domingo, 31 de maio de 2009

Lapa Severino Araújo Fulgencio Fidel Globo 9/10

Severino Araújo, o Maestro... Longa Vida para Tabajara!


Segue depoimento de Severino Araújo (nascido em 1917), dado há alguns anos lembrando o nascimento da Tabajara e a chegada da orquestra ao Rio de Janeiro. Fonte na internet.

Palavras de Severino:

A Orquestra Tabajara foi organizada em janeiro de 1933 para fazer o carnaval de um clube em João Pessoa, na Paraíba. Nessa época se chamava Jazz Tabajara, hoje se chama Orquestra Tabajara Severino Araújo. Quatro anos mais tarde, em 1937, o governo da Paraíba inaugurou a Rádio Tabajara e nos contratou para trabalhar lá. Em 1938, com a morte de Olegário de Luna Freire, passei a dirigir a rádio. Eu tinha apenas 20 anos. Não queria ser diretor, queria apenas tocar. Toda noite, quando eu terminava o trabalho, ia para casa e novamente ligava o rádio. Tínhamos a programação completa das orquestras americanas de jazz. As melhores eram as de Benny Goodman, Duke Ellington, Tommy Dorsey e Artie Shaw. Havia programas dirigidos para o Brasil, em português. Eu adorava escutá-los. A rádio recebia os discos americanos que traziam os arranjos de Benny Goodman, com quem eu aprendi muito só de ouvir. Meus ídolos eram ele e Artie Shaw, que morreu há pouco tempo. Shaw chegou a escrever sobre mim no jornal O Globo. Ele disse assim: “No Brasil tem um grande clarinetista, Severino Araújo”. Eu recebi um disco dele e fiquei encantado. Eu era apaixonado pelo jazz e pelo clarinete.

Na capital federal em 1944 - Tupi e Fulgencio Batista

Fiquei em João Pessoa até 1944, quando decidi ir para o Rio de Janeiro, atendendo ao chamado de dois telegramas; um me convidava para tocar no Copacabana Palace e outro na Rádio Tupi. Toquei no cassino de Copacabana, mas não gostei. Então aceitei o convite para me apresentar na Tupi. Eu já conhecia os grandes cantores do Brasil daquela época porque, quando eles iam a João Pessoa, sempre tocavam com a Tabajara. Então eu já conhecia Silvio Caldas, Orlando Silva, Aracy de Almeida, Ciro Monteiro e muitos outros. Quando cheguei ao Rio voltei a tocar com eles na Tupi. Só consegui trazer a Tabajara um tempo depois. Nesse início no Rio de Janeiro, eu não era contratado da Tupi. Até que um dia encontrei o Silvio Caldas nos corredores da rádio. “Maestro, o que senhor faz por aqui?”, perguntou. Contei do telegrama. Nessa hora, vinha passando o diretor artístico e o Silvio me apresentou a ele. Disse que eu tinha de ficar na rádio porque eu era bom. Tudo saiu a meu favor.


Sucesso nas rádios

No mês seguinte fui chamado pela diretoria da rádio. Foi quando convidaram a Tabajara para tocar na Tupi. Os músicos ganhariam três vezes mais do que ganhavam em João Pessoa. Eles aceitaram na hora. Em janeiro do ano seguinte, no dia do aniversário do Rio, dia 20 de
janeiro, foi a estreia da Tabajara na Tupi. Nesse dia, o estúdio estava lotado. Estava o pessoal do governo da Paraíba e o do Rio; estava até o presidente de Cuba naquela época, Fulgencio Batista. O estúdio da Tupi era “uma moça”, era lindo. Quando eu comecei a tocar, aquilo veio abaixo, tamanha a empolgação das pessoas. A Tupi ficava em um edifício na Praça Mauá e o estúdio ficava no 6º andar. No dia de nossa estreia a praça estava lotada, todo mundo querendo ouvir a Tabajara. Então, Assis Chateaubriand, dono da rádio, mandou a Tabajara descer para tocar para o povo lá embaixo. Foi uma festa danada. Renovamos o contrato com a Tupi e passamos dez anos tocando lá. Éramos conhecidos no Brasil inteiro. Tínhamos um programa semanal, que era vendido. O que a Tupi recebia com esse patrocínio dava para cobrir a despesa da orquestra e ainda sobravam uns trocados para ela. Ou seja, a Tabajara dava lucro.
Vida de viajante do Maestro Severino Araújo (foto)

No fim de 1954, quando o contrato acabou, fomos viajar pelo Brasil. Tínhamos conseguido fama durante aqueles dez anos na Tupi e todo mundo queria nos conhecer. Mas, nesse ínterim, antes de deixarmos a Rádio Tupi, ainda tivemos três grandes momentos; tocamos com a orquestra de Tommy Dorsey, no réveillon de 1953; participamos da inauguração da TV Tupi, em janeiro de 1951, em que ganhamos um programa semanal, o que nos tornou mais famosos; tocamos numa festa na França, organizada por Jacques Far, que naquela época era o maior costureiro de seu país. Ele era muito amigo de Chateaubriand, que, além de empresário do ramo de comunicações, também era embaixador do Brasil em Londres. Foi ele quem sugeriu que tocássemos na festa. Acabamos ficando 30 dias na França, tocando em bailes para os amigos embaixadores de Chateaubriand, e cada músico recebeu três vezes mais do que recebia aqui. Em 1954, decidimos viajar. Andamos pelo Brasil todo e tocamos em países como Argentina e Uruguai. Em 1955, começamos a tocar na Rádio Mayrink Veiga, onde ficamos até 1959. Nesse período fazíamos a rádio e também nos apresentávamos na TV Rio. Depois fomos para a Rádio Nacional, onde ficamos até 1966. Fazíamos também o programa da Hebe Camargo. Após sairmos da Nacional, ficamos apenas na TV Rio, onde tocamos até 1969. Nessa época eu já acumulava 36 anos de trabalho e resolvi me aposentar. Desde então a orquestra grava discos e faz shows e bailes pelo País.


Entre bailes, shows e gravações

Sempre vivi de música. Até hoje recebo direitos autorais de tudo quanto é lugar deste mundão. Outro dia mesmo, chegou dinheiro de Israel. Já recebi até da Finlândia. Escrevi um choro chamado Espinha de Bacalhau, que é tocado no mundo inteiro e recebo por ele. O tempo em que trabalhava nas rádios e televisões foi muito bom, mas não tenho saudade, não. Eu trabalhava muito naqueles anos porque ainda estava na época de construir a vida. Eu queria que o tempo parasse hoje. Agora é que está bom, porque a gente só faz bailes, shows e gravação. Adoro tocar aqui em São Paulo. É um povo animado, que gosta muito da Tabajara. Sempre recebo convites para trabalhar aqui. Agradeço o convite, mas sabe quando é que eu vou sair do Rio? Nunca! Amo o Rio e Ipanema, onde moro. Continuo compondo muito e fiz três canções em homenagem a lugares do Rio que foram esquecidos pelos compositores. Um é o Pão de Açúcar, outro é a Lagoa Rodrigo de Freitas, e o Jardim Botânico, que é lindo, e ninguém ofereceu nada a ele" .