domingo, 15 de novembro de 2009

Milhões no Apagão e a maior usina do mundo

Luiz Pinguelli Rosa

“Não é só o acidente, são também as consequências”

Por Queila Ariadne *

O que fez a maior hidrelétrica do mundo parar e deixar mais de 100 milhões sem luz? Itaipu não parou, ela foi desligada porque a linha de transmissão caiu. Por que isso aconteceu não está explicado. A linha de transmissão de Itaipu para o Sudeste não deu passagem à corrente elétrica. São três linhas; uma entrou em colapso e as outras duas, não sei por que cargas d’água, também caíram.

O apagão revela vulnerabilidade do sistema de energia brasileiro?
O que aconteceu é a prova da vulnerabilidade. O sistema não deve cair desse jeito, a energia de tantas cidades. Não sabemos onde essa vulnerabilidade está, mas temos que pedir para que apure.

Mas o que aconteceu?
A gente imagina algumas coisas como uma manobra errada, um programa de computador errado, alguma ação não otimizada em alguma parte. Mas não é só o acidente, são também as consequências. Caiu uma linha de transmissão e caiu o Brasil todo, ou quase. Metade, pelo menos. A dimensão do acidente é o problema. Tem que fazer um alinhamento para não deixar o acidente se propagar tanto.

O que fazer para evitar que o problema se repita?
Tem que ter um sistema mais inteligente no sentido de ser capaz de circunscrever efeitos de um acidente. Mas primeiro tem que descobrir o que aconteceu para saber como evitar repetição. É um problema de engenharia elétrica, não é um problema de energia. Água nós temos.

É grave o Brasil ser tão dependente de energia de hidrelétricas e, principalmente, tão dependente de uma única usina, a de Itaipu? Não é hora de investir mais em energias alternativas?
É sempre bom ter outras fontes de energia, mas não é muito grave sermos dependentes de Itaipu não. A gente pode ter uma boa performance, o Canadá tem um sistema parecido com o nosso e funciona muito bem.

Qual a explicação para alguns Estados serem terem sido tão mais afetados pelo apagão do que outros?
Em Minas Gerais, por exemplo, a Cemig explica que, assim que viu a queda de energia, solicitou ao ONS autorização para liberar o seu excedente. A explicação da Cemig pode orientar um tipo de procedimento que poderia ter sido adotado em outros casos, mas não sei direito o que ela falou. Agora, em relação aos Estados, pode ter algumas particularidades, ou então pode ter sido casualidade mesmo. O sistema se propagou de certa forma e foi para um lado e não para outro.

Qual a lição que fica?
Cidades maiores devem ser mais protegidas do que as menores porque os efeitos são mais graves, pois ela têm mais prédios, mais hospitais, linhas de metrôs, as pessoas ficam presas. Acima de tudo, é preciso proteger os grandes centros urbanos. Isso é uma forma inteligente de fazer uma gestão do problema.

O apagão revela falta investimentos?
Certamente uma coisa se liga à outra. Mas não creio que seja falta de investimento, no sentido de fazer ligações. O Brasil está bastante interligado e reforçou sua interligação. Em 2001, não havia as linhas que temos hoje. Eram duas. Faltava a terceira linha e faltou capacidade de ligação entre o Sul e o Sudeste. Hoje, não é isso. Há uma instabilidade elétrica. Ou seja, o mundo todo dedica atenção a esse problema.
Publicado em: 15/11/2009


* Avistado pelo Correio da Lapa em
http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=126741