quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Pré-sal, novas propagandas, velhas mentiras

O pré-sal é nosso *

A Rede Globo na noite de terça-feira afirmou que, segundo a Petrobras, o custo de extração do petróleo na Bacia de Campos é de pouco menos de nove dólares o barril, e que na Arábia Saudita, ouro preto abundante e perto da superfície, sai o barril por apenas dois dólares. A Globo ressalvou que aquele custo de quase nove dólares era de extração, não incluindo os gastos de pesquisas, perfurações fracassadas etc.

Pois eu já ouvi de gente de dentro do Edise (edifício-sede da Petrobras) que o custo de fato do barril no litoral de Campos gira entre 12 e 15 dólares, conforme os critérios de medição dos investimentos. E que, na altíssima chutologia para extrair petróleo a 7 mil metros de profundidade, o custo seria de talvez uns 35 dólares, um pouco menos, e talvez um pouco muito mais.

O presidente Lula já pegou um pouquinho do petróleo do pré-sal sim, para provar que é uma realidade. O mercado real, fora do Brasil, está arisco. O risco, ao contrário de zero como aqui propalado, é elevadíssimo. E falta tecnologia. Falta garantia. Falta compreender o futuro da matriz energética no mundo no médio prazo. Falta ouvir geólgos isentos, ouvir engenheiros isentos.

O óleo das profundezas, ao contrário do petróleo da Bacia de Campos, é puro, leve e de preço mais alto no mercado. Na verdade, este óleo melhor que a Petrobras está mostrando via mãos e cheirinho de Lula é apenas uma mostra, trata-se de um acaso geológico, um óleo do pré-sal que vazou para o pós-sal, esta a faixa que antecede a camada de dois quilômetros de sal. Ou seja, o Brasil já extrai o óleo leve do pré-sal por uma pequena circunstância do acaso. Este campo, onde há um trecho fácil de extrair graças ao acaso, deverá produzir, segundo a Petrobras, 1 bilhão de barris por volta de 2020. Iniciou produção no primeiro semestre e, em dois meses, tirou menos de dez mil ao dia na média.

A não ser que a Petrobras esteja escondendo o jogo, e na verdade não é estilo do PT esconder notícia boa, só a ruim, a grande reserva do pré-sal não é certamente para o curto prazo, havendo até dúvidas de que o seja para o médio prazo. É coisa para daqui a dez anos com otimismo, sem exagero. Talvez seja petróleo de longo prazo, mais de 20, longo prazo como tem sido o da espera da invenção da vacina da Aids, que todo mundo crê que será possível, mas que não existe, apesar de pesquisas desde 1981, ou quase 30 anos.

O Correio da Lapa, de olho na força do mercado, hoje tão execrado no Brasil por causa da crise mundial que eclodiu em setembro de 2008, compara a polêmica do pré-sal à construção da ferrovia para ampliar os seringais no extremo da Amazônia no início do século 20. A Madeira-Mamoré, a um custo de 5 mil vidas, ficou pronta quando o látex brasileiro já não tinha mercado diante do látex que os ingleses passaram a produzir mais barato na Ásia. Muito barulho para nada ou quase nada.

Fiquemos de olho no carro elétrico, com lançamento comercial já a partir de 2010 na Europa e Ásia, de olho nos etanóis, na energia eólica, solar e principalmente nuclear, entre outras.

A propaganda da Petrobras na TV brasileira é uma peça infantil, dizendo que existe um outro Brasil no pré-sal e que a produção da empresa neste nirvana negro vai dobrar rapidamente. É escandalosamente eleitoreira e enganosa.

Agora até o senador Romero Jucá, bem "municiado" pela Presidência e pela Petrobras, diz que o custo de produção do pré-sal vai ser de dez dólares o barril. Não diz ele que falta até tecnologia para simplesmente estabelecer o verdadeiro tamanho da reserva?

Tudo que vemos é papo de eleição 2010. A jazida do pré-sal talvez seja mesmo até bem maior do que a mais otimista das estimativas. Mas a urgência no pedido dos projetos de lei enviados ao Congresso, a facilidade com que se apregoa a redenção, o uso político e o nacionalismo renascido de modo eleitoreiro.... Tudo coisa velha.

E a grande mídia, também coisa velha, mal ousa questionar o governo e a Petrobras porque esta empresa está inundando os meios de comunicação com publicidade. O governo federal, idem. A oposição, sem informações de especialistas confiáveis, e temerosa dos efeitos eleitorais da descoberta do pré-sal, age com prudência, apenas denuncia o uso eleitoreiro. Na terça-feira, a Petrobras mostrou na TV até testes de tubulação sob pressão equivalente a profundidades de 5 mil metros. Que loucura. Não se tem nem ainda tecnologia para saber qual o material e diâmetro necessários para se chegar a 7 mil metros. Propaganda.

O Correio da Lapa, que não nutre nenhuma simpatia pela Oposição, apenas não fica indiferente às balelas em curso propaladas pelo esquema de propaganda com que Lula tenta eleger a ministra Dilma Rousseff na marra, na base do otimismo, nacionalismo e prestígio pessoal de presidente operário único.

* - Por Alfredo Herkenhoff