Tema proibido ganha destaque na Califórnia, via Canal Fox, televisão das mais conservadoras dos EUA
Correio da Lapa: Notícia comentada (*)
No vídeo abaixo neste Correio da Lapa, uma discussão sobre legalizar ou não a maconha nos EUA. O conteúdo foi avistado no site do Huffington Post por meio do Twitter nesta terça-feira, 4 de agosto de 2009. Grosso modo, o vídeo, infelizmente sem tradução, trata da polêmica da descriminalização da maconha com um dado novo: uma medida de emergência para a defesa do meio ambiente.
Como não é período eleitoral, vê-se que se trata de discussão sem paixão eleitoreira, com pontos de vista em cima de fatos terríveis da realidade do dia-a-dia. Um parêntese: no Brasil, no Rio de Janeiro, quando Sérgio Cabral foi eleito governador, em 2006, fez campanha dizendo defender a discussão sobre descriminalização, mas reconhecendo que a grandeza do problema era tal que só quem poderia de fato atacar frontalmente a questão era a Casa Branca. Depois que assumiu, Sérgio Cabral fez o que os governadores que o precederam também implementaram: mandou dar tiro. Só numa operação de dois meses no Complexo do Alemão (Penha), morreram umas 60 pessoas, na grande maioria velhos e crianças que nada tinham que ver com o narcotráfico de jovens ágeis e de AR 15 em punho em plena luz do dia. Eles contiuam por lá e pelos quatro cantos das grandes cidades brasileiras.
Mas, parêntese à parte, há paralelos mesmo entre sociedades tão desiguais pela diferença de riqueza de suas populações. Grosso modo, o video trata do seguinte: o combate às drogas pode ter uma intenção nobre, mas o crescimento do cultivo da maconha na fronteira EUA e México está destruindo o meio ambiente no Sul dos Estados Unidos e é preciso fazer alguma coisa radical.
Primeiro reconhecer que os cartéis mexicanos atuam no interior da Califórnia, onde a colheita da marijuana é a de maior liquidez nos EUA. O mercado representa um faturamento bruto estimado em quase 14 bilhões de dólares por ano. Os plantadores não são mais os hippies pacifistas e românticos do início dos 70. Hoje usam pesados geradores de centenas de quilowatts, tanques de armazenamento de diesel, tratores ATV e ainda espalham enorme quantidade de defensivo agrícola e outros venenos na natureza.
Esses agricultores ilegais trabalham intensamente o verão inteiro, jogando toneladas de venenos no solo, rios, riachos e veios d'água, num sistema de irrigação que atinge a cadeia alimentar dos animais. Os inseticidas e outros defensivos são drenados. Além do lixo, deixam um rastro de morte. Eles usam uma espécie de chumbinho contra ratos para proteger a colheita, e quando os ratos morrem e se decompõem, o veneno se espalha e atinge predadores e cursos d'água.
Um relatório ambiental mostra que a política da combate à droga é um problema maior do que simples combate a traficantes, envolvendo como nunca uma ameaça ambiental. Também em nações andinas os produtores de cocaína utilizam produtos químicos altamente nocivos à cadeia ecológica.
Essa discussão ganhou visibilidade no canal Fox da TV americana. O ex-presidente George Bush não quis nem discutir descriminalizar o consumo de maconha para não afrontar legislação federal, dizia. O atual Barack Obama também titubeia: não cogitou até agora de mexer na questão legal e de uma regulamentação contra o tráfico e a favor do meio ambiente.
E agora ecologistas e outros formadores de opinião discutem que os EUA estão numa encruzilhada: não conseguem fazer cumprir a lei que proíbe o consumo de maconha nem mudam a lei. Como está a proibição, quem sai ganhando são os cartéis do crime organizado arrecadando bilhões e bilhões de dólares.
Até a Lei Seca tem sido lembrada, período da década de 1920 em que Washington proibiu o criminalizou o consumo de álcool em todo o país, mas, em vez de enfraquecer o consumo, apenas o encareceu e enriqueceu os criminosos, que se armaram e se tornaram altamente violentos.
Há segmentos nos EUA estudando eventuais usos medicinais da maconha e benefícios de uma mudança na legislação que regulamentasse o mercado com plantio correto, impostos e monitoração do consumo da maconha como um problema de saúde pública, tal qual o álcool e tabaco.
No video a seguir, uma conversa com o vice-ministro das Relações exteriores do México com um âncora do noticiário do Canal Fox que, diga-se de passagem, é reconhecido como uma das televisões mais conservadoras dos EUA. Ou seja, o problema está ganhando foro, dimensão acima dos pobres dos consumidores doidões.
O México faz fronteira com Texas, Novo México, Arizona e Califórnia, este o estado milionário, o mais rico dos EUA. Preço lá não é problema para o consumidor. E assim, os traficantes ficam cada vez mais ricos e mais audaciosos e mais nocivos. A maneira de enfraquecê-los é tirar o dinheiro que eles ganham e que o governo não quer como impostos para um problema social. Aliás, quem defende mudança radical na legislação contra as drogas, se uma campanha avançar nesse sentido, provavelmente passará a ser alvo de pistoleiros. Os traficantes que gerenciam a oferta de maconha na Califórnia parece que têm mais medo de uma mudança na legislação do que da polícia.
(*) - Por Alfredo Herkenhoff