domingo, 28 de junho de 2009

Concurso de Musas Brancas dos Clubes no programa do Luciano Huck


Exclusão de candidatas negras e reflexão sobre racismo e coincidências

O que pensariam sobre a questão personalidades como Michelle Obama, Naomi Campbell, Margareth Menezes, Serena Williams e Oprah - fotos - ?




As supergatas representando os 20 clubes da Série A do futebol brasileiro foram selecionadas pelos "olheiros" do apresentador de TV Luciano Huck numa disputa pela internet, num misto de marketing com interação de torcidas. As jovens mulheres agora já devem estar desfilando qualidades calipígias e "sinus vulcanicus" no programa Caldeirão da TV Globo. O Correio da Lapa mostra de forma entremeada - é só correr o mouse pista baixo - as imagens das 20 candidatas em meio a outras matérias ao longo dos últimos três dias, sem comentário algum.


O comentário surge agora: não há negras entre as 20 escolhidas, e não porque não haja lindas candidatas negras, mas provavelmente porque há muitos olheiros caolhos e muitos internautas lobistas participando dessa espécie de concurso miss Brasil estilo tesão de arquibancada de futebol. Não se pode falar em padrão racista de avaliação, mas de mera coincidência. Quase não se vê mulher negra também nesses concursos de miss que pipocam pelas cidades das 27 unidades da Federação, fenômeno que recrudesceu no espetáculo pop mundo afora e, no Brasil, cresceu particularmente em parte graças ao brilho da Miss Brasil Natália Guimarães. E por não serem quase nunca vitoriosas nesses concursos, muitas vezes provalmente jovens negras nem se animem a se inscrever.

Não se trata de racismo de olheiros ou internautas interativos do Huck nem de jurados, mas de um certo ranço de racismo que persistira de forma inconsciente. E também se considere que as famílias negras estão menos plugadas na internet por estarem em boa parte com problemas de dinheiro ou na pobreza, o que, grosso modo, prejudicaria disputas de votação maciça via computador.

Mas, em plena era Barack Obama, essas coincidências denotam atrasos, marcas de uma cafonália nacional, com sua má vontade construtiva, sua incapacidade de enxergar o óbvio. Pois em 15 minutos é possível localizar 20 mulheres tão ou mais bonitas do que as 20 escolhidas para dar ibope a Luciano Huck, super simpático, mas também tão TV brega que já é cotado para substituir Faustão dentro de uns cinco anos. Luciano, o narigudinho, haverá de perdoar esse sarcasmo do Correio da Lapa, mas se a loucura não arrebata a razão nem turva a vista, pode-se estimar: o pacote das 20 mulhres tem, claro, pessoas bela, incluindo algumas mais moenas, mas não é lá essas coisas. Parece haver o trabalho de lobby virtual na seleção, problema que já se vira na escolha dos corpos dos nomes do último Big Brother do apresentador Pedro Bial.

O que pensariam sobre a questão personalidades negras como a tenista Serena Williams, a primeira-dama Michelle Obama, a apresentadora Oprah e a cantora baiana Margareth Menezes? A propósito de Margareth, há décadas se vê na Bahia um fenômeno semelhaente de exclusão da negritude. Aliás, esta cantora é exceção. As cantoras que fazem maior sucesso com axé e carnaval na Terra de São Salvador quase sempre são branquelinhas, e reconheça-se, adoráveis banquelinhas. Também mera coincidência. Na capital soteropolitana, a mais negra cidade brasileira, apelidada até de "Roma Negra", existe um histórico de racismo, que ficou mais evidenciado algumas décadas atrás nos chamados carnavais de clube, aqueles bailes brancos perdendo terreno diante da fase de "descoberta" da fantástica folia de rua com os trios elétricos.

Memória puxa memória, coincidência puxa coincidência. Lembro o poeta Jayme Ovalle ao entrar numa casa suspeita com lindas mulheres e muitos negros num bas fond carioca dos anos 30. Uma dançarina que o conhecia, exclamou: Mas Jayme, você aqui, um branco? E o poeta paraense respondeu mais ou menos assim: Mas, querida, não tenho culpa de ter nascido branco... Foi uma infelicidade, mas não tenho culpa, o que posso fazer?.

Os olheiros de Huck também não devem ter culpa, mera coincidência.

Por Alfredo Herkenhoff