NADA SE FAZ...
(Nota do Cdl; o articulista não menciona o nome, mas a gente interfere e manda um arquivo com retrato de camuflagem do ministro Nelson Jobim)
Vou para meus temas... A USP está em greve, uma vez mais, uma prática que se insere no calendário escolar, repete-se a cada novo ano, tanto nas públicas como em algumas particulares. E os problemas das universidades públicas são antigos, veteranos, esclerosados. Começa, mais sério, pelo esvaziamento que as constantes (e impensáveis até há alguns anos) reclassificações comprovam à saciedade a que deve se adicionar o alto custo de manutenção dos privilegiados alunos, com “mensalidades” várias vezes superiores às dos estabelecimentos particulares. Um ex-reitor (daqueles eleitos…) dizia que “o custo não é elevado pelo retorno que a universidade dá a sociedade na formação de profissionais capacitados”. Bonito, não? Mas apenas palavras, já que o próprio declarante, esquecido do que expressara, proclamava linhas depois: “os estudantes estão buscando sentir-se (sic) mais equipados, com uma visão social da profissão, tornando-se mais adequados às exigências do mercado e a universidade não está oferecendo este tipo de formação” (declarações de 1998, hoje é pior...). Então, como ficamos? A universidade prepara bem ou não, é compensador ou não o investimento no futuro profissional? Ou quando é que ele mente? Ou será que sabe do que está falando? Provavelmente não…
Por seu turno, o gerente de recursos humanos da Petrobrás (bem antes da CPI...) afirmou, na mesma época, que “o mercado quer hoje um profissional mais “educado” do que “ensinado”, enquanto um de seus colegas acrescenta: “testamos a pessoa pela sua capacidade de argumentação, de expressar idéias por escrito e pela sua opinião diante dos fatos da realidade”, considerando “a universidade falha na integração de seus cursos com o meio empresarial, recomendando, ainda, que “o corpo docente universitário tenha uma formação no mercado de trabalho e que profissionais sejam convidados, como professores visitantes, a dar aulas nos cursos de graduação (provocou a ira dos “doutores” de gabinete, sem qualquer prática...). Nada de novo, portanto, já que ouço essas idéias e delas compartilho há cinquenta anos, desde quando comecei como professor, acreditando no papel relevante da educação (acreditamos em cada coisa, não é?). Cansei de participar de seminários, de proferir palestras, de polemizar, de me tornar antipático e, ao ver repetidas a argumentação e as propostas, confirmo que continuamos a andar em círculos em torno do caramanchão da incompetência.
No que toca à queda de prestígio, as causas são óbvias: incapacidade de as universidades atenderem às novas exigências do mercado de trabalho e dos alunos e a não garantia de altos salários nas profissões de nível universitário, junto com a possibilidade de se obter em algumas profissões de nível técnico a mesma faixa salarial. Pego outro declarante, também ex-reitor que afirmava, após pesquisa que apontou como maior queixa dos alunos a de terem como orientadores, na maioria das vezes, outros alunos ou funcionários (o que é melhor do que grevistas…): “eles entram ávidos por conhecimentos, querem participar, mas ao perceber que os laboratórios não funcionam, que os professores estão desmotivados e não são bem formados ( foi um reitor que disse isso, atenção…) e que a biblioteca é incompleta, acabam preferindo sair”. Você leu muitas vezes estas palavras aqui no meu canto, confessa, leitor, mas fica por isso mesmo. Do contexto se extrai que a universidade esbanja o dinheiro do contribuinte e não prepara adequadamente, significando um enorme desperdício e danos irreparáveis.
Deste modo, continuamos a carregar os problemas cristalizados, vendo deteriorar-se a educação pela indolência do professorado, do alunado e da sociedade. O aluno não procura mais aprender, ele quer a maneira mais rápida de conseguir um diploma e livrar-se da rotina enfadonha, sem atrativos. O professor não se preocupa mais em se aperfeiçoar, ele está na profissão por hábito ou por falta de opção (não tem outras aptidões), mal formado, sem vocação a não ser para as greves. A autoridade não sabe fazer e os educadores vão desistindo, arquivando as ilusões e apagando os sonhos. A sociedade não se importa, não vê que está se suicidando, deixando de moldar a geração futura que terá como herança indeclinável a de conduzir este país ao caminho do desenvolvimento almejado. A educação se estiola, e ninguém faz coisa alguma. Minto, fazem paralisações. Muitas e mais longas do que as irritantes ou ótimas (gosto não se discute..) novelas…
P.S.: Hoje, dia 11,.. Mais um feriado, um enforcamento... Afinal, merecemos, trabalhamos infatigavelmente..
Prof. Antonio Luiz Mendes de Almeida
(FD 425 09/ 12.06.09)