terça-feira, 12 de maio de 2009

Blade Runner, o Caçador de Andróides 2/3




Ninfeta andróide sente a dor de não saber o seu prazo de validade

Uma vez identificada uma falha mínima, identifica-se um replicante e é dever de todos denunciar o escravo perfeito para que seja prontamente executado. O caçador blade runner mata todos do grupo rebelde. Nesse
canto de cisne, não mata a ninfeta andróide Rachel do seu coração desumano e em dúvida. Essa replicante é vivida pela então jovem atriz Sean Young, com uma aura gentil. Ela sofre quando o galã revela que
ela é uma falsa humana. E ela, logo depois, salva a vida do caçador matando o replicante que ia mata-lo. Na retribuição fria do afeto, a replicante tem a própria “vida” poupada. Os dois fazem um sexozinho, nada explícito. Sobra a angústia que não lhes permite esperar quase nada do amor.

Ela implora ao protagonista que lhe revele sobre o prazo de validade de sua máquina perfeita. Ele não sabe. O idílio é apenas prosseguir desejando descobrir uma forma de perder a curiosidade sobre o próprio fim enquanto caducidade programada.

Na primeira versão do filme, o desfecho foi açucarado pelos produtores preocupados com prejuízos. A contragosto do diretor, o pessoal do dinheiro exigiu um final feliz: o caçador de andróide vira narrador infantil em off nas cenas em que foge com a jovem replicante Rachael para o Norte da Terra, que seria misteriosamente o último lugar ainda respirável, com alguma luz natural.

A cena neste finzinho mostra pela primeira vez um pouco de luminosidade, com o casal fugindo num vôo rasante, não importa se de helicóptero, aviãozinho ou automóvel voador, e nesse rasante, nossos olhos são a câmera num longo travelling ziguezagueando para a frente, e vemos alguns verdes de esperança, e a trilha sonora maviosa e
panorâmica de Oxigene, do francês Jean Michel Jarre. Este fim otimista, chicletinho, tentando evitar prejuízos de bilheteria, foi muito criticado pr cinéfilos, mas hoje já encontra também admiradores. O filme é tão interessante que toda versão se incorpora mitologicamente como qualidade que propicia fruição e reflexão. O fim falso é um ótimo fim apesar das más intenções comerciais na sua origem.

Na versão final, na chamada versão do diretor inglês, como um remake da década de 90, não há mais esse happy end, há apenas um espasmo, não bem uma fuga, mas uma sobrevivência, com ela replicante e ele caçador em dúvida, apenas se sabendo juntinhos, apenas isso, sem saber quanto lhes resta de prazo, quando vem a caducidade programada. Tendo ou não a vida como fruto da natureza ou inventada pela grande corporação da engenharia viral, o casal resiste e isso nos enche de esperança de ver sempre a vitória da vida.

Um novo fim em aberto.
Por Alfredo Herkenhoff

Continua