sexta-feira, 6 de março de 2009

DESABAFO DE CLAUDIO JORGE COM A MORTE

Alfredo, é foda.


É foda por tudo. Pela morte, com quem até hoje não cheguei a um acordo, principalmente porque ela não tem critérios. Pode vir aos 85, aos 64 ou aos 2 ou 15 anos.


É foda porque não é mole ser velho no Brasil civilizado, bem diferente do Japão ou das nossa tribos indígenas.


É foda porque não é mole ser "velho" e artista num país que tem o corpo aberto pra tudo que vem de outros povos e é rancorosamente reticente com os que se deliciam com as coisas daqui, colocando-se numa postura apática, sem vibração, sem combate, dizendo simplesmente que o mundo assim. Eu particularmente, acho que o mundo é o que a gente faz dele.


É foda ser "velho", artista e negro num país que finge que tá tudo bem entre os diferentes e o couro vai comendo dia após dia em mortes sucessivas, umas por conta de Deus, outras pelas mãos dos homens e outras ainda vitimas da indiferença do estado, das instituições, das pessoas.


É foda mermão. Me resta ficar triste por conta da Carmem, com quem tive a honra de trabalhar, por conta da família e por conta da minha amiga Zilmar que vem experimentando um processo de perdas há algum tempo. De uma certa forma, nossa tristeza e o nosso choro servem como estímulo pra gente ir em frente. Não há outro jeito. Essas coisas sempre nos dão um pouquinho mais de bronca de tudo e isso pode ser muito bom a longo prazo. Um beijo. Parabéns pelo texto.