. Serve para pensar as características do Museu de Arte Moderna (MAM-RJ) como centro de produção experimental, com a instituição oscilando entre a dependência da iniciativa privada e, na maior parte de sua história, vivendo de recursos do Estado, mesmo quando o regime era ditadura.
O livro incorpora devaneios e vislumbres em nome da liberdade de riscar e arriscar, registros de tantas verdades, apesar da subjetividade inevitável, registros de tanta ficção, ou mentira, que na linha jocosa de Mário Quintana, é a “verdade que esqueceu de acontecer”. O livro resulta de uma dinâmica no ato de existir instaurando invenções, processando lembranças, elaborando esquecimentos.
Os textos foram reunidos como uma ação pessoal, pensando a arte como edição, amálgama que sai numa expulsão, num encantamento, ou ainda a arte como localização, interpretação e transformação da realidade, qualquer realidade, incluindo a própria arte, ou qualquer noção que se faça da própria arte. O livro é vaidade complexa que o autor, como um repórter do simbólico, viu, guardou, curtiu, perdeu, reencontrou, produziu, reproduziu e, depois de muito tempo, ofereceu.
Em pleno 2009, os textos, na maior parte, são inéditos, alguns de 30 anos atrás, outros de duas décadas, outros já deste início de Século 21. Sobre o material inédito, observe-se que há entrevistas amplas com personalidades já falecidas, como Lygia Pape, Hélio Oiticica e Wilson Coutinho. Pequenos trechos de alguns depoimentos de gente viva puderam ser vistos na chamada grande imprensa. Mas as vozes neste livro, entre vivos e mortos, são inéditas na maioria, seja em papel ou em mídia eletrônica, o que por si dá a esta edição um caráter raro, considerando o fato de o conjunto ter sido quase integralmente conservado por tanto anos como um espaço íntimo do autor, assemelhando-se por isso a um álbum jornalístico a desafiar tempo e oportunidades.
Velhos depoimentos de personalidade que estão aí, vivinhas da silva, como Antônio Dias e Ronaldo Brito, mostram que estes podem atualizar suas visões de mundo, acrescentar esclarecimentos, interagir com esta pequena obra, mas jamais sairão essa transa que os cristaliza numa experiência editorial.
POr Alfredo Herkenhoff