segunda-feira, 27 de julho de 2009

Alguns verbetes de glossário jornalístico

Seguem alguns jargões de Glossário - inédito - de uma profissão que nunca dependeu de diploma:

Por Alfredo Herkenhoff

Velho atrasador de jornal

Expressão corriqueira nas redações para designar, carinhosamente, o profissional que está atrasando uma edição, quase sempre por motivo relevante, uma grande reportagem, um furo de reportagem ou um grande erro. A expressão carinhosa também comporta conotação levemente pejorativa para profissional que, mesmo cascudo, está vacilando e atrasando o fechamento. O uso da expressão é tão corriqueiro que, muitas vezes, permite versão mais enxuta: “Velho atrasador”. É tão carinhosa que, por vezes, refere-se a colega que nunca atrasou uma edição. Sem dúvida, trata-se da mais perfeito jargão para uma simples saudação entre colegas.


Aposta

O diretor de redação, ou editor chefe, tem a prerrogativa de bater o martelo, determinando qual que será a abertura na primeira página do jornal. Acima dele, só o dono do jornal. Mas, no dia-a-dia, diversos editores e subeditores, num rodízio, são, com frequência, incumbidos de determinar a manchete. Essa missão é um frenesi. Aposta é o que a palavra diz: é decidir, com algum risco, qual o assunto a ser destacado. A aposta é mais alta quanto mais se valoriza como manchete um fato que passa meio despercebido pelos jornais concorrentes. Apostar é, portanto, um jargão dos editores para a disposição de dar manchete para uma boa e ampla reportagem mesmo sob o risco de não publicar bem outros importantes acontecimentos do dia. A disposição para apostas diárias é, pessoalmente, emocionante, mas implica riscos para editores e subeditores. Implica riscos para a qualidade média de um jornal.

Calhau

Matéria sem importância. E, também, publicidade do próprio jornal e igualmente sem importância. O calhau é o material destinado a preencher o espaço de matéria que caiu, ou que não ficou pronta no horário devido, ou de espaço de publicidade, que não chegou a tempo do fechamento da edição. O calhau pode ser também anúncio que o jornal publica de graça, ou por preço simbólico, e que fica de stand-by para preencher algum vazio inesperado no processo de montagem da página. Até uma matéria chinfrim pode ser usada como calhau que é, no fundo, qualquer tapa-buraco.


Carpeta

Jargão de fotógrafos para armação de cenário a ser clicado mesmo quando a pauta é de noticiário e não de moda ou outra que mereça produção. Um fotógrafo, por exemplo, perde o momento em que alguém famoso estava votando e então pede para o personagem repetir o gesto. Muitos não gostam de fazer carpeta. Mas grandes nomes como Evandro Teixeira não têm esse pudor e clicam tudo, com ou sem carpeta.

Velha Guarda

Jornalistas da Velha Guarda são os que aprenderam a profissão na prática, não tendo passado pelas faculdades de comunicação. Muitos são repórteres vivazes e premiados. A maior parte deles, porém, morreu ou se aposentou. Na virada do milênio, já são espécie em extinção. Alguns fizeram cursos de direito ao longo da carreira jornalística. Comunicação não havia antes e não era curso que interessasse depois. Alguns da Velha Guarda foram até convidados a lecionar por notório saber.

Texto-legenda

Uma descrição ao lado ou sob uma foto, comentando ou descrevendo a cena. Uma tradição do jornalismo reza que o texto-legenda deve ser a um só tempo simples e emocionante. Sofisticado. Tenta-se pôr todo o sentimento do mundo numa pequena oração. Muitas vezes a beleza da foto ajuda o redator. Às vezes, o jornalista descobre ao escrever como ver melhor a foto, mostra que a foto é ainda mais importante do que se imaginava à primeira vista.

Serifa

Tracinhos nos lados extremos de algumas famílias de caracteres. A serifa é vista como um enfeite da letra.

Serviço

Jargão para a informação, organizada, que se publica com o objetivo de orientar os leitores para um período iminente do calendário. O serviço tem serventia imediata. É o que fazer hoje e manhã; é o que funciona e o que não funciona, o que abre e o que fecha, envolvendo comércio, repartições públicas, bancos, prazos de pagamentos de impostos, multas, carnês, escala de plantão de farmácias, compra de passagens, alteração no trânsito, agenda cultural etc. É pauta obrigatória às vésperas de feriadões e das chamadas pautas da normalidade, ou previsíveis, como Carnaval, Semana Santa, volta às aulas etc.

Setorista

Chama-se setorista o repórter que, durante um período, cobre determinada instituição diariamente, como prefeitura, palácio de governo, assembleia legislativa, fórum etc. Em tempos de vacas gordas, os jornais mantinham setoristas nos grandes hospitais à espera da notícia, que chega sob a forma de feridos, mortos, parentes, amigos e tristeza. Em carnavais ainda mais antigos, décadas atrás, quando nem havia regulamentação da profissão, o setorista, muitas vezes, nem era repórter, mas um simples colaborador, um informante que ficava na porta do hospital se inteirando dos casos mais graves e mandando avisos ao jornal.