quarta-feira, 15 de julho de 2009

Romário, avarento e aventureiro, será preso outras vezes

Romário, vítima do casamento de juízes com os autos

Romário e as viúvas de Carlos Gardel

Romário como vítima de sogras e mulheres machistas

Valor das pensões alimentícias vai aumentar, mas Romário, a contragosto, pagará tudo até que o dinheiro e a própria vida se acabem.

Monólogo Exterior

Por Alfredo Herkenhoff

Neste momento, Romário está na cadeia, não porque paire sobre ele a condenação do torcedor implacável, cabeça de bagre nunca foi. Fora Romário! Não, o Baixinho está preso não porque a sua ex-mulher número 1 esteja ao relento passando fome ou dificuldades. Está preso porque no Brasil a lei da pensão alimentícia é igual para todos. Romário está preso não porque seja apenas pão-duro, nossos códigos não condenam a avareza, e ninguém é culpado no Brasil por não repartir um mínimo do máximo. Nem se sabe se é verdade que Romário seja pão-duro, isso parece papo de botequim, desses que falam que são avarentos também Jorge Ben Jor, Pelé, Luiz Melodia, Mario Jorge Lobo Zagallo, Zico, o Galinho de Quintino, Renato Piau, tio Zezinho, tio João, uma irmã saudosa ou o Zé das Couves, que pão-durismo, como o homossexualismo, abrange dez por cento da unanimidade heterossexual. Romário está preso porque para a lei vale o escrito, lei no Brasil é rito do prescrito, é parcela matemática do caos.

Romário está na cadeia há 18 horas não porque sua primeirinha, Mônica Santoro, esteja ao deus-dará. A propósito, quando do primeiro divórcio do craque, Mônica falou aos jornalistas, e eu estava no saudoso Jornal do Brasil, que não queria nada, não quero nada dele, nem um mísero tostão, orgulhosa, e comentei à época, está magoada, o que ela diz hoje amanhã é taxa...

Os avarentos são uns loucos, não pensam em valor, só enxergam números, pensam na dificuldade psicanalítica de tirar a mão no bolso, e por isso nem enfiam para não ter que tirar, avarentos como Romário emprestam Ferrari para um amigo barbeiro bater no poste, mas não pagam um cafezinho.

Romário está preso porque não deu metade de um salário mínimo de 416 reais para La Santoro? Não. Romário está preso não porque o juiz que determinou o recolhimento esteja errado em não resolver a questão social da má divisão de renda no Brasil, não porque falte ao meritíssimo força ou desejo de resolver aflições sociais à sua porta, que uma faixa de gaza e uma cracolândia há em qualquer zona desta zorra de sociedade brasileira, mas está preso porque o fiscal maior da lei se atém aos autos. Romário depositou apenas 42 mil reais, 84 mil de dois meses, faltariam 24 mil de multas pelo longo atraso de algumas poucas semanas. Romário está preso não porque seja famoso, mas porque a lei no Brasil é de uma estupidez hedionda, é herança vergonhosa do passado, e os juízes são os verdugos do nonsense, da ignorância dos parlamentares que legislaram. Os poderes neste país de castas pecuniárias têm nos juízes os moralistas de plantão, são os executores dos autos aos quais se atêm, sem enxergar um palmo à frente do nariz do magistrado-chefe Gilmar Mendes, não andam nas ruas, a não ser que se disfarcem de reles passageiros dos trens da Central do Brasil.

Um ministro do Supremo, togado na gare Dom Pedro II, seria visto como doido ou palhaço, e quem o julgasse assim mal teria condições de saber que paga os impostos que alimentam os árbitros do nosso cotidiano. E com farta pensão alimentícia, eles se mantêm encastelados nas filigranas dos textos out dated, intérpretes de vedas, hieróglifos e sânscritos para punir ex-maridos que não gostam de encher as mães de seus filhos com uma soma milionária apenas porque um dia houve amor e sexo entre os dois...

O que um operário brasileiro ganha em cinco, seis, sete anos de trabalho a fio, 416 reais ao mês, mais 13º, mais Pis e Pasep, ou melhor resumindo, o mínimo dá seis mil ao ano. Sete anos vezes seis mil reais ao ano dá 42 mil. É o que Romario tem de pagar todo mês sem fazer mais gols para ganhar a liberdade. Romário paga não porque seus filhos precisem da soma, mas porque a lei é generosa e grotesca com o sofrimento de mulheres machistas.

Romário está preso porque não viveu ao tempo de Carlos Gardel, este que está no passado celestial da admiração, e se houver, no Juízo Final, a tal ressuscitação da carne, e se no céu estiver o cantor de tango, pergunta-se cá na Terra: como ficarão as cinco viúvas de Gardel se todas estiverem também no Céu? Estarão todas também já bailando no passinho da raposa, o fox trot? Ou no pax de deux de Ana Botafogo? Ou no lame duck de La Cumparsita?

Romário, neste momento, preso há 19 horas , está precisando da liberdade iminente para gerenciar seus bens dos tempos de artilheiro e assim arcar, dentro do prescrito, com as taxas legais com os quais suas ex-mulheres deixam de fazer amor com o dono do cofre, maníaco de um harém homeopático, uma de cada vez, avarento poupador de farras mentais, garanhão parcimonioso fora das quatro linhas, mas instintivo, peixe que é, ele e os amigos, cultor da própria virilidade, pênis erectos, com os quais faz filhos e dívidas, mas sempre mostrando que gosta de mulher assim mesmo.

Romário está preso porque não ganhou bolsa-família na infância, seu pai Edevair não tinha pensão de 42 reais nem ao dia para reforçar o amor que ali sempre rolou. Seu Edevair saudoso tinha de vender birita na birosca, na informalidade, enquanto Romário, em vez de estudar para ser advogado ou juiz, treinava a vida inteira de sua infância para fazer o Brasil feliz em 1994.

Romário está preso porque nem uma estátua em São Januário o absolve. Está preso não porque não devote amor aos filhos de suas ex mulheres, mas porque o juiz valoroso, laborioso, se atendo aos autos, assim determinou, qual barbeiro bêbado. Romário preso porque nada sabe sobre mensalão nem corrupção. Romário preso porque é homem, preso, mas jamais desonrando o instinto matador, de chegar bem e fazer o que deve ser feito, até atrasar. Romário está na cadeia não porque seja ladrão ou criminoso, mas apenas ignorante das firulas da vara de família, preso porque não poupa a vara, e na Bíblia esta escrito: um bom pai não poupa a vara... Xô pedagogos, juízes e pediatras, mas criança na beira da janela, perto do forno quente, criança com faca ou caco de vidro, é condição de risco. É melhor um pequeno trauma, um tabefe e um grito do que uma saudade precoce. Romario preso para expor mais um escândalo da Justiça Brasileira.

Romário está preso não porque não consiga arcar com as taxas cornuárias, cornucópias, cavaletes, chassis, molduras da lei gioconda, ele pode sim pagar 200 mil reais, ou quatrocentos salários mínimos ao mês, ou o que um operário leva em 400 meses para ganhar, isto é, 30 anos para ganhar o que o craque dá todo mês às suas ex-cinco mulheres, ex-seis, sete, nove ou doze, que ninguém na mídia séria sabe ao certo quantas são....

Mas não, não que ele não tenha cinco anos de salário mínimo para dar todo mês a uma delas, e uma ex não parou de viver, não parou de amar, tem direito de refazer a vida sentimental. Sim, é dura a solidão de mãe levando a garotada ao colégio e pegando de volta toda dia, com motorista e carro importado e blindado. É triste porque as mulheres divorciadas de gente rica no Brasil parece que são as mais importantes aos olhos da lei.

Romário está preso porque no Brasil você pode quase tudo, pode botar dólar na cueca, milhões na mala evangélica sem impostos, pode lavar, sujar, matar pobre na favela que não há perícia, leve-se o conjunto de cadáveres para morrerem quando derem entrada no hospital público, e é tudo auto de resistência.

Romário preso porque a lei lhe dá excesso de atenção, faltaram oito mil reais de multas mensais por dois meses e meio de atraso para uma delas.... E o juiz, nessa hora, é implacável com os autos. Manda recolher, se exibe tecnicamente perfeito, 42 mil para uma ex, 84 mil para outra, 21 para uma quinta, 200 para a tal. Romário está preso porque não ouviu o Cântico dos Cânticos, a sabedoria de Salomão de pênis erectos louvando o amor e louvando a Deus ao mesmo tempo. Romário está preso porque vacilou na zona do agrião sexual, um sistema monogâmico, casado com o escrito, vale só o escrito, e que se lasque o garanhão rico, que o garanhão pobre não dá trabalho, engravida e manda a coitada andar depois do coito.

Hoje o garanhão desempregado sorri quando o juiz disfarçado lhe lança olhares de desprezo a caminho do trem da Central do Brasil. Ali se urina na rua, o chão é a favela, a autoridade só existe no fragor dos tiros da polícia, do agrupamento especial que chega em nome da lei, e o pobre que cai acribillado de balas é apenas um corpo, nem pensão alimentícia é, que neste lugar a lei só é real enquanto as armas estão engatilhadas. No dia-a-dia das dores, vale apenas o sonho de escapar da comunidade e da polícia e ser abraçado pela justiça que manda pagar oito mil só de multa mensal.

Romário está preso não porque e Moniquinha mãe o quisesse, ou para que a ex-sogra falante ficasse feliz com as entrevistas. O atraso deu cadeia para Romário de novo virar manchete.

Os juizes que prendem Romário não pensam Sarney, pensam que todo mundo é igual diante da lei que não se aceita.

A população brasileira em boa parte não respeita as leis, apenas teme alguns juizes, alguns policiais. Quando os donos da lei se afastam, vale o direito de sempre, o óbvio. Minha nega, você e nosso filho têm para comer, logo mais arrumo mais. E o paizão sai de arma em punho para assaltar o primeiro juiz disfarçado de trabalhador comum que encontrar pela frente.

Romário está preso há 19 horas e meia. E já está diante da liberdade como mais um exemplo de Brasil ridículo, cínico e injusto.

A lei, feita pelos políticos, vereadores, deputados estaduais e congressistas, não contempla o bom senso, mas a exceção. Romario é fora de série, é o alvo da lei. |Preso porque não mente.

Quem prendeu tem inveja dele, a sogra tem inveja, a ex Anamaria, Anabela, Analúcia, Ana Rosa, a outra, Oh Carmen Costa, grande cantora que velhinha tinha aposentadoria de apenas 700 pratas, lugar quente é na cama ou na lama erógena que dá trabalho depois, seja na laje fria da delegacia, seja na geladeira do IML, no cemitério ou na coceira que faz o avarento chorar na hora de bancar uma mãe consumidora, gastadora, tornada milionária pelo casamento do juiz com os autos. Por isso os humoristas inventam essas pérolas... Casamento é a maneira mais cara de comer uma mulher de graça.

Romário está preso porque vacilou. Ainda bem que não foi no futebol. Vacilou porque acreditou que mulher não pega pesado. Então paga, está pagando pelos pecados de outras gerações. Preso porque não pagou a mordomia que um dia vai acabar.

Romário e muitos pais sofrem uma vingança de juízes e sogras. A pensão alimentícia é uma delícia de balela, uma sobremesa de notícia. O juiz decide mas não convence ninguém. E nem quer convencer. Para o Brasil real, de 600 mil meninas adolescentes parindo todo ano, para o Brasil de milhões de desempregados fazendo sexo mesmo assim, para o Brasil de milhões ganhando 500 pratas por mês, homens felizes, infelizes, bem casados, mal casados, pais naturais, mães solteiras ou abandonadas, a lei é perfeita, letra morta que se vê na TV: Romario está preso porque é apenas mais um pão duro estribado.

E será preso de novo no futuro próximo, no qual se descortina uma tendência, suas ex-mulheres pedindo aumento no valor da pensão sob alegação de despesas imprevistas.

Ou seja, os dez filhinhos de Romário com dez ou vinte mulheres, por causa das fofoquinhas de criancinhas em sala de aula, aquele papo: a lei é boa, o juiz é bom, prendeu papai, traumatizados, vão fazer psicanálise, e aí tome extra para levar e trazer, com motorista, carro blindado, tititi e tatatá.