Por Fernando Herkenhoff (*)
Quando eu disse que Milton Cots era um formador de opinião e polemista profissional (enrustido), num artigo crítico e elegante do Augusto Nunes sobre às práticas do governo Lula que enviei para a lista nacional do PPS, o dito cujo achou que eu estava falando de sacanagem. Eis aí a prova.
Em relação à proposta do Caro Arlindo Vilaschi para marcar um encontro para discutirmos o tema, considero-a muito elegante e pertinente, mas não posso aceitá-la. Penso como Nélson Rodrigues: o Brasil berra pelos botecos. A filosofia da práxis, da "vida como ela é", é conversada desorganizada nos bares da vida. Não tenho qualquer preconceito contra os chamados Círculos Filosóficos ou Literários. Acho que um dos principais avanços conquistados há muito pouco tempo pela autodenominada "humanidade" foram a liberdade de opinião e de reunião. Livros de história, livros bibliográficos e mesmo livros de estórias inventadas me fascinam. Leon Tolstoi e Fiódor Dostoiévsk e outros autores russos são patrimônio da humanidade.
Quanto ao tema em questão (crença em Deus ou não) falo aqui e agora: claro que qualquer cidadão tem o direito inalienável de crença ou descrença. Observo, entretanto, que quando o tema é tratado com uma abordagem positivista (ex. o átomo de carbono juntou-se ao nitrogênio, zilhões de anos depois surgiu o DNA, zilhões de anos depois surgiram os animais, zilhões de anos depois, o homem e a mulher e assim por diante), os crentes sentem-se desprotegidos e reagem negativamente, assumindo, às vezes opiniões religiosas mais fechadas.
Eu cá fiz uma acordo com meu guia espiritual João Baptista Herkenhoff (que é laico e católico metamorfótico) de não pertencer a nenhuma religião organizada e procurar viver sob a égide da Declaração dos Direitos Humanos. Ele concordou. Acho que João me fez uma grande concessão, mas me permite tocar a vida sem perplexidades ou angústias religiosas acima do suportável.
(*) O CdL informa: o autor é médico cardiologista e dirigente do PPS