quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Apagão Molhado na Reduc, Caxias

Baixada Carioca, ou ex-Baixada Fluminense:

Olhem Com Mais Carinho, Por Favor!




A inundação em Caxias é

a sobremesa do Apagão de Lula


Tragédia no Rio de Janeiro, com o Apagão Molhado atingindo os pobres na área que mais contribui com impostos numa região periférica da metrópole. Dramáticas as imagens exibidas pela TV Globo e Record, na manhã desta quinta-feira, 12 de novembro de 2009, no bairro de Campos Elíseos, onde fica a Refinaria Duque de Caxias, Reduc, na Baixada Carioca.

A inundação em Caxias é a sobremesa do Apagão de Lula. O presidente costuma visitar a Baixada, mas isso não basta. Obras do PAC não bastam. A propaganda fede.

Sim, vamos botar culpa nas variações climáticas. Agora foi uma tromba d´água. No blecaute nacional de anteontem, uma chuva especial, uma ventania, um granizo de ouro se chocando na parte mais íntima de duas ou três torres de transmissão da energia gerada em Itaipu, entre o Brasil e o Paraguai, ou uma explicação que não convence ainda.

O governo Lula bem que tentou nesses sete anos fazer o melhor, fez o melhor, mas não deixou também de fazer o pior, que é a uma propaganda que não parece ter limites.

Como pode uma refinaria como a Reduc, a primeira da Petrobras, a segunda em importância, perdendo apenas para Paulínia, mas passando por um amplo processo de modernização, manter a situação tão caótica de infraestrutura à sua volta?

É cruel e não é nada econômico desprezar tanta gente em volta da Reduc. Caxias, cidade vizinha do Rio de Janeiro, tem quase 900 mil habitantes. Nova Iguaçu, ao lado, tem quase 900 mil habitantes. Aliás, as pessoas costumam dizer que Nova Iguaçu é um pouquinho maior do que Caxias, mas isso mais por tradição do que por certeza demográfica. As duas cidades têm mais ou menos população semelhante. As duas são sofridas, injustiçadas, estigmatizadas, sacrificadas pela desídia das autoridades, pela incompetência e pelo controle que se faz do social via propaganda.

Em Nova Iguaçu, por exemplo, está a maior unidade de tratamento de água do continente, mas a poucos quilômetros de Guandu, há um sem número de ruas em cujas casas a potável não chega, ou chega fraquinha, pingando um vez por semana. A choradeira dessa gente humilde não ganha espaço nos jornais. Os jornais não gostam de lágrimas secas, preferem as lágrimas do crocodilo anunciador da verdade mil vezes repetida.

Caxias, terra do Petrobras, ruas esburacadas, metade da população quase favelada, e péssimos serviços de infraestrutura. Por ironia da toponímia, o bairro da Reduc se chama Campos Elíseos, que significa um estranho paraíso na mitologia grega, estranho porque paraíso dos mortos felizes, em oposição ao mundo do sofrimento eterno dos vivos, ardendo no mármore do planeta.

A propósito, tudo o que é ruim, que é horrível em Caxias, tem nome bonito. Jardim Gramacho, um dos piores lugares para se viver nos cinco continentes. Jardim Paraíso, Jardim Isso, Jardim Aquilo, é tudo inferno. Jardim na Baixada Carioca significa esgoto a céu aberto, exibe o desprezo e os dejetos da classe política consumidora à distância, classe que cultua a força da impunidade para roubar votos dessa gente humilde fazendo-lhe promessas que não cumpre.

O PAC está em Caxias, o PAC está no Rio, ao todo, está em sete ou oito favelas do Grande Rio. Mas só na capital há umas 800 favelas não contempladas com o sorriso dos investimentos. Só a Favela do Lixão, em Caxias, tem mais gente do que provavelmente há em todas as outras favelas contempladas pelas obras do Plano de Aceleração da Candidatura do nome que Lula escolher para a sucessão. Hoje é Dilma, amanhã, quem sabe?

A burguesia nessas cidades da Baixada Carioca só quer ganhar dinheiro na região. Na hora de gastar, os ricos preferem correr os shopping centers do Rio de Janeiro ou de Miami.

Cidades, apesar de sua gente orgulhosa, quase sempre mal faladas na mídia. Os jornais destacam homicídios, fazendo crer que são áreas especialmente violentas. Mentira, não são exceção. A autoestima em Caxias ou em Nova Iguaçu não precisa de muito para frutificar. Mas, hoje, quem sobe na vida nessas duas cidades costuma migrar para a Capital. O lugar de origem vira retrato na parede, passa a ser nostalgia, visitas a parentes e amigos de outros tempos.

A Reduc se transformou num paraíso de energia cercado por 200 indústrias e pobreza de todo os lados. E olhem que Campos Elíseos é ainda um bairro diferenciado na cidade pela riqueza do petróleo e os ganhos diretos e indiretos dessa indústria e seus fornecedores.

Pois São Pedro, sem pena nem de Dilma Rousseff nem de Lula e nem de candidato nenhum, de modo inclemente, desabou a água, ampliando as contradições da propaganda de um governo em fim de mandato.

Propaganda não garante linhas de transmissão. Propaganda não garante bom funcionamento das dez ambulâncias presenteadas por Lula a Nova Iguaçu, todas quebradas. Propaganda de casa popular não garante nem casebre próprio. Propaganda da Cedae não garante fornecimento de água na cidade onde é tratada. Propaganda não garante vitória antecipada.

Os minutos de reportagem ao vivo nas televisões desta quinta-feira, imagens sempre transmitidas pelos helicópteros da Globo e da Rede Record, falam mais do que mil minutos de publicidade no horário nobre.

A propaganda é a alma do negócio? E o segredo, o que é? O segredo é a alma do negócio mal estruturado. A propaganda e o segredo formam uma lama mentirosa, que é a política.

As sucessivas tragédias na Baixada Carioca retratam o desprezo político por essa região que é o terceiro maior conglomerado humano do Brasil, com cerca de 3 milhões 800 mil pessoas em 13 municípios. A saber? Japeri, Magé, Meriti, Guapimirim, Paracambi, Seropédica, Itaguaí, Nilópolis, Belford Roxo, Mesquita, Queimados, Caxias e Nova Iguaçu.

Desabamento, mortes, velhos e crianças sem lugar seco fora o telhado, o muro ou a lage, casas e carros submersos, cobras, doença do xixi do rato, tristeza.

Por Alfredo Herkenhoff

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