Deu nesta terça-feira, dia 14, no Diário de Notícias, de Lisboa, comentário do Prêmio Nobel Saramago sobre o cachorro mais badalado do mundo: o Bo, o câo d'água português. O bichinho já é mais importante do que o poeta Luís Camões e mais famoso do que o cão de nome Camões, do próprio Saramago. Vejam a beleza do humor do escritor que até dois dias atrás estava internado num hospital.....
Congratulemo-nos, o nosso cão-d'água já está na Casa Branca. Não sei como irão lá pronunciar o nome que lhe deram, mas espero que o façam à francesa, como se tivesse um acento circunflexo na letra o, com o que significaria belo, nem mais nem menos. A esta hora o seu retrato já deu a volta ao mundo, os grand danois e os galgos da Pomerânia mordem-se de inveja, enquanto a rafeirada portuguesa celebra o sucesso com expressões de justificado orgulho patriótico. Em todo o caso, permito-me dizer que tenho uma séria reserva a manifestar: é não conhecer de todo um cão-d'água ter-lhe posto ao pescoço, para a fotografia, um colar de flores, como se ele fosse uma dançarina hawaiana. Com apenas seis meses de idade, Bo ainda não tem perfeita consciência do respeito que deve ao ramo canino em que teve a sorte de nascer. Querendo a Casa Branca, podemos emprestar por algum tempo (não muito porque nos faz falta) o nosso Camões para servir de preceptor ao cachorro presidencial e ensinar-lhe as maneiras por que deverá pautar--se, em todas as circunstâncias, um digno cão- -d'água de ascendência portuguesa. Portugal oblige.