segunda-feira, 28 de março de 2011
Cibele Dorsa, o suicídio da elegância
PRIMEIRO GRANDE CASO DE SUICÍDIO TREND TOPIC
Suicídio é um assunto raramente noticiado. Jornais evitam o tema em respeito ao constrangimento de parentes e amigos.
Suicídio, claro, pelo impacto que por vezes causa num cenário político ou econômico, é uma grande notícia, de Cleópatra a Getúlio Vargas.
Em vez de noticiar um caso de suicídio, o jornalismo, normalmente, só focaliza o tema por eventuais desdobramentos políticos e, em poucos casos, como uma questão que vai do social ao psicanalítico.
Não importam as poucas variações de cada caso de suicídio, jornais evitam o tema.
Mas nesses tempos digitais, sobressai o drama da atriz Cibele Dorsa porque em vez de mensagens discretas a pessoas próximas, ela se cercou de um adeus teatral, entre avisos para o mundo via ferramentas sociais, como o Twitter, e uma longa carta aberta.
Pelo insólito desta carta agressiva que a morta enviou para uma revista de celebridades, pelo insólito de um outro suicídio ter precedido à decisão desta mulher de tirar a própria vida - seu noivo se jogara da mesma varanda dois meses antes, pelo insólito de envolver personagens do grand monde, o ex-marido Doda e sua atual mulher, Athina Onassis, pelo fato deste cavaleiro manter os dois filhos da sua ex, uma menina e um garoto (e este nem tem o seu sangue – Cibele o teve de outro relacionamento), o caso ganhou uma dimensão dolorosamente midiática.
Num primeiro momento, tinha-se a impressão de um caso simples de suicídio: uma mulher desgostosa da vida por perder o noivo suicida derrotado pelas drogas. Mas com a extensa carta, Cibele mostrou que era movida também por sérios problemas emocionais que não tem a ver apenas com o primeiro suicídio. Ela se aproveitou do primeiro suicídio para cometer seu último delito teatral.
Belíssima, nunca vingou personagem forte no horário nobre da televisão. Terminou seus dias numa peça infantil, algo mais comum no início de uma carreira, não de uma mãe com 36 anos, sem os seus filhos. Terminou seus dias como uma pessoa louca de amor e raiva.
O mundo digital vai eternizar a sua estonteante beleza, misto de Cindy Crawford e Deborah Secco, não vai mostrar que a vida estava por lhe tirar esses atributos típicos ou obrigatórios da juventude.
Como o primeiro grande caso de suicídio da era digital, a morte de Cibele e suas mágoas reveladas estão propiciando um aluvião de comentários, em boa parte agressivos e preconceituosos.
A forma como a suicida ataca o ex, um atleta olímpico, que cuida de seus dois filhos, sendo que um não é de ambos, dói pela forma covarde como ela culpa Doda. Cibele lançou bases para deixar seus filhos adolescentes confusos. E até ao desejar sorte e felicidade para Athina, Cibele parece na verdade desejar o contrário. Parece que está lhe rogando praga, num misto de indiscrição, deselegância e até crueldade. A forma como a suicida pede que seja sepultada, com o seu caixão sobre o caixão do noivo doidão que se matou há dois meses, demonstra que a atriz encenou o último ato sem merecer aplausos.
Julgamento sim, inevitável: Cibele é o primeiro caso de suicídio trend topic. Mais do que Ismália do famoso poema, Cibele queria não apenas a lua do céu e a lua do mar, queria principalmente azucrinar as noites européias, as noites felizes do que restou de uma família separada ou recomposta.
Mais do que inconformada com a perda de noivo suicida, Cibele, com o suicídio e as mensagens agressivas, demonstrou inconformidade com a felicidade que fugiu da sua porta. Qual ladra do bom senso, ela preferiu buscar o teatro pela janela do erro visceral, pelo egoísmo e até mesmo pela inveja. E conseguiu: espalhou tristeza. Era digna de pena. Agora nem isso. Seu suicídio é nosso primeiro caso de reality show pos-mortem.
Que Deus se apiede desta alma nada gentil.
(Por Alfredo Herkenhoff, Rio de Janeiro, 28/03/2011 – Correio da Lapa)
Trechos da carta envida pela atriz à revista Caras
“Viver sem o Gilberto é pra mim uma sobrevida desumana. De todos os homens que passaram por mim quem me fez mais mal foi sem dúvida alguma, o Doda, pai da filha que nem mais contato pude ter, e quem mais me fez bem, em vida, foi o Gilberto. Viver sem meus dois filhos e sem o amor da minha vida me dilacera por inteiro, é como se eu estivesse acordada passando por uma cirurgia cardíaca, sinto meu coração sendo cortado, um bisturi elétrico que não para nunca. Não aguento mais chorar, quando não estou soluçando de tanto chorar, fico com lágrimas calmas mas, elas não cessa, nunca! Não aguento mais viver, ou melhor, sobreviver. A comida não desce, sinto um nó na garganta, estou ficando cada dia mais magra, sinto minha pele se descolando do meu corpo. (…) Minha cabeça não consegue pesar menos que 10 toneladas, eu não tenho mais paz, a cena da morte do meu amor me atropela constantemente, lembro do corpo do Gilberto no meio da rua mas, os olhos estavam abertos e eu achei que ele pudesse me ouvir… Falei muito com ele acho que ele deve ter ouvido mas, falei tarde demais. Eu disse que me casaria, que teria o filho, que ele não poderia morrer, molhei o rosto dele de tantas lágrimas e, nada de conseguir que ele se salvasse. (…) Estou sofrendo mais dor agora do que quando sofri o acidente de carro. Agora não tem morfina, não tem nada que acalme essa dor, nada que faça parar essa sensação de perfuração no meu peito. Ainda por cima, o Doda parece nunca cansar de me humilhar, ele não se satisfará nunca mesmo. É o pior homem que já conheci em minha vida, um lobo em pele de cordeiro.”
A sua família:
“Mãe, Carla, Tio, Pai e Bruna, Maciel e Dantino, Me perdoem… não deu, tentei por quase dois meses mas, a dor é infernal. Estou indo em paz e feliz de estar me retirando, não se preocupem, tenho certeza que Deus entende quem morre por amor. Não estou obssediada, estou muito ciente do que estou fazendo, minha vida se tornou uma mentira, e, vcs sabem, eu dempre optei pela verdade.”
Ao Doda:
“Doda, Que um dia Deus te perdoe pelo que vc fez e faz comigo, com a Athina e com as crianças, tente ser alguém melhor, tenho pena da Athina... essa nunca vai conhecer um homem de verdade, um amor. Eu sofro agora, no entanto, fui plenamente feliz ao lado do Gilberto, homem de verdade, que mostra a cara, que não menti, não dissimula, e, assim ele foi até o final. Ele pulou do prédio por vergonha de ter sido vencido pelas drogas…uma pena. Quem devia se matar não se mata…”
Aos seus dois filhos:
“Perdoem a mamãe, mas, a solidão é uma prisão terrível, é como se eu estivesse trancada dentro de mim mesma, estou cansada, sinto muito a falta de vcs mas, confesso que com o Gilberto aqui era mais fácil suportar, eu o amo muito, não sei nem como posso continuar… aqui em casa ficou frio, me sinto fora do meu corpo às vezes, e, isso me dá uma pausa na dor, só que depois volta em dose mais pesada. Faz algumas semanas que sinto uma leveza no corpo, como se eu estivesse já com um pouco de aus~encia do mundo terreno. (…) Amo vcs e estarei olhando vcs (…) meu sonho é encontrar o Gilberto em Aruanda e virar guia espiritual. Vivi, ainda vamos nos encontrar em outras vidas, munca te bandonei, seu pai fez um plano milionário para tirá=la de mim, não tive saída. Fe, idem… vou estar torcendo por vc no futebol, na realização de seus sonhos.. O inacabado, o interrompido tem que ter um fim.”
Para seu noivo Gilberto que cometeu suicidio antes dela:
“Meu amor Gilberto, Vou te encontrar esteja onde vc estiver, no plano espiritual tenho chances de te ver, a famosa esperança, aqui, não. Senti vc e ouvi sua voz inconfundível me pedindo o vídeo e já está no ar. Te amo meu amor, quero correr para os seus braços. Somo o Romeu e Julieta do mundo pos-moderno. Vamos continuar criando, quero ao seu lado dar aulas de teatro para crianças aí no plano espiritual. Vou cuidar delas como gostaria de ter cuidado da minha Vivi…Eu sempre te disse para não copiar autores famosos. Para criar e vc criou! Mas, eu te copio com o maior prazer… Vou tbm em frente com dois anéis até o fim, tu és foi…minha vertigem, meu oásis, minha eterna paixão.”
Para seu sepultamento:
“QUERO SER ENTERRADA NO MESMO JAZIGO DO Gilberto. Não usei nenhuma droga, apenas calmantes e o antietanol…Por favor, quero ser velada em São Paulo e enterrada no mesmo jazigo do Gilberto. Quero meu caixão em cima do dele.”
Fim