Avenida Brasil 500, o Titanic
Titanic é o apelido carinhoso dado ao Jornal do Brasil por seus funcionários
na segunda metade dos anos 90. Nesta ocasião, as dificuldades financeiras
da empresa estavam levando profissionais a migrarem para outros
jornais. A metáfora é procedente pela demora com que um
transatlântico vai a pique.
Em certa ocasião, em meio a comentários
de que Roberto Marinho teria dito que um jornal começa a morrer dez
anos antes (há polêmica sobre se esta frase é do Dr. Roberto ou
citação de Otto Lara Resende), o veterano Wilson Figueiredo disse
brincando que o JB havia acabado dez anos atrás, mas que continuava
saindo porque o memorando sobre o fim, assinado por Nascimento
Brito, no famoso nono andar da Avenida Brasil 500, ainda não havia
chegado à Rotativa, no térreo.
Durante a Guerra das Malvinas,
ou Falklands, em 1982, o primeiro navio argentino atingido pelos
ingleses foi o velho cruzador General Belgrano, que também demorou
para afundar, matando 370 soldados jovens e inexperientes. Na
ocasião, dizia-se à boca miúda que Roberto Marinho, em conversa com
um visitante estrangeiro no Rio, voltando do aeroporto no Galeão, teria
apontado o dedo para o grande prédio do Jornal do Brasil, na Zona
Portuária, e sintetizado: “É o General Belgrano”.
Ao contrário do
samba, jornal agoniza e morre. Onde está a Última Hora? Onde está o
Diário Carioca? E O Jornal? A Noite? Onde está o Diário de
Notícias? Onde, o Correio da Manhã? A propósito deste último, que
fechou em junho de 1974, o poeta Carlos Drummond de Andrade, que
tanto nele colaborou, escreveu: “Nada mais melancólico do que o fim
de um grande jornal".
A propósito, Drummond, durante anos, brilhou
também no JB. Wilson Figueiredo nunca aceitou a tese
integralmente. Sustenta que jornal centenário não morre, só acaba se
alguém quiser assassiná-lo. E teme o kafkiano “Processo” em curso a
ameaçar o velho JB.
De fato, da lista acima, nenhum jornal se
tornou centenário. Mas o Correio da Manhã chegou a envelhecer, e
apenas isso foi o suficiente para causar tanta dor ao poeta.
(Por Alfredo Herkenhoff, trecho do meu inédito "Memórias de um secretário - Pautas e Fontes).
Titanic é o apelido carinhoso dado ao Jornal do Brasil por seus funcionários
na segunda metade dos anos 90. Nesta ocasião, as dificuldades financeiras
da empresa estavam levando profissionais a migrarem para outros
jornais. A metáfora é procedente pela demora com que um
transatlântico vai a pique.
Em certa ocasião, em meio a comentários
de que Roberto Marinho teria dito que um jornal começa a morrer dez
anos antes (há polêmica sobre se esta frase é do Dr. Roberto ou
citação de Otto Lara Resende), o veterano Wilson Figueiredo disse
brincando que o JB havia acabado dez anos atrás, mas que continuava
saindo porque o memorando sobre o fim, assinado por Nascimento
Brito, no famoso nono andar da Avenida Brasil 500, ainda não havia
chegado à Rotativa, no térreo.
Durante a Guerra das Malvinas,
ou Falklands, em 1982, o primeiro navio argentino atingido pelos
ingleses foi o velho cruzador General Belgrano, que também demorou
para afundar, matando 370 soldados jovens e inexperientes. Na
ocasião, dizia-se à boca miúda que Roberto Marinho, em conversa com
um visitante estrangeiro no Rio, voltando do aeroporto no Galeão, teria
apontado o dedo para o grande prédio do Jornal do Brasil, na Zona
Portuária, e sintetizado: “É o General Belgrano”.
Ao contrário do
samba, jornal agoniza e morre. Onde está a Última Hora? Onde está o
Diário Carioca? E O Jornal? A Noite? Onde está o Diário de
Notícias? Onde, o Correio da Manhã? A propósito deste último, que
fechou em junho de 1974, o poeta Carlos Drummond de Andrade, que
tanto nele colaborou, escreveu: “Nada mais melancólico do que o fim
de um grande jornal".
A propósito, Drummond, durante anos, brilhou
também no JB. Wilson Figueiredo nunca aceitou a tese
integralmente. Sustenta que jornal centenário não morre, só acaba se
alguém quiser assassiná-lo. E teme o kafkiano “Processo” em curso a
ameaçar o velho JB.
De fato, da lista acima, nenhum jornal se
tornou centenário. Mas o Correio da Manhã chegou a envelhecer, e
apenas isso foi o suficiente para causar tanta dor ao poeta.
(Por Alfredo Herkenhoff, trecho do meu inédito "Memórias de um secretário - Pautas e Fontes).