domingo, 24 de outubro de 2010

Editorial: A vitória de Dilma Rousseff é a vitória de Lula


Democracia no Brasil em 2010 com emoção 

O homem não é passarinho, o homem é carcará, pega pra matar e come. E não some, ergue as asas sobre nós.

José Serra, com apoio das quatro famílias, agrediu milhões de eleitores ao se dizer vítima de um governo que, agressivamente, propiciou de fato a chamada inclusão social: mais comida, mais moto em 60 meses a 89 reais por mês, mais otimismo, manutenção da estabilidade da moeda, ao manter os fundamentos macro do governo anterior. No último ano do segundo mandato de FH, éramos dez milhões de computadores. No último do segundo de Lula, somos sessenta milhões de computadores.

Lula não é Padim Ciço nem milagreiro. Lula Lula não é Heloísa Helena nem Marina. Lula é governabilidade. O Brasil é o lado oculto da China, nossa moeda do outro lado,  nosso maior parceiro comercial, mercado bilateral suplantando as trocas com os Estados Unidos. Lula dobrou o número de universitários. Mais aço, mais automóvel, mais microondas, mais celular, mais feijão, feijão! E menos Heloísa Helena, menos Arthur Virgílio, menos DEM, menos falsos moralistas, menos pruridos puristas, menos amém.

  Serra teve a seu favor os escândalos da corrupção. Mas em 2006, o Mensalão de 2004 e 2005 não lhe permitiu coragem sufiicente para desafiar Lula. Entregou Geraldo à fera. Não sou petista nem lulista. Votei Geraldo no primeiro turno e Lula no segundo. Eu e uns quatro milhões fizemos isso. Mandamos um sinal. Agora, milhões mandaram um sinal votando em Marina no primeiro turno, mesmo sem confiar na evangélica fundamentalista  que traiu o catolicismo que a tirou da miséria amazônica, a jaguatirica do Acre em pele de cordeira, seu Acre, onde foi a mais menos votada entre os quatro grandes. Traiu Lula. Confiança zero.

  Depois dos escândalos, depois do aborto, depois de tanto apoio, manchetes simpáticas, Serra, vendo os números reais das pesquisas, tentou a última cartada, uma notícia revolucionária: incidente de rua. Se deu mal. A Praça Castro Alves é do povo, como o céu é do avião.O calçadão de Campo Grande é dos mata-mosquistos, das bolin has de papel, das fitas crepes, das emoções. Nas ruas do Brasil, a discussão Serra X Dilma se dá num clima de paz. Confraternização. Gente querida fazendo opções.

Claro, numa visão chapada, superficial, interpretação das manchetess, o governo é corrupto, e os petistas são violentos, arrogantes, ameaçam a democracia. Mas foi a democracia que levou Lula ao poder. É a democracia que faz a sua nossa sucessora.

Problemas sim, há... Sempre haverá corrupção, que haja menos e seja mais visível. Sempre haverá miséria, que haja menos, somos inimigos da miséria. Sempre haverá burocracia, somos inimigos,  e a internet ajuda a reduzi-la, sempre haverá injustiça, que haja menos, reformas já, pesadíssima carga tributária, judiciário lerdo... Sim, sempre haverá problemas, que saibamos compreendê-los e resolvê-los sem perder de vista que a prioridade é mais comida, mais educação e mais saúde. Comida Lula já nos deu. Educação melhorou um pouco, mas ainda é muito pouco. Saúde deixa a desejar.

 Estamos em pleno ciclo da Família Silva de que falava 50 anos atrás o sensibilíssimo Rubem Braga. Que Dilma, tão parecida com o querido Serra, rebelde na juventude,  hoje tecnocrata, arrogante, autoritária no trato pessoal, possa honrar a missão que Lula lhe confiou e que nós referendamos. Que possa reduzir os nossos dramas, tanta injustiça, e fazer avançar a brasilidade, com tolerância num país tão diversificado, que a querida Dilma tenha saúde para não entregar de bandeja o poder a alguns desses aliados oportunistas, sempre de plantão para dar o bote, como Sarney, ontem, e Michel Temer, agora.

 Sim, corremos riscos. Não sou petista nem lulista, nem dilmista nem serrista. Sou democracia. Meu voto vale ouro.

 Por Alfredo Herkenhoff